2007/02/09

A lêr... depois do referendo

Será fácil imaginar o que aconteceria se, a meio de um jogo de futebol entre duas grandes equipas, uma pessoa se dirigisse às claques tentando explicar todos os fenómenos sociológicos e económicos envolvidos naquele jogo e no desporto em geral, as consequências laterais do resultado final, os objectivos pessoais de cada um dos jogadores, o facto do último golo ter sido ilegal... Provavelmente seria ignorado. Se insistisse muito em ser ouvido, as consequências seriam bem piores. Para as claques, a meio do jogo só interessa a contagem de golos. Há um inimigo a abater, e todos os que não gritam como eles, estão certamente contra eles.
Nesta campanha, o João Miranda e o Pedro Arroja, por sadismo ou puro espírito provocador, fizeram o papel dessa pessoa. As claques reagiram como se esperava (e os dois lá beneficiaram de não poder haver contacto físico na blogosfera).

A lêr... depois do referendo.

5 comentários:

Anónimo disse...

Não foi por sadismo nem por espírito provocador.

É porque, como todos os analistas de sondagens têm dito, para que o Não vença é essencial que muita gente do Sim se abstenha. O Não não tem hipóteses de vencer diretamente, mas apenas por desmobilização do Sim.

O João Miranda e o Pedro Arroja, que são adeptos, embora inconfessados, do Não, apostaram em lançar a confusão como forma de desmobilizar os adeptos do Sim e de os levar à abstenção.

Trata-se de uma estratégia de campanha racional. Em vez de defenderem diretamente o Não, tentam que alguns adeptos do Sim se sintam confundidos, enganados, ou inseguros, e decidam abster-se.

Luís Lavoura

Anónimo disse...

Aliás, o Pedro Arroja exemplificou claramente essa estratégia através do seu próprio caso. Disse que era a favor do aborto e que teria todo o gosto em votar Sim, mas que, por este motivo e por outro que ninguém compreende, se iria abster. Ao fim e ao cabo, convidou os adeptos do Sim a seguirem-lhe o exemplo. O discurso implícito dele foi:

"Camarada! Se és adepto do Sim, como eu, mas não estás perfeita e totalmente satisfeito com aquilo que te é oferecido, faz como eu: abstem-te!"

É um discurso inteligente da parte de um adepto inconfessado do Não. Joga na desmobilização do adversário.

Luís Lavoura

Carlos Guimarães Pinto disse...

Luís, eu penso que ambos são a favor da despenalização do aborto, em especial o Pedro Arroja, como se pode verificar por este artigo de 1997 http://alfa.ist.utl.pt/%7Emcasquil/text/opi/o_PArroja.html
Ambos preferiram fazer abstracções teóricas paralelas, o que foi visto pelas claques como fazendo campanha pelo outro lado.

Anónimo disse...

Nesta campanha, o João Miranda e o Pedro Arroja, por sadismo ou puro espírito provocador, fizeram o papel dessa pessoa. As claques reagiram como se esperava (e os dois lá beneficiaram de não poder haver contacto físico na blogosfera). - Carlos

Carlos, acho que não percebeste nada do que esteve em causa nas discussões do Blasfémias. Talvez por não teres participado nas mesmas.

Anónimo disse...

Ambos preferiram fazer abstracções teóricas paralelas, o que foi visto pelas claques como fazendo campanha pelo outro lado. - Carlos

Pois...:)