2007/11/28

Moralidade...

O meu avô foi internado de urgência no Hospital Curry Cabral, esse símbolo do SNS.

Tudo o que aconteceu desde que o meu avô deu entrada nessa pérola do SNS fez-me lembrar esta posta do Hugo Mendes. Enquanto via o pessoal hospitalar a tratar os internados como cães, lembrei-me de que neste sistema não temos direito a exigir qualidade. Perdemos esse direito quando prescindimos a liberdade básica de escolha. O agente do Estado tem o indivíduo na mão. O indivíduo tem de se submeter, isto se quiser sequer ter a oportunidade de ser tratado minimamente. "É melhor não dizeres nada porque o teu avô depende da boa vontade destas pessoas". "Estas pessoas" são os agentes do estado na saúde, não têm outro nome. Eles sabem que são os Senhores e que os indivíduos fora da máquina são um inconveniente necessário.

A superioridade moral do socialismo é uma mentira usada para submeter o indivíduo. Não há moralidade na submissão, na eliminação de opções, na eliminação da liberdade individual, na submissão à força. Essa ideia vendida é apenas um meio para a aceitação da submissão de cada um à tirania de uns poucos, os gestores do "colectivo". Não existe "colectivo", existem apenas escolhas colectivizadas e geridas centralmente pelos "iluminados", os donos dos indivíduos que prescindiram das suas opções e da sua liberdade.

PS: Acho menos piada à defesa moral do SNS quando vejo os menos defensores a usarem de privilégios de conhecimentos dentro da máquina pública para obter tratamento diferenciado.

17 comentários:

Anónimo disse...

"O agente do Estado tem o indivíduo na mão."

Ora essa! Porquê? O indivíduo tem sempre a clinica ao lado, onde concerteza, sendo a privada muito melhor e mais eficiente, o indivíduo será melhor tratado. O estado não obriga ninguém a usufuir dos seus serviços de saúde.

Ricardo, a "superioridade moral do socialismo", nas suas palavras (eu suponho que se refira ao SNS), não é a perfeição. É dar mais oportunidades a quem não pode pagar a privada. Se não gosta do "socialismo", experimente não o ter.

De resto, é verdade que o SNS tem muitos defeitos. Também eu já os senti, pessoalmente, ou através de familiares.

R. Faria

Ricardo G. Francisco disse...

"O indivíduo tem sempre a clinica ao lado, onde concerteza, sendo a privada muito melhor e mais eficiente, o indivíduo será melhor tratado. O estado não obriga ninguém a usufuir dos seus serviços de saúde."

Tem razão. Mas limita muitíssimo tanto do lado da procura, ao cobrar à cabeça os custos de saúde, e do lado da oferta ao regular até à exaustão o sector.




"Se não gosta do "socialismo", experimente não o ter."

E como? Imigrando? Acredite que se não o faço não é por falta de vontade.

Anónimo disse...

Ricardo, tome um conselho: não emigre para nenhum país sem "socialismo" na saúde (isto é, sem sistema público de saúde)

Ou faça-o, e aí vai saber o que é o custo real, comercial (não o resultante de impostos e taxas moderadoras) da saúde.

R. Faria

Anónimo disse...

"É melhor não dizeres nada porque o teu avô depende da boa vontade destas pessoas."
O problema implícito nesta frase não tem a ver com o facto de o hospital ser público ou privado: numa situação de extrema vulnerabilidade não queremos "ferir a susceptibilidade" dos srs. doutores. Porque mesmo num hospital privado dependemos deles e, tratando-se de uma situação de extrema vulnerabilidade, não faz sentido pensar em "mudar para a concorrência". Até porque fazem parte de uma classe que se auto-protege.

Ricardo G. Francisco disse...

Caro anónimo,

A diferença de tratamento existe. Porquê? Porque uma reclamação funciona. Porque no privado, embora exista esse corporativismo instituido, ele é mitigado pela lei da concorrência e pela escolha explícita. E mais e mais grave. Os mesmos profissionais tratam as pessoas de forma diferente dependendo onde estão a trabalhar. Dependendo se estão no hospital público ou na clínica o paciente é ou fonte de trabalho ou fonte de receita.

Hugo Mendes disse...

Caro Ricardo, desculpe, mas o que apetece dizer é que vá exigir "qualidade" à seguradora que não gosta do seu perfil de risco e que fará tudo para evitar o tratamento a qualquer pessoa, se este for caro. Quanto à liberdade de escolha, vá bater à porta da seguradora ao lado, é capaz de ter uma resposta muito diferente :).

E quando chegar a um hospital que lhe fecha as portas porque não tem contrato com a sua seguradora, mesmo que esteja a necessitar de tratamento urgente, talvez experimente o que a "liberdade de escolha" quer dizer neste casos.

Cumprimentos,
Hugo

MANUEL HENRIQUES disse...

A sua posta é oportuna. Todos nós já passámos por esse escândalo que é o SNS.

A dedicação dos trabalhadores é fraca. A desresponsabilização total.
De facto quando vou a um Hospital privado sinto-me mais acarinhado.

Outro dia, no Hospital de Faro, fez-me especíe ao ver ansia dos zelosos Funcionários públicos da saúde a largarem o seu posto segundos depois do fim do turno.

De facto o seu amigo tem razão""É melhor não dizeres nada porque o teu avô depende da boa vontade destas pessoas".

Anónimo disse...

Melhor servido no privado que no público? Devem estar a gozar comigo. Deviam ver o trabalhinho que os gloriosamente liberais dentistas fizeram com um dente meu. E de vez em quando é ver os doentes dos hospitais privados a serem transportados com urgência para os públicos. Ó meus amigos, essa coisa dos clientes serem bem tratados pelos comerciantes tem muito que se lhe diga. Só quem não frequenta o comércio. Os nossos liberais, desculpem que lhes diga, às vezes são de uma candura impressionante. Boas pessoas, é o que eles são.

R. Faria

Ricardo G. Francisco disse...

Caros Hugo e R. Faria,

Estes liberais apenas pedem a escolha de estar (contribuindo e/ou usufruindo) no SNS.

Estes liberais não querem que indivíduos sejam forçados a estar nesse sistema (contribuindo e/ou usufruindo).

De facto entendo que a perda de liberdade de escolhas, além de ser má em si, leva a que o resultado do serviço prestado seja tambem pior. Mas mesmo que o resultado fosse melhor...preferia a liberdade individual. Porque estamos a falar de moralidade socialista, se quisermos falar de utilidade, tambem o podemos fazer.

Anónimo disse...

Sim, Ricardo. Eu acho que o Ricardo deveria deixar de pagar impostos, para poder ter liberdade de escolha, nomeadamente para poder aceder ao privado. Força. Eu apoio isso. Eu acho que deveriamos todos deixar de pagar impostos. Só assim poderiamos ser todos internados, não nos privados portugueses, mas no John Hopkins Hospital, por exemplo. Isso sim, é verdadeiramente liberdade de escolha, olarilas.

R. Faria

Ricardo G. Francisco disse...

Caro r. Faria,

Humor à parte. Defenderia o direito de outros não estarem no sistema?

Eu defenderia o seu direito de escolher estar ou não no sistema...

E é aqui que está a superioridade moral libertária. Não querer ser dono e senhor da vida alheia.

Anónimo disse...

Ricardo, humor à parte (eu juro que estou a ser sincero), eu defendo o direito de todos se tratarem no melhor hospital do mundo, saindo do "sistema", como você diz (há séculos que não ouvia essa do "sistema"). E é por isso que agradeço que continue a lutar pelo meu direito a sair do sistema. Eu preciso mesmo de ir fazer um implante dentário a uma certa clinica de Estocolmo.

R. Faria

p.s. volto a dizer que não estou a brincar

Ricardo G. Francisco disse...

Caro Rui F.,

A brincar ou não, não responde à minha pergunta. Defende ou não o deireito de cada indivíduo estar dentro ou fora do sistema público. O direito de escolha de contribuição e de usufruto.

Anónimo disse...

Defendo sim.

Sabe, Ricardo, esta série de comentários faz-me lembrar aquele diálogo famoso da Vida de Brian, dos Monthy Python, em que um dos tipos exigia que lhe reconhecessem o direito a dar à luz.

Ricardo, claro que defendo o direito de cada indivíduo estar dentro ou fora do sistema público e o seu direito de contribuição e de usufruto.

R. Faria

What next?

Hugo Mendes disse...

Caro Ricardo,

Escreveu:
"Defenderia o direito de outros não estarem no sistema?
Eu defenderia o seu direito de escolher estar ou não no sistema...
E é aqui que está a superioridade moral libertária. Não querer ser dono e senhor da vida alheia."

Não se viu o "Sicko", mas ser "dono da vida alheia" é contribuir para um sistema para que as pessoas não sejam corridas dos hospitais porque acabou o dinheiro para pagar os cuidados intensivos, ou não chegarem a ser admitidas porque o hospital a que foram nao está coberto pelo seguro que escolheram ou foi imposto pela entidade empregadora (como resultado, a criança que a mãe transportava para a urgencia morreu a meio do caminho; so musch for freedom of choice).

O que o Ricardo chama não ser "dono da vida alheia" eu chamo total e completo indiferença e elogio implícito de situações que podiam, num sistema decente, deviam configurar crime por decisão de não ajudar quando se tem responsabilidade.
Devo concluir, sem demagogia, que a consequência da sua moral pode ser descrita assim: "que morram ou vivam quotidianamente atormentados por doenças crónicas por falta de dinheiro, mas por favor não me venham pedir para impedir isto através dos meus impostos. Eu, no fundo, mão tenho nada a ver com isso, e não tenho nenhuma responsabilidade em contribuir para evitá-lo".
Se os egoísmo e a indiferença forem os critérios a partir dos quais mede a superioridade de uma moral, então a libertária é seguramente superior. Cada um escolhe os seus critérios.

Para responder lateralmente à sua pergunta: pagar impostos é um critério de civilização. Os países mais pobres do mundo, onde os níveis de vida são o que são, são o paraíso do libertário; lá ninguém está preocupado em ser "dono da vida" dos que morrem com SIDA ou à fome; são terras cheias de virtude.
Já os países ricos, com todos os os direitos existentes, exigem dinheiro, e isto significa impostos. É que a liberdade, independentemente de como a quiser definir, custa dinheiro (a começar pelos custos com polícia).

Cumprimentos
Hugo

Ricardo G. Francisco disse...

Hugo,

Acredite ou não tambem sou Rawlsiano. Acredito em uma rede social. O que existe hoje não é uma rede social que segura as situações extremas. O que existe hoje é um sistema de segurança social que consome mais do que 40% do custo do trabalho. Um sistema colectivista absurdo que só pode elvar ao seu próprio colapso. Exigirá sempre mais, mais e mais até que será reduzido a uma pequena parte.

Não tenho dúvida que os países mais ricos são os que têm estados mais eficazes a cobrar impostos. Tambem não tenho dúvidas que os países mais colectivizados são os mais pobres do mundo.

Olhe para tendÊncias e veja como a redução do peso do estado em Estados com instituições fortes e respeito pelas liberdades negativas pode funcioanr como catapulta de criação de riqueza (Irlanda e Nova ZelÂndia). Olhe para o que o aumento do estado está a fazer aos EUA.

Têndencias...

Hugo Mendes disse...

Ricardo,

"Acredite ou não tambem sou Rawlsiano. Acredito em uma rede social. O que existe hoje não é uma rede social que segura as situações extremas"

Isto não tem nada de Rawlsiano, qualquer "liberal não-libertário" defende a existencia de uma rede social que "segura as situações extremas", seja lá o que isso for.

"Um sistema colectivista absurdo que só pode elvar ao seu próprio colapso."

Esse argumento, na sua versão moderna, tem pelo menos 150 anos. O colapso está a demorar um bocado. Os sistemas colectivistas absurdos que tinham que colapsar já colapsaram.

"Olhe para tendÊncias e veja como a redução do peso do estado em Estados com instituições fortes e respeito pelas liberdades negativas pode funcioanr como catapulta de criação de riqueza (Irlanda e Nova ZelÂndia)."

A Irlanda é uma em vários sentido uma excepção, sem esquecer que 20% do PIB que é registado não fica no país e que continua a ser dos países com mais pobreza na Europa. Resta saber se o modelo funcionaria noutros locais, dado que não há mais ilhas que sejam satélite, com as respectivas vantagens culturais e financeiras, do Reino Unido.

"Olhe para o que o aumento do estado está a fazer aos EUA."

O Estado na sua versão militar, é isso que quer dizer?