À atenção do Luís Lavoura
Hoje há inúmeras empresas de cobranças a actuar no mercado, algumas de dimensão considerável, que normalmente trabalham para grandes empresas ou instituições financeiras, e outras mais pequenas, que normalmente se dedicam à cobranças de dívidas entre particulares. A abordagem dos dois tipos de empresas tem gerado queixas, que no primeiro caso inclui muita pressão psicológica e, especialmente nas mais pequenas, chega a incluir ameaças e violência física.Demitindo-se o estado das suas obrigações de zelar por um Estado de Direito, que inclui o fazer por cumprir a lei também no que toca às dívidas (maiores ou menores), de uma coisa se pode ter a certeza: demitindo-se este da sua função, ocupa-se o mercado de resolver o problema.
O novo cobrador do fraque actua fundamentalmente via telefone e carta, com mensagens muito pouco simpáticas, muitas vezes para vizinhos, familiares e até entidades patronais, e através de visitas pessoais.
Nas visitas pessoais, o mais habitual é ver pessoas de fato e gravata, senhoras de salto alto ou homens musculados. Há ainda situações de deslocações em carros com identificação de empresa de cobranças, que é estacionado estrategicamente em frente à residência ou à saída do emprego.
Público Última Hora.
Depois não digam é que nós é quer somos os que defendemos o funcionamento livre do mercado antes de do Estado de Direito.
6 comentários:
Eu sou a favor do mercado.
Eu gosto que o mercado trate dos problemas.
É bom que existam estas empresas de cobrança de dívidas, que tratam dos problemas sem que o Estado tenha que intervir. Poupam dinheiro à comunidade.
Luís Lavoura
Não posso deixar de estranhar a aversão que o JLP exibe por certas atividades do mercado. Após ter no passado mostrado aversão pelos agiotas, agora lança-se contra as empresas de cobrança de dívidas.
Na minha terra há um agiota muito conhecido. Um self-made man, que começou do nada, vindo de uma família muito pobre. Mas era inteligente, e meteu-se no negócio de emprestar dinheiro a ricos. Só a ricos, claro. Exigia hipotecas em troca do dinheiro que emprestava. E, pouco a pouco, foi enriquecendo. Hoje é dos homens mais ricos da aldeia, e continua a emprestar e a enriquecer.
Eu não vejo nada de mal nesta atividade. O homem, inteligente, empresta com prudência e saber, tendo o cuidado de nunca ariscar demasiado. Só empresta a quem sabe que pode pagar. Quem faz negócio com ele sabe ao que vai e ao que se arrisca. É mercado livre.
Como liberal, tenho sinceramente alguma dificuldade em compreender que objeções pode o JLP ter a estas atividades.
Luís Lavoura
ocupa-se o mercado de resolver o problema.
E muito bem digo eu. Enquanto agir dentro da legalidade, não vejo porque não.
"Eu gosto que o mercado trate dos problemas.
É bom que existam estas empresas de cobrança de dívidas, que tratam dos problemas sem que o Estado tenha que intervir."
Eu não tenho nada contra que seja o mercado a resolver o problema. Até aplaudo. O problema é que, pelo que é citado, a maneira como o mercado parece estar a resolver o problema é, em grande parte, ilegal (e mesmo ilegítima).
Será o LL um perigoso anarquista que acha que a liberdade (incluindo a referente a um mercado livre) vem antes do Estado de Direito?
É que, o mesmo Estado de Direito que se demite de fazer cumprir os contratos estabelecidos entre dois indivíduos, cuja prova é fácil de consolidar e a lei, na maioria dos casos, fácil de aplicar (por se tratarem de actos voluntários das duas partes), não me parece que será capaz de agir para resolver o problema se ele passar a ser dominantemente de índole criminal.
"a maneira como o mercado parece estar a resolver o problema é, em grande parte, ilegal"
Sê-lo-á sem dúvida nalguns casos. Mas duvido que sejam os casos mais comuns. Segundo se lê no artigo, até grandes empresas contratam serviços de cobrança de dívidas. Duvido que uma grande empresa aceite de alguma forma ficar associada a métodos de cobrança ilegais ou violentos.
O artigo em questão diz que as empresas de cobrança de dívidas pedem que rapidamente a sua atividade seja legalizada e regulamentada, com o fim de acabar com as ocasionais práticas ilegais. O que é digno de louvor.
Luís Lavoura
"Sê-lo-á sem dúvida nalguns casos. Mas duvido que sejam os casos mais comuns."
A questão é que a mudança para esse paradigma incentiva a que esse comportamento se torne mas frequente.
"Segundo se lê no artigo, até grandes empresas contratam serviços de cobrança de dívidas. Duvido que uma grande empresa aceite de alguma forma ficar associada a métodos de cobrança ilegais ou violentos."
Deve ser uma lógica semelhante à dos grandes empreiteiros que recorrem sistematicamente à subempreiteiros. Afinal, estes até nem estão muitas vezes associados a métodos pouco claros...
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