Há condições mínimas para a convivência, num mesmo espaço, com reaccionários do calibre do André Azevedo Alves (e não digo isto como “insulto”, como “arremesso”, mas como mera “constatação”, percebam isso antes de mandar emails). Aceites que estão - obviamente - a sua presença (aliás, prévia à minha) e a sua liberdade de expressão total neste blogue, de vez em quando é necessário lembrar que não só não se partilha o que quer que seja daquele furor patrulhador contra tudo o que possa pôr em causa a tradição milenar da santa madre igreja e contra quem defende tolerância para com a diferença, como se acham certas atitudes simplesmemente asquerosas. Leram bem: asquerosas. Nojentas, execráveis, mesmo de puxar o vómito.
Tiago Mendes.
Não imagino o sofrimento e o incómodo por que passará o Tiago Mendes para debelar os seus instintos primordiais, as náuseas e o nojo, e mesmo assim continua forte e vigoroso escrevendo de rédea solta no blogue da revista Atlântico. A causa que o move deverá ser muito forte para fazer tão grandes sacrifícios e o forçar a trocar linhas de HTML com tão nefastas companhias como o
André Azevedo Alves. Imagino que seja só até recorrendo a fármacos (felizmente de venda livre) que conseguirá debelar esses impulsos gastro-intestinas e seguir o rumo da causa do pluralismo (não-absoluto), da liberdade (não-absoluta) de expressão e do liberalismo de tipo B.
Afinal, desde o início da participação do Tiago Mendes no referido blog, pudemos assistir ao mais graves sacrifícios em prol das boas causas, mesmo que esses sacrifícios fossem o ter de criticar violentamente colegas da
casa, ou até mesmo o responsável pelo convite para nela escrever. Ou simplesmente ter umas crises e mandar as forças de bloqueio
procriar.
O problema é que o abuso dos medicamentos de venda livre, mesmo tendo em conta o seu acesso livre, não está isento de efeitos secundários, que vão surgindo aqui e ali a perturbar o discernimento e o normal funcionamento das faculdades humanas. Vai daí, um diálogo e troca de impressões que recorria ao tal de "pluralismo" (mesmo que não-absoluto), descambou subitamente num perder de cabeça. As críticas racionais de argumentos foram substituídas por falácias básicas de ataque
ad hominem e de vitimização pessoal. Em linhas de argumentação tão elevadas como as que se podem reconhecer no artigo ligado, do género "segura-te, garboso arauto do liberalismo tipo B, messias da boa palavra e dos limites óbvios e de bom senso, dos não-absolutos e do bom sentido", "segura-te que o ultra-neo-extrema-direitérrimo-fascistóide ultramontano é poderoso e tem um pacto com o demónio do Liberalismo-Absoluto, que ainda convoca as forças do Sauron sobre ti"; "mas eu sei que sendo tu corajoso e magnânime como te conhecemos tu vais querer avançar em frente".
Espremidinho tudo o que se pode ler, é mais ou menos isto que se pode ver. Além do assumir que "é preciso condições e mínimos de convivência", mas que aparentemente se pode conviver bem com a sua violação. Não percebi bem como é que a coisa ficou. Se os limites foram violados, ou afinal continua tudo um
happy bunch.
Quanto ao visado em concreto, o AAA, não tenho muito a dizer. Foi alguém que sempre me lembro de ver do outro lado da barricada em causas muito concretas, mas que aprendi a compreender como alguém com quem se pode partilhar um projecto liberal, mesmo assente nessas diferenças. Alguém que, para além de sempre ter visto comportar-se com a lisura e educação que o próprio Tiago Mendes lhe reconhece, não me lembro de ver furtar-se a discutir abertamente todas as questões mesmo que em relação a elas tivesse as opiniões mais antagónicas, e que no processo acumulou o estilo ponderado e educado com honestidade intelectual, pluralismo e liberdade de expressão. Não me lembro de ver ninguém queixar-se de ver um comentário ou critica que fosse apagado ou convenientemente ignorado, mesmo que este fosse acutilante a por em causa a sua linha de argumentação e os seus erros ou fragilidades argumentativas. Já o mesmo não se pode dizer de outros, concretamente até no caso dos comentários do artigo que tanto o vilipendia.
Ou de ver agredir e insultar e depois esconder a mão, com ressalvas de que "era no bom sentido" ou "não era com essa intenção". Ou de que não era “insulto” ou “arremesso”, mas "mera “constatação”"
De resto, é tanta a falta de pluralismo e de gosto pela liberdade de expressão do André que até eu e o Carlos, conhecidos ultra-neo-extrema-direitérrimo-fascistóides ultramontanos que até nem nunca tinham acumulado divergências nas caixas de comentários d'O Insurgente e mesmo em artigos nesta casa, acabámos por ser convidados a nele escrever e lá a termos a liberdade de continuarmos a dizer de nossa justiça, mesmo com a noção da grande discordância intelectual dos restantes membros do blog em relação a alguns temas. Tudo num clima mais do que salutar de convivência, de respeito de e tolerância, mas sempre dispostos a dizer o que achávamos que tinha que ser dito.
É assim. A liberdade de expressão e o pluralismo, mesmo debaixo de um "guarda-chuva" liberal fazem-se com este género de actos, e não com conversa que,
when the going gets tough, se vê onde vai parar.