A lêr... depois do referendo
Será fácil imaginar o que aconteceria se, a meio de um jogo de futebol entre duas grandes equipas, uma pessoa se dirigisse às claques tentando explicar todos os fenómenos sociológicos e económicos envolvidos naquele jogo e no desporto em geral, as consequências laterais do resultado final, os objectivos pessoais de cada um dos jogadores, o facto do último golo ter sido ilegal... Provavelmente seria ignorado. Se insistisse muito em ser ouvido, as consequências seriam bem piores. Para as claques, a meio do jogo só interessa a contagem de golos. Há um inimigo a abater, e todos os que não gritam como eles, estão certamente contra eles.
Nesta campanha, o João Miranda e o Pedro Arroja, por sadismo ou puro espírito provocador, fizeram o papel dessa pessoa. As claques reagiram como se esperava (e os dois lá beneficiaram de não poder haver contacto físico na blogosfera).
A lêr... depois do referendo.
5 comentários:
Não foi por sadismo nem por espírito provocador.
É porque, como todos os analistas de sondagens têm dito, para que o Não vença é essencial que muita gente do Sim se abstenha. O Não não tem hipóteses de vencer diretamente, mas apenas por desmobilização do Sim.
O João Miranda e o Pedro Arroja, que são adeptos, embora inconfessados, do Não, apostaram em lançar a confusão como forma de desmobilizar os adeptos do Sim e de os levar à abstenção.
Trata-se de uma estratégia de campanha racional. Em vez de defenderem diretamente o Não, tentam que alguns adeptos do Sim se sintam confundidos, enganados, ou inseguros, e decidam abster-se.
Luís Lavoura
Aliás, o Pedro Arroja exemplificou claramente essa estratégia através do seu próprio caso. Disse que era a favor do aborto e que teria todo o gosto em votar Sim, mas que, por este motivo e por outro que ninguém compreende, se iria abster. Ao fim e ao cabo, convidou os adeptos do Sim a seguirem-lhe o exemplo. O discurso implícito dele foi:
"Camarada! Se és adepto do Sim, como eu, mas não estás perfeita e totalmente satisfeito com aquilo que te é oferecido, faz como eu: abstem-te!"
É um discurso inteligente da parte de um adepto inconfessado do Não. Joga na desmobilização do adversário.
Luís Lavoura
Luís, eu penso que ambos são a favor da despenalização do aborto, em especial o Pedro Arroja, como se pode verificar por este artigo de 1997 http://alfa.ist.utl.pt/%7Emcasquil/text/opi/o_PArroja.html
Ambos preferiram fazer abstracções teóricas paralelas, o que foi visto pelas claques como fazendo campanha pelo outro lado.
Nesta campanha, o João Miranda e o Pedro Arroja, por sadismo ou puro espírito provocador, fizeram o papel dessa pessoa. As claques reagiram como se esperava (e os dois lá beneficiaram de não poder haver contacto físico na blogosfera). - Carlos
Carlos, acho que não percebeste nada do que esteve em causa nas discussões do Blasfémias. Talvez por não teres participado nas mesmas.
Ambos preferiram fazer abstracções teóricas paralelas, o que foi visto pelas claques como fazendo campanha pelo outro lado. - Carlos
Pois...:)
Enviar um comentário