Escravidão II
Numa economia monetarizada os bens e serviços já não são trocados no mercado. São antes substituídos por uma unidade de medida comum, a moeda, que por si pode ser trocada por bens e serviços. Pouco muda, a pessoa continua a trocar horas de trabalho a produzir um certo bem para ter outro. Mas quando uma entidade força pessoas a trabalhar metade do seu tempo para produzir um bem ou serviço que não queriam produzir, já não lhe chamam escravatura: chamam-lhe contrato social.
17 comentários:
Mas essa é uma escolha de cada um. Todos os que não concordarem com o sistema são livres de optar por trocar bens entre si, não pagando dessa forma imposto. O sistema funciona assim porque todos, e cada um, colaboram.
Errado. A circulação monetária é imposta por lei. Experimenta tentar abrir uma loja de troca directa ou onde só aceites batatas como meio de pagamento
Isso é verdade, mas só no caso de teres uma loja, ou uma sociedade comercial.
Nada te impede de fazeres bolos em tua casa, e os trocares por detergente com os teus conhecidos, ou mesmo de por um cartaz à tua porta.
Não podes é estar legalizado como estabelecimento comercial.
Nunca trocaste cromos quando eras miúdo? E 5 cromos por rebuçados? E gelado por batata frita? Ninguém te impediu.
"Nada te impede de fazeres bolos em tua casa, e os trocares por detergente com os teus conhecidos, ou mesmo de por um cartaz à tua porta."
Não me parece que isso seja verdade...
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"sso é verdade, mas só no caso de teres uma loja, ou uma sociedade comercial.
Nada te impede de fazeres bolos em tua casa, e os trocares por detergente com os teus conhecidos, ou mesmo de por um cartaz à tua porta.
Não podes é estar legalizado como estabelecimento comercial."
Acho que os indivíduos da ASAE iam gostar muito de fazer uma visitinha...
Já para não falar das finanças.
Podem fazer, não é ilegal. Se eu tiver um vizinho electricista, e me resolver um problema electrico em casa, e eu o convidar para jantar como compensação, o que põe ele na factura? Um frango assado, 3 batatas, vinho tinto (2 copos) e baba de camelo? Não cabe na factura... E quanto dá isto em IVA?
Meu caro, nada o proíbe. Economia doméstica (prosumer) é 100% legal.
Snowball, experimenta abrir um restaurante ao público em que te paguem em sapatos. Não podes ter um estabelecimento comercial aberto em que te paguem em sapatos. Aliás, nem sequer podes abrir um que te paguem em moeda legal sem autorização do estado...
Mas em tua casa podes fazê-lo.
Até podes criar uma comunidade (fechada) onde se faça isso.
É sempre possível votar com os pés. É sempre possível ir viver para países fiscalmente mais competitivos. É até possível comprar ilhas desertas e fundar comunidades com as suas próprias regras (fiscais ou outras).
A analogia não colhe. Só colheria se se fizesse algo que os liberais detestam: confundir a liberdade de facto com a liberdade teórica. Poder-se-ia dizer o cidadão embora, em abstracto, livre de ir viver para uma ilha deserta, não teria, em concreto essa liberdade, porque nada tornaria essa alternativa minimamente atraente. Se os liberais rejeitam este tipo de argumentação para outras coisas, também tem de a rejeitar para esta.
O consentimento, quer se queira, quer não, afasta o suposto roubo. Ninguém vai para a rua protestar contra a taxa de 21% de IVA. Se calhar, devíamos.
Outra analogia que me parece errada:
Incorrecta é a conclusão de que alguém preferiria ser escravizado a ser vítima de um furto. Pode acontecer num ou noutro caso, mas a regra será a de que as pessoas preferem ser vítimas de furto. Por razões óbvias: a liberdade é um bem mais precioso, pelo que as pessoas estão menos dispostas a abdicar da mesma.
Por outro lado, nos casos habituais de escravatura há perda da liberdade e perda (parcial) da propriedade. No furto só há perda da propriedade. Também por aí a analogia falha.
Mas o CGP não acha que deve existir Estado? Converteu-se ao anarquismo?
Eu julgava que o CGP era um liberal clássico, que achava que deve existir Estado, que este deve ter algumas funções mais ou menos bem definidas, e que deve cobrar impostos para pagar essas funções.
Afinal parece que não, parece que o CGP é contra todos e quaisquer impostos.
LL
"Se os liberais rejeitam este tipo de argumentação para outras coisas, também tem de a rejeitar para esta."
Devo dizer-te que raramente vi liberais a rejeitarem esses argumentos. Pelo contrário, vejo esse tipo de argumentos utilizados constantemente. O que tende a tornar qualquer discussão infrutífera. Não é difícil encontrar exemplos...
Aliás, usei esses argumentos por pura "carolice".
Acho que a pertença a uma sociedade não é uma escolha. Mas a nossa acção dentro da sociedade é uma escolha.
E, de facto, "O consentimento, quer se queira, quer não, afasta o suposto roubo. Ninguém vai para a rua protestar contra a taxa de 21% de IVA." Nem pela existência de impostos.
Provavelmente porque quase todos os consideram correctos, e os que não consideram aceitam a pressão social. E aceitar a pressão social, é também aceitar o contrato social.
Aliás, nem sequer vi ninguém na rua, ou num blogue, a defender o direito a não pertencer a uma sociedade. Pertencer à sociedade é fixe. Chato é ter de pagar impostos.
Afinal, qual a coerência de questionar uma clausula do dito contrato, e não o contrato como um todo?
JB, a mobilidade entre estados não existe. Podes ir viver para Espanha mas não podes ser cidadão espanhol de um dia para outro. E se isso vier a ser possível será dentro de um estado ainda maior que é a união europeia, com regras próprias. Todos os territórios descobertos pertencem a um qualquer estado. Ninguém consegue fundar um novo salvo se usar a força.
PS: Experimenta dizer a um magrebino que pode escolher o estado a que pertence...
Luís Lavoura,
penso que me percebeste mal. Eu julgo que o indivíduo deve ter a capacidade de optar a que sociedade quer pertencer. Não sendo isso possível ao nível de estados, o estado a que pertence deverá impôr o mínimo de restrições possiveis ao individuo porque todas as restrições que impõe são ilegítimas.
Por exemplo, se em Portugal houvesse uma regionalização na qual fossem dadas às regiões 99% dos poderes atribuídos ao estado central actualmente, aceitaria como legítimas quaisquer imposições dos novos estados regionais. Isto porque, neste caso, teria mobilidade perfeita entre estados, podendo abandonar um se não gostasse do contrato social a que estaria sujeito.
JB, a mobilidade entre estados não existe. Podes ir viver para Espanha mas não podes ser cidadão espanhol de um dia para outro. E se isso vier a ser possível será dentro de um estado ainda maior que é a união europeia, com regras próprias. Todos os territórios descobertos pertencem a um qualquer estado. Ninguém consegue fundar um novo salvo se usar a força.
PS: Experimenta dizer a um magrebino que pode escolher o estado a que pertence...
Caro Carlos,
Lembra-te onde começámos a conversa. Nos impostos. Podes imigrar para países fiscalmente mais competitivos. Claro que isso depende também da vontade deles. Mas isso é uma limitação perfeitamente aceitável. Oferta e procura. Também há um mercado da imigração. Se ninguém te aceita é porque o teu valor como imigrante não é grande coisa. É tão só isto que é necessário dizer para provar de que quem por cá fica é porque quer. E se quer ficar também tem de pagar impostos. Pode é começar por convencer outros de que os impostos devem baixar. Fazer manifestações, fundar partidos, etc...
Não vejo ninguém a fazer isso.
"Todos os territórios descobertos pertencem a um qualquer estado. Ninguém consegue fundar um novo salvo se usar a força."
Tens, em termos teóricos, o mesmo problema com o Estado que eu tenho com a propriedade. Já tudo tem proprietário... (note-se que eu até sou meio liberal...)
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