2008/03/17

E assim se ganham eleições

O governo PS – Sócrates conseguiu fazer pelo menos uma coisa com sucesso. Conseguiu mostrar as vantagens e benefícios que os trabalhadores ligados ao estado possuem, dependendo da corporação a que pertencem. Vantagens por comparação com a vida no sector privado, o mesmo que paga as contas do público. Os eleitores que não têm estas benesses vêm o governo “reformador” como o domador da besta. Por isso é que uma manifestação de 100.000 de uma corporação cujos direitos e benefícios têm sido atingidos em vez de tirar votos e apoios dá no final mais força ao governo. No final até pode dar o dito por não dito e deixar parte ou a totalidade das benesses, mas isto será feito em silêncio, de forma a capitalizar dos dois lados da barricada que criou.

Este governo aprendeu a lidar com as corporações. Atinge-as na reputação, torna-as alvos enfraquecidos perante uma opinião pública que quer sacrifícios. As corporações são os novos “capitalistas”. O inimigo do povo que tem que ser combatido. Por isso é que uma manifestação dá mais votos que tira. O povo vê a corporação a chorar. É porque o governo está a fazer o trabalho duro e a enfrentar a besta… e batem palmas.

As corporações se quiserem sobreviver como instituições respeitadas têm de aprender a lidar com este governo. Mostrar que querem defender para quem existem e não os seus membros, em especial os piores. Mostrar que estão dispostos a prescindir de benefícios, mostrar que, por exemplo, querem ser avaliados. Tomar a iniciativa. Depois, dentro da máquina da mudança estarão em posição privilegiada para encravar a engrenagem. No final deixar tudo na mesma ou ainda mais favorável para a classe ou corporação. No final não há ilusões, as corporações monopolistas e estatais existem mesmo para proteger os piores e a classe como um todo.

Enquanto não mudarmos de sistema com base corporativa e laivos marxistas, o que podemos esperar é esta utilização da impressão e da opinião pública para criar consensos sobre a utilização do dinheiro tirado à força pelo estado aos cidadãos. Enquanto o estado não tiver o seu poder severamente limitado, com funções claras e limitadas, seremos sujeitos ao jogo da impressão e da sugestão como meio de distribuição de benesses a uns ou a outros. Do retirar de benesses de uns ou de outros, como caminho para a vitória para as próximas eleições. Fraca democracia a que temos e que só podemos esperar que um dia mude, em vez de morrer.

Nota:

1. O sistema de avaliação tal como está montado de nada vale. Carga burocrática inexequível e sem significado. A única avaliação que vale é a externa. A solução de consenso, corporativa e endógena, burocrática ao extremo é uma piada. Maior piada é o facto dos professores não terem usado esta mensagem simples. Passaram, talvez porque é assim mesmo que a corporação é, por mais uns beneficiados atingidos e ofendidos na sua “dignidade profissional” que apenas eles têm direito.

4 comentários:

Quercus disse...

Ricardo, a lógica apresentada parece correcta. Acredito que os votos que o PS perde com os professores vá arrancar a outros descontentes que batem palmas ao governo por ter "braço de ferro" e não se deixar abater por manifestações de rua e outras que tais. No entanto não percebo uma coisa. Se não for o estado a regular e a fiscalizar as avaliações quem será?
Repara que não falo sobre as consequências politicas nem na avaliação propriamente dita, mas em quem deve "controlar" o processo.

Quercus disse...

Ricardo, a lógica apresentada parece correcta. Acredito que os votos que o PS perde com os professores vá arrancar a outros descontentes que batem palmas ao governo por ter "braço de ferro" e não se deixar abater por manifestações de rua e outras que tais. No entanto não percebo uma coisa. Se não for o estado a regular e a fiscalizar as avaliações quem será?
Repara que não falo sobre as consequências politicas nem na avaliação propriamente dita, mas em quem deve "controlar" o processo.

Ricardo G. Francisco disse...

Filipe,

O João Miranda dá uma achega. Estou a escrever uma proposta para ter dar uma resposta.

Entretanto food for thought: Por que é que tem de ser o governo? Porque não fazes a pergunta ao contrário?

Quercus disse...

Porque tem de ser uma instituição responsável e imparcial com condições e autoridade para o fazer, se bem que não é bem isso que podemos esperar de instituições publicas na pratica, deveria ser isso o alcançado na teoria. Mas ai o que está mal não ´
é a estrutura do estado mas o seu funcionamento. Assim, não consigo pensar em ninguém melhor que o estado para o fazer.
Isto claro enquanto a educação for publica e/ou financiada por dinheiros publicos.