Pseudo-Responsabilidade
Pergunto-me que liberdade de decisão tem alguém que acaba de ingressar numa faculdade e se encontra num ambiente desconhecido perante tal escolha. Ainda mais quando lhe é dito que a sua decisão em recusar a praxe terá como consequência a comparência num tribunal, onde se poderá decidir todo o tipo de consequências arbitrárias contra ele.Pergunto-me que liberdade de decisão tem alguém que decide assinar um contrato de crédito bancário e se encontra num ambiente desconhecido perante tal escolha.
Filipe Melo Sousa
Pergunto-me que liberdade de decisão tem alguém que quer comprar o seu primeiro carro e se encontra num ambiente desconhecido perante tal escolha.
Pergunto-me que liberdade de decisão tem alguém que decide trabalhar e assinar o seu primeiro contrato de trabalho e se encontra num ambiente desconhecido perante tal escolha.
Pergunto-me que liberdade de decisão tem alguém que acaba de constituir família e se encontra num ambiente desconhecido perante tal escolha.
Pergunto-me que liberdade de decisão tem alguém que acaba de ir a tribunal e se encontra num ambiente desconhecido perante tal escolha.
Os alunos universitários são pessoas grandinhas. São (na generalidade) maiores e gozam praticamente de todos os seus direitos cívicos, bem como das respectivas obrigações, e não são um grupo de inimputáveis sociais. São pessoas que o estado presume serem capazes de tomar as suas decisões pessoais e de por elas se responsabilizarem, desde assinarem contratos até a tomarem decisões ao nível do exercício das suas liberdades pessoais. Ainda mais, em termos liberais, deverão ter a plena liberdade de o fazer e de acarretar as suas consequências.
Os "tribunais" que o Filipe refere têm a autoridade que os visados por este lhe queiram conferir. Em termos coercivos mandatórios, nenhuma.
Aqueles que, como o Filipe, optem por não se integrar na praxe, têm bom remédio: dizer que o não querem fazer. Se se sentirem ou forem efectivamente coagidos, têm enquadramentos criminais que já permitem actualmente fazer a plena defesa da sua liberdade, e que vão desde o crime de sequestro até à injúria, difamação e/ou ofensas corporais. O problema é que a generalidade dos "bravos" que se revoltam contra a praxe são os primeiros a demonstrar cobardia quando toca a defender a sua liberdade.
A generalidade dos crimes que referi são crimes privados, e como tal dependem de queixa. Mexam-se então os ofendidos para zelar pelos seus interesses, não fiquem à espera que venha o paizinho estado para continuar a ser a ama seca de adultos barbados e no pleno exercício da sua cidadania.
Naturalmente não podem esperar é não ser ostracizados por decreto. Ou que mereçam o respeito dos demais quando muitas vezes proclamam o horror à praxe mas rapidamente descobrem a cartola e as fitas quando chega a altura de levar o papá e a mamã ao desfile de finalistas na Queima das Fitas. As decisões, como qualquer liberal presumo que aceitará, acarretam consequência que não são necessáriamente positivas e/ou simpáticas para quem as toma.
É assim que se luta pela Liberdade. Tomando essas decisões, fazendo valer os pontos de vista e agindo em conformidade, e tendo o estofo e a coragem para arcar com as consequências.