2007/05/28

Foi Você quem pediu este Cartaz?



Iguais a mim tal como o cartaz indica contraponho desde já que não são, existem umas diferenças notórias que não vou referir. Vejo duas raparigas agarradas a trocar fluidos num gesto de ternura. Esteticamente não tenho nada contra. Só recordo o facto de que este cartaz foi financiado com dinheiros públicos, para os quais eu contribuí coercivamente. Estranha moralidade esta em que a moral é financiada pelas pessoas a quem ela é incutida.

Alguém encomendou portanto a tolerância para com duas raparigas atraentes agarradas uma à outra. Quem financiou este cartaz tem de certeza uma visão distorcida do país em que nos encontramos. É estratégia dos progressistas descrever um cenário catastrófico, alegar uma intolerância lastimosa da sociedade, de tal forma que é urgente uma intervenção do estado sobre os cidadãos irresponsáveis e irracionais, que não sabem escolher as pessoas com quem se querem relacionar. Mas intervir porquê? Afinal, será que alguém se pode sentir prejudicado por não fazer parte do círculo de contactos de outra pessoa, mesmo que o desinteresse do outro seja irracional? Não deixa de ser uma decisão soberana. Que me digam no entanto em que sítio de Lisboa estas duas miúdas iam sofrer o repúdio. Faremos parte do mesmo mundo? Dou o exemplo da SmartTV que me deixou promocionalmente um canal (que também não encomendei, com a diferença que este não pago) onde precisamente este produto (casais femininos) tem precisamente muita saída. Constato que é uma imagem que tem muita saída junto do nosso público. Nem do ponto de vista progressista consigo entender porque é necessário apoio estatal a uma imagem tão em voga, e solicitada pela nossa sociedade.

É uma crença muito em voga achar que o progresso deve ser incentivado pelo estado. Esquecem-se no entanto as pessoas que defendem esta tese que para se promover o progresso, isso pressupõe a imposição aos demais de uma elite dirigente "iluminada", que ensine à população leiga aquilo que se deve moralmente entender por progresso. Pois o próprio conceito de progresso é algo com significado diferente para diferentes pessoas. É um conceito relativo à pessoa que o deseja, ou a um determinado parâmetro que alguém deseja ver evoluir. Se eu for realmente liberal, não tenho portanto o direito de o impor moralmente aos outros o meu conceito de progressão. Nem é uma visão liberal querer que o estado promova o progresso. Promover o progresso por via do estado, é voltar a aceitar o obscurantismo, e reduzir o povo à insignificância e obediência moral de líderes carismáticos. E cada vez mais revela-se conceito segundo o qual os progressistas de hoje serão os conservadores de amanhã. Uma vez imposta a sua moral, agarrar-se-ão a ela com unhas e dentes, e não querem abrir mão da sua conquista.

Quem se considere liberal não vai de certeza consentir num estado que dê lições de moral, nem aceita que lhe tirem dinheiro dos impostos para que seja ensinado o que deve ser a tolerância e uma sociedade plural. Repare-se na assimetria moral que este modo de agir pressupõe: um cidadão que não é preconceituoso, nem pretende impedir a livre expressão de uma minoria vê-lhe retirado o seu dinheiro dos impostos para fazer propaganda que não solicitou, e cujo retorno para si é nulo. Essa campanha servirá para promover a aceitação de pessoas que eventualmente lhe são estranhas, e cujos problemas pouco lhe dizem. Um homem que apenas gostaria de ver o homem livre do outro homem, continua preso a uma elite que entende melhor do que ele e lhe dita o que é o progresso, vivendo agarrado aos preconceitos dos outros, pagando assim a factura de algo que não causou.

25 comentários:

kota disse...

Eu não.
Este cartaz é pura mariquice política, ao contrário da mensagem que quer transmitir.
A ideia que a homossexualidade é puro sexo está neste cartaz evidenciada. É uma ideia triste.
Quando você refere que não deve contribuir porque não tem retorno individual, não está a pensar em termos colectivos como elemento pertencente a esta sociedade. Se formos ver assim a coisa, eu só devia começar a descontar para a segurança social quando fosse ao médico, ou então quando me reformar, porque só nessa altura é que vou ter retorno pessoal.
As coisas não podem ser vistas assim, e Portugal não é só Lisboa, nem um qualquer bairro ou rua.

As eleições servem precisamente para este tipo de coisas. Ao votarmos estamos a manifestar o interesse de uma maioria de cidadãos, se são poucos esse é outro problema que devia ser resolvido com a obrigatoriedade do voto. Isto é muito fácil apresentar queixas quando não nos chegamos à frente para tomar partido e lutarmos por algo.
Os modelos de moral sempre foram impostos quer pela igreja quer pelo estado, sinceramente entre um e outro venha o diabo e escolha.

Já agora onde é que existem Homens livres, estamos sempre presos a algo, a verdadeira liberdade é uma utopia.
Melhores dias viram, espero eu.

Pedro disse...

Excelente texto, com o qual estou inteiramente de acordo.
Acrescento uma questão: por que carga de água os nossos impostos têm de financiar cartazes feitos pelos jotinhas da JS, com o logotipo da JS, com a remissão ao site deles, ou seja pura propaganda para eles? Desde quando é legal financiarmos campanhas partidárias identificadas?

Anónimo disse...

Este cartaz é da JS. Não foi portanto, ao que creio, financiado pelo Estado. Não vejo em que é que o Filipe se baseia para dizer que este cartaz foi financiado com dinheiros públicos.

Luís Lavoura

Filipe Melo Sousa disse...

Luís, eu depois envio-te por e-mail o relatório de contas do PS.

SMP disse...

Não vejo em que é que o Filipe se baseia para dizer que este cartaz foi financiado com dinheiros públicos.

LL: terá sido aqui?

Artigo 2.º
Fontes de financiamento

As fontes de financiamento da actividade dos partidos políticos compreendem as suas receitas próprias e outras provenientes de financiamento privado e de subvenções públicas.

JLP disse...

Filipe,

Acho que a questão é mais lata, e passa pela questão do financiamento dos partidos políticos. Neste caso, apesar de haver a coincidência da campanha ser da juventude partidária do partido que apoia o governo, esta campanha não foi feita pelo estado, e foi tão somente englobada na actividade política do partido.

Além disso, regista-se a "coragem" da JS em fazer o outdoor com duas mulheres (o que teria acontecido se fossem dois homens?), envolvidas num beijo na face menos libidinoso do que muitos que já vi entre padres.

Quanto à questão do liberalismo e do "progressismo", acho que a distinção é clara (apesar de ser tão difícil de compreender por alguns): o liberalismo tão somente sustenta que se retire a "pata" do estado (quer em termos de favorecimentos quer de detracção) das relações entre os indivíduos e do exercício das suas liberdades indivíduais, e que se dê a todos a oportunidade de tomarem as suas decisões (boas ou más). O "progressismo" acha-se dono da receita para a felicidade, a justiça e para o que "está certo", e põe mãos à obra para implementar o que falta e cristalizar o que já está feito.

Afinal, este "progressismo" até nem é assim nada de tão original. Já existe há muito tempo e chama-se socialismo.

Anónimo disse...

Concordo com o JLP: não se pode confundir uma questão lata (o financiamento dos partidos políticos) com uma questão específica (uma campanha em particular feita por um partido político).

Caso contrário, o Filipe pôr aqui um post sobre cada campanha que cada partido faz (por exemplo, a campanha da JSD com o camelo...), exprimindo o seu repúdio por o Estado estar a financiar essa campanha.

O Estado financia os partidos políticos que recebem muitos votos. Esses partidos promovem depois com esse dinheiro as campanhas que quiserem. O Estado não pode ser co-responsabilizado pelo conteúdo dessas campanhas.

Luís Lavoura

Filipe Melo Sousa disse...

é também uma questão de lata.

- Constato dinheiros públicos gastos a promover causas estranhas

- Constato partidos a promover causas estranhas, como é o facto de o estado promover a aceitação de um determinado grupo.

Nuno D. Mendes disse...

Filipe,

1. É efectivamente um escândalo a quantidade de dinheiro pûblico que se gastou nos últimos dois séculos a promover as causas estranhas a uma boa parte dos cidadãos como a do fim da escravatura, do sufrágio universal, ou dos direitos das mulheres. Isso de estarmos a tentar construir um melhor mundo para todos não passa de paternalismo da pior espécie, porque pressupõe que existe um método objectivo para avaliar a bondade dos mundos. Não havendo esse método, não há razão nenhuma para termos acabado com a escravatura, com o apartheid, etc.

2. Uma vez que todos os partidos recebem financiamento público, e cada um promove o seu programa político particular, o teu post deveria ser contra o financiamento público dos partidos e não contra a mensagem veiculada pela JS.

Filipe Melo Sousa disse...

Nuno, estás a tecer um paralelo entre direitos positivos e direitos negativos, colocando-os ao mesmo nível. O que está aqui em causa não é a defesa de um indivíduo contra a acção agressiva de outro, nem a discriminação imposta pelo estado.

O que estás aqui a fazer é passar uma mensagem moralizadora, que é perfeitamente dispensável, pois cada um terá os seus juízos de valor sobre as pessoas com quem se quer relacionar.

Quanto àquilo que me oponho, são tanto o financiamento público dos partidos, como o teor do cartaz. Eu não concebo um estado (governado precisamente por quem afixou este cartaz) que me dê lições de moral, e ainda por cima à custa dos meus impostos.

JB disse...

1) Que o cartaz seja, em parte, financiado por dinheiros públicos não me choca particularmente, a partir do momento em que também os cartazes do PP sobre o aborto são financiados, em parte, com dinheiros públicos. Como o financiamento vai tanto para progressistas como conservadores, o princípio da igualdade é respeitado. Em suma, trata-se de um "non-issue", tendo em conta o facto de vivermos num Estado Social (cfr. ponto 3 deste comentário).

2)Seria diferente se o cartaz tivesse sido promovido por um serviço de Estado: aí concordaria em absoluto com o Filipe. Como não foi, não vejo razão para qualquer indignação. Não é o Estado que está a dar lições de moral, mas sim uma juventude partidária.

2) Os partidos não devem ser financiados pelo Estado, ponto final.

Anónimo disse...

Concordo em absoluto com os pontos 1) e 2) do comentário anterior, de jb.

Discordo do ponto 3). Não que eu aprecie que os partidos sejam parcialmente financiados pelo Estado, o que é obviamente uma má solução, mas considero que a solução alternativa, de o Estado não financiar de todo em todo os partidos, é ainda pior. Porque isso inviabilizaria de facto muitos partidos e correntes de opinião menores, e porque faria com que na ribalta política apenas estivessem as pessoas muito ricas.

Luís Lavoura

SMP disse...

Não que eu aprecie que os partidos sejam parcialmente financiados pelo Estado, o que é obviamente uma má solução, mas considero que a solução alternativa, de o Estado não financiar de todo em todo os partidos, é ainda pior.

Esta frase é bizantina. A apreciação como «má» de uma solução sós e compreende se se conhecer uma melhor solução ou se, pelo menos, se tiver esperança que esta exista, ainda que se reconheça não se ter imaginação suficiente para a alcançar. Mas esta segunda hipótese implica uma miríade de soluções possíveis. Ora, neste caso, temos apenas duas soluções a esgotar o espaço lógico do problema: p (os partidos são financiados pelo Estado, total ou parcialmente) e ~p(os partidos não são financiados pelo Estado). Se diz que ~p é uma má solução, é estranho que qualifique da mesma forma p.

Porque isso inviabilizaria de facto muitos partidos e correntes de opinião menores, e porque faria com que na ribalta política apenas estivessem as pessoas muito ricas.

Porquê? Dá muito pouco crédito à sociedade civil. Os partidos e correntes de opinião «menores» receberiam daquela o apoio que a representatividade das suas causas justificasse. Caso não viessem a receber nenhum, é porque se calhar não faziam falta. A diversidade de opiniões per se não é um bem jurídico.

Anónimo disse...

Nao e' verdade que o cartaz tenha duas raparigas a "trocar fluidos" num gesto de "ternura". Esta' uma delas, sem troca de fluidos, a dar um beijo na cara a outra, no que se interpreta ser um acto de "desejo", que e' diferente de ternura.

O preocupante e' que FMS nao pareca distinguir duas coisas: o financiamento partidario e o que cada partido faz com o dinheiro que tem. Que o FMS seja contra o financiamento partidario, enfim, entende-se. (Eu nao sou absolutamente contra, acho que, se for necessario ou contribuir de forma consideravel para uma comunidade politica mais pujante, e' aceitavel "algum" apoio.) Mas com que pergaminhos liberais e' que FMS desejaria "moldar" a agenda dos partidos? Ou o FMS acha que defender impostos mais baixos, ou opor-se ao aborto, sao coisas "neutrais"? Em que planeta e' que o Filipe vive? Quer politica sem opcoes normativas? E como e' que aceita opcoes normativas, se isso ira' sempre contra as ideias de alguem? Favoravel que sou a algum financiamento partidario, so' posso aceitar que o CDS, como o PCP, defendam as causas que bem entendam. Nao sei se o Filipe valoriza a "pluralidade politica" e a existencia de uma comunidade politica, se calhar nao. Mas se for anarquista, convem dize-lo de forma clara.

"Quem financiou este cartaz tem de certeza uma visão distorcida do país em que nos encontramos."

O Filipe queria o que? Que o cartaz seguisse a "sua" visao? Quem e' que determina o que e' uma visao "distorcida"? Os partidos devem ou nao ter LIBERDADE para defender o que bem entendam, quer tenham dinheiros publicos ou nao? Uma coisa e' o ESTADO promover certa moral. Outra coisa sao os partidos politicos defenderem certas ideias. Chama-se a isso fazer politica, sabe? Politica na Terra, nao no Ceu nem em Marte.

"Que me digam no entanto em que sítio de Lisboa estas duas miúdas iam sofrer o repúdio. Faremos parte do mesmo mundo?"

O que e' que isto tem que ver com a liberdade politica de um partido defender as ideias que entender? Por detras do que o Filipe esta', como qualquer pessoa com dois olhos na cara ve, o fundamentalismo de querer reger o que uns dizem, e a favor de uma suposta "absoluta" neutralidade.

"É uma crença muito em voga achar que o progresso deve ser incentivado pelo estado. Esquecem-se no entanto as pessoas que defendem esta tese que para se promover o progresso, isso pressupõe a imposição aos demais de uma elite dirigente "iluminada", que ensine à população leiga aquilo que se deve moralmente entender por progresso."

Nao e' bem assim, Filipe. Nao ha' "imposicao", ha' "discussao" de ideias. Sabe o que e' pluralidade politica? Onde e' que o cartaz impoe alguma coisa a quem quer que seja?

"Pois o próprio conceito de progresso é algo com significado diferente para diferentes pessoas."

O Filipe quer uma sociedade onde todos sejam iguais? So' se nos tornarmos robots, mas e' provavel que o esquema mental do Filipe seja esse mesmo - o conhecido "algoritmo liberal", perdao "algoritmo anarquista libertario".

"É um conceito relativo à pessoa que o deseja, ou a um determinado parâmetro que alguém deseja ver evoluir. Se eu for realmente liberal, não tenho portanto o direito de o impor moralmente aos outros o meu conceito de progressão."

Ah, tinha de ver o "realmente" (liberal)... Parece-me que se o Filipe considerar Isaiah Berlin, enfim, "realmente liberal", entrara' em contradicao. Ninguem esta' a impor moralmente o que quer que seja. Trata-se de um cartaz politico, de partipacao politica, que e' tambem participacao civica. Nao se trata de legislar.

"Quem se considere liberal não vai de certeza consentir num estado que dê lições de moral, nem aceita que lhe tirem dinheiro dos impostos para que seja ensinado o que deve ser a tolerância e uma sociedade plural."

La' esta' o Filipe a confundir tudo. O Estado nao impos nada. Financiou? E' certo. A partir dai, cada um faz o que quer, a nao ser que o Filipe queira uma nova PIDE para controlar o que cada partido ou pessoa diz. Se e' isso, faca la' uns posts a lembrar as virtudes de Salazar.

Em suma, caro Filipe, e' dificil ler isto e nao achar que o Filipe ainda agora chegou a este blogue e ja' esta' de olho numa contratacao blogosferica que lhe de outra projeccao. Um pouco triste, ha' que dize-lo.

Anónimo disse...

não escreva "raparigas"; escreva "fufas"

Anónimo disse...

não escreva mais nada.
escreva que o estão a enrabar com o $ dos seus e meus impostos.
se o seu cú for mealheiro, esteja calado.

Anónimo disse...

Escuso-me a comentar a mensagem "político-ideológica" do texto porque o PML já o fez no blogue Atlântico. Assino, também, os comentários aqui deixados pelo TM e pelo NDM (deve ser do apelido eheh).

"Um homem que apenas gostaria de ver o homem livre do outro homem, continua preso a uma elite que entende melhor do que ele e lhe dita o que é o progresso, vivendo agarrado aos preconceitos dos outros, pagando assim a factura de algo que não causou."

É poesia? Ou o Filipe, com aquela história de "um homem que apenas gostaria de ver o homem livre do outro homem", apenas está a partilhar com os demais o quão deseja o namorado do amigo?

Anónimo disse...

Um ultimo comentario, tambem para se perceber que nao ha' nada de pessoal no que escrevo antes. Apenas constato a estranheza de alguem que, pelo menos em parte, simpatizou ate' ha' bem pouco tempo com a corrente do liberalismo social e agora demonstra uma aversao absoluta relativamente ao financiamento do que pode ser crucial para a manutencao de uma comunidade politica e da pluralidade partidaria. Mais: de alguem que mostra, verdadeiramente, uma certa raiva contra quem luta por essa coisa tao simples que da' pelo nome de tolerancia. Ou o Filipe e', de facto, um anarquista libertario com um toquezinho de conservadorismo moral, que esteve no armario ate' agora, ou esta' mais proximo do liberalismo social mas rsolveu agora apresentar provas para o campeonato do Grande Liberal. De outro modo, as posicoes publicas - e' so' disso que se trata: de ideias publicamente partilhadas, nao de pessoas - parecem tudo menos consistentes. E convem lembrar que o tom com que se escrevem certas coisas (como o tom deste post, em tom de verdadeira guerra santa) tambem conta muito.

Bruno Gouveia Gonçalves disse...

Creio que o Tiago faz comentários muito pertinentes, mas tendo a concordar com o comentário simples do JB (que o Tiago desenvolve), excepto no terceiro ponto.

Embora seja um pouco "alérgico" a um financiamento estatal, não excluo uma determinada contribuição estatal aos partidos políticos, para evitar certos problemas. É certo que existem meios de evitar essas consequências, mas enfim, não existe uma solução perfeita neste caso.

Pedro Delgado Alves disse...

Com o devido respeito, Filipe Melo Sousa não percebeu quase nada do que está em causa.

Em primeiro lugar, a luta contra a discriminação não visa obrigar ninguém a relacionar-se com quem não quer. Visa sim impedir o tratamento diferenciado de cidadãos e cidadãs portadores dos mesmos direitos e dotados da mesma igualdade perante a lei.

Em segundo lugar, o cenário não é catastrófico aos olhos de Filipe Melo Sousa porque Filipe Melo Sousa não vive na pele a discriminação provocada pelo facto de se ter um orientação sexual específica e porque não se terá informado do que significa viver na sociedade portuguesa assumindo abertamente a sua sexualidade.

Em terceiro lugar, o cartaz em causa, apesar de financiado indirectamente por fundos públicos (o financiamento dos partidos é parcialmente público, decorrendo o financiamento da Juventude Socialista dos fundos que lhe são alocados pelo Partido Socialista), não se insere numa campanha de uma instituição pública, mas sim a defesa de um programa político (no caso, o da Juventude Socialista, sufragado democraticamente em Congresso realizado em Julho do ano passado). Contudo, isto não significa que as instituições públicas não tenham precisamente o dever de promover a não discriminação e assegurar o respeito por todos e todas. Ou será que Filipe Melo Sousa também discorda de inicativas como a campanha Todos Diferentes, Todos Iguais?

Em quarto lugar, o contrato social que nos rege, a Constituição da República, é o local onde vamos retirar os valores fundamentais da nossa comunidade política. Caso Filipe Melo Sousa o desconheça, desde 2004 que o artigo 13.º da dita Constituição assinala expressamente a proibição da discriminação em função da orientação sexual.

Em quinto lugar, a pobre da "população leiga" já terá experimentado outras imposições de concepções de progresso "iluminadas" como o sufrágio universal, a recusa do racismo e da xenofobia, a proibição da discriminação das mulheres, entre outras. Que me recorde, acolheu-as no seu código de valores e não se sentiu violentada.

Finalmente, já que são tantas as referências ao liberalismo como padrão de actuação, recomendo dois exemplos de leituras alternativas do conceito: o manifesto dos Liberal Democrats britânicos para a comunidade LGBT e parte do site do Aliança dos Democratas e Liberais para a Europa, relativa a esta matéria. Afinal, parece que liberalismo e promoção da não discriminação e dos direitos das pessoas LGBT não são incompatíveis.

JFFR disse...

Eu tenho uma pergunta: porque é que para se provar que se é liberal é preciso dar provas de que se é "politicamente incorrecto"? Pois parece haver um concurso entre os liberais para ver quem é o campeão da luta contra o "politicamente correcto" (nunca antes da blogosfera se ouviu tanto esta expressão, dá que pensar).

Este post do Filipe Melo Sousa não é mais do que mais uma manifestação dessa tendência. Porque alguns auto-proclamados liberais elegeram a homossexualidade como uma das frentes do "politicamente correcto". Para quem é homossexual e enfrenta diariamente uma realidade absurda (sentir na pele a extrema boçalidade da população), ouvir isto certamente causa incredulidade. Os direitos dos homossexuais não são uma causa politicamente correcta, antes pelo contrário.

O Filipe, com a promoção recente na galáxia liberal, tem agora que provar que é dos genuínos.
É como aqueles árbitros acusados de serem de x clube que, para refutarem tais suspeitas, vão no momento seguinte favorecer o clube y. Que pena.

Não resisto só a sublinhar uma pergunta do texto do Filipe:

"Que me digam no entanto em que sítio de Lisboa estas duas miúdas iam sofrer o repúdio."

Em toda a parte. (tive que ler três vezes para acreditar que estava perguntar isto)

Anónimo disse...

SMP,

nunca ouviu aquela frase, atribuída a Churchill, que "a democracia é um mau sistema político, só que todos os outros são ainda piores"?

Eu penso o mesmo do financiamento (parcial) dos partidos pelo Estado: é uma má solução, só que a alternativa - o não-financiamento dos partidos pelo Estado - é ainda pior.

E, sim, SMP: não tenho muita confiança na sociedade civil. Pelo menos cá em Portugal. E, em geral, em todos os países exceto nos anglo-saxónicos, os quais têm um sistema antropológico muito peculiar, que favorece a disponibilidade das pessoas para doar dinheiro às mais diversas causas.

Luís Lavoura

Miguel Duarte disse...

Luís,

Só tenho uma pena no financiamento dos partidos políticos, é que ele não beneficia as forças mais pequenas, muito pelo contrário. Exclui-as do sistema, pois estas têm o financiamento muito controlado e não recebem nada do Estado (só recebes dinheiro se tiveres mais de 50.000 votos ou elegeres alguém).

Unknown disse...

Caro Tiago,

Independentemente da liberdade que os partidos têm para conceber a sua agenda política, as opções que defendem estão sempre sujeitas a uma crítica por parte do público. Opinei a este nível, como opiniei a nível do princípio do financiamento dos partidos. Não significa que não considere os dois como críticas à parte. Pelo contrário: critico de uma parte algo que considero uma opção legítima – mas criticável. E por outro lado, critico a imposição ilegítima.

Deste modo, um cartaz de campanha não é de todo inocente, pois vincula um partido (que de facto já está no governo) na sua actuação governativa, contudo legítima. O PS propõe-se como partido combater a homofobia (neologismo com teor pejorativo). Ou seja, um determinado grupo de cidadãos é claramente escolhido, em detrimento dos outros, para promover a sua visibilidade e aceitação social. Impõe-se uma visão moral àquela que o cidadão já terá (boa ou má) em relação a este grupo. Não se trata assim de uma mera opção normativa, é mais do que isso uma intromissão no espectro moral de cada um. Não se discute um mero aspecto de justiça, mas sim um precedente discriminatório, quando deveria precisamente ser neutro, se é que chama a si o conceito de justiça. Um partido quer-se neste caso parcial, nada contra, pois a soma de todos representarão no parlamento o interesse da nação.

Quanto ao financiamento: critico o princípio de financiamento coercivo. Os que defendem este financiamento alegam que para contornar um “mal” que será o envolvimento dos mercados na política, dever-se-á corrigir esse aspecto com um mecanismo que penaliza o contribuinte. Pergunto-me qual o valor acrescentado da verba injectada para as campanhas eleitorais. O cidadão necessita realmente de publicidade em larga escala para decidir o seu voto? De que modo é que essa verba beneficia a sociedade, e que partidos em particular? É que a imposição reside precisamente na colecta coerciva para atingir certos propósitos morais. Não é de todo a mensagem que me incomoda, mas sim o facto de lá estar paga por mim, quando não a encomendei. É como se tivesse a minha caixa de spam cheia, e tivesse de pagar 0,10 € por cada mensagem não solicitada. Não percebo como se pode dizer que não existe uma imposição.

Anónimo disse...

Ora, tanta conversa e elas nem sequer estão em pelota e corpo inteiro! Mais vale comprar uma revista porno!