2007/06/18

Ass. contribuinte para as touradas de morte e de tantas outras coisas (2)

O que é Cultura ou não, não pode ser imposto por decreto. A Cultura é vivida pelos indivíduos, sozinhos ou em grupos mais ou menos numerosos, de forma mais ou menos organizada. A Cultura é o resultado acumulado de gerações e gerações, não pode ser definida ou limitada pelo pensamento dos governantes do momento.

Qualquer financiamento público à "cultura" implica (1) a definição do que é cultura (2) a prioritização das manifestações culturais. Como é possível que auto intitulados "cultos" aceitem ser definidos por "políticos"? Um desabafo... voltando ao ponto:

O Estado Socialista transformou a Cultura em Programa político cultural. É fácil confundir as coisas considerando a apreciação pessoal que fazemos de cada evento.

Sim, reprovo a tourada, como já tinha escrito aqui. Sim, a tourada de morte foi excluída do programa político cultural, embora seja indirectamente financiada. Sim, a tourada de morte é reprovada pela maioria da população. Agora, a verdade, e a razão de a tourada de morte continuar a existir, é que a tourada de morte faz parte da nossa cultura. Ponto.

Edited: O conflicto entre multiculturalismo e tradicionalismo fica para outras núpcias...

5 comentários:

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o fim dos subsídios culturais. Para lá da concorrência desleal que quaisquer subsídios estatais em quaisquer actividades económicas promovem, têm o grave inconveniente de serem obtidos à custa de quem não quer financiar esse tipo de actividades e de serem socialmente injustos, pois que quem beneficia da cultura são geralmente as classes mais favorecidas.

Quanto à questão dos touros de morte e do multiculturalismo: estou em crer que a maior parte dos defensores do fim das touradas está-se a marimbar para o multiculturalismo, seja o que isso for (ainda ninguém me explicou). Pelo menos, as pessoas que conheço que são defensoras dos direitos dos animais (estão todas na associação Animal) são tudo menos multiculturalistas. Eu também não sou. Seja o que isso for (ainda ninguém me explicou.:)

Ricardo G. Francisco disse...

JB,

Retirei a linha sobre multiculturalismo. Fica para o (4) deste artigo...

Abraço,

Ricardo

Anónimo disse...

Retirei a linha sobre multiculturalismo. Fica para o (4) deste artigo...

Caro Ricardo,

Fico com curiosidade. A meu espanto é sincero, não é uma crítica ou nada do género. A verdade é que nem os defensores nem os críticos do multiculturalismo conseguiram alguma vez explicar convenientemente o significado da palavra. Entende-se talvez por "multiculturalismo" a ideia de que o Estado não pode impôr o código moral de um particular grupo. Mas isso nada mais implica do que o velho princípio da neutralidade, que é um princípio básico e muito saudável do liberalismo.
Já se se entender que multiculturalismo implica aceitar tradições violadoras de direitos negativos (mutilação genital e coisas do género) é óbvio que tem de ser fortemente criticado. Mas, no nosso país, não vejo ninguém a defender a admissibilidade da mutilação genital. É por isso que não vejo grande espaço para se dizer que existe uma coisa chamada multiculturalismo. Nem me lembro ver alguém da esquerda portuguesa a defender algo do género. Há, isso sim, uma tolerância excessiva em relação aos graffiti que, no meu dicionário, constituem crime de dano sempre que sejam feitos em propriedade privada. Nisso sou muito intolerante.:)

Um abraço, Zé

Ricardo G. Francisco disse...

JB,

É a segunda de que falo. E o exemplo da mutilação genital é dado como exemplo de onde esse tipo de multi-culturalismo pode chegar.

De qualquer forma, neste peguei na discussão nos comentários sobre o que é ou deixa de ser cultura. E ninguem pegou na minha contradição/provocação deste post.

Podemos relativizar as coisas com limites. E os limites devem ser pelo menos os direitos negativos. Tambem se aplica à cultura.

Acredito sinceramente que a questão a sério por detrás deste tema são os direitos dos animais. E por mais que seja sensível ao sofrimento animal não consigo conceder direitos negativos a animais. MAs isso é o ponto (3).

Anónimo disse...

Acredito sinceramente que a questão a sério por detrás deste tema são os direitos dos animais. E por mais que seja sensível ao sofrimento animal não consigo conceder direitos negativos a animais. MAs isso é o ponto (3).

Caro Ricardo,

Proteger os animais de práticas cruéis e desnecessárias não implica logica nem juridicamente conceder direitos aos animais. Acho, aliás, que esse é um cenário futurista muito implausível, uma vez que mais de 90% da população mundial come carne e não pensa mudar de hábitos alimentares. Há, é claro, pessoas que defendem os direitos dos animais. Qual é o problema? Acho que estão errados, mas não acho a agenda particularmente perigosa. Como tudo na vida, é necessário haver radicais que berrem alto para que se consiga o "pouco" que é justo e necessário.

Quanto ao multiculturalismo, não penso que seja uma ameaça minimamente séria. Há um double-standard na extrema-esquerda em relação a certas práticas próprias de culturas subdesenvolvidas. Compara-se, por exemplo, os maus tratos que resultam homicídio nos países como Portugal ou Espanha com os crimes de honra nos países islâmicos. O último a quem ouvi essa afirmação foi o Daniel Oliveira no Eixo do Mal. Ora, como é evidente, muito diferente é uma cultura em que o homicídio da mulher pelo marido é um acto criminoso que dá pena de 8 a 16 anos (se o crime não for qualificado) de uma cultura em que o crime de honra não é penalizado e, mais, é culturalmente aceite como fazendo parte de um sistema social retrógrado e iníquo. Mas isto não é multiculturalismo; das duas uma: ou é falta de inteligência ou má fé.

Um abraço, Zé