2007/01/03

Os triglicéridos das filhoses


Aparentemente o Natal de Pedro Arroja deixou as suas sequelas. O espírito natalício e a quadra festiva cristã deixaram marcas, e Pedro Arroja tem vindo no seguimento a encetar uma série de artigos no Blasfémias em que correlaciona a herança cristã em várias constituições mundiais como sendo o "selo de garantia" que carimbou os verdadeiros Estados de Direito. Aparentemente, sem inspiração e iluminação divinas, não se fazem bons pactos sociais, bom Direito ou se constroem afinal meros simulacros de Estados de Direito, nós incluídos. Naturalmente, a tese merece quanto a mim as maiores reservas, e vai sendo já alvo de discussão aguerrida e de críticas das mais variadas fontes. Por mim, e para já, houve sim uma outra afirmação que não consigo deixar em claro (negritos meus):

A julgar por estes critérios - o sentimento de justiça, a paz e a prosperidade que promove, a liberdade e até a igualdade que produz entre as pessoas - a civilização cristã é, de longe, a melhor civilização que jamais existiu ao cimo da Terra.
Para além de ter uma certa dificuldade em identificar a referida "civilização cristã", a afirmação parece-me, no mínimo, precipitada e irrefletida.

Pessoalmente, qualquer tentativa de rotulagem da civilização cristã como "a melhor", presumo eu tendo em conta o período histórico compreendido entre o Império Romano e a actualidade do Cristianismo, empalidece face ao que foi, quanto a mim, o apogeu e a Idade de Ouro do Ocidente, o período áureo da civilização grega. Estamos a falar de uma sociedade que conseguiu, grosso modo no espaço de cinco séculos, rodeada de barbárie, estabelecer os pilares da Filosofia e de grande parte da Política que perduram até hoje, dois mil e seiscentos anos depois. Há dois mil e seiscentos anos já tinhamos Estados de Direito, uma verdadeira sociedade do conhecimento, e a noção que o Homem valia mais do que o seu mero valor num campo de batalha ou a quantidade de inimigos mortos que podia exibir no seu palmarés. Tinhamos uma civilização que tinha conseguido conquistar a Ordem, e que se ocupava a explorar os seus frutos.

A "civilização cristã" que Pedro Arroja enaltece, esteve enredada e explorou durante séculos o pensamento milenar de Aristóteles, encarniçando-se numa elite que domava a moral e conhecimento dos fracos, promovendo a ideia de que a convivência dos homens não era um problema humano mas sim uma verdade revelada (e sempre pronta a ser avaliada pelos "bons"). Enterrou o essencial da ocidentalidade em trevas seculares, que constituiram em grande parte um retrocesso civilizacional ou um entrave efectivo ao conhecimento e ao saber, do qual ainda vamos pagando agora as facturas pendentes.

Dir-me-à que a civilização grega também se apegava ao divino. Sem dúvida. Mas o panteão grego é mais feito de homens imortais do que de deuses. São deuses com defeitos, ideossincrasias, fetiches, irracionalidades e humores. São um espelho divino das fraquezas humanas, uma espécie de baú de lembranças do que é bom e mau no Homem, pronto a servir de exemplo quando estiverem eminentes repetições de erros passados. Não são deuses altivos e iluminados, sobranceiros aos problemas dos homens. São lembranças do que nos faz humanos.

Deuses que não inspiram constituições mas que fazem ponderar quando estas se escrevem.

6 comentários:

Anónimo disse...

Aquilo que Pedro Arroja escreve no Blasfémias faz tão pouco sentido, e contem tantos disparates óbvios, que eu já nem ligo. Já nem me dou ao trabalho de ler. Tenho aliás a impressão de que o Pedro está ali só para gozar com quem o lê, ou seja, que inventa aqueles disparates, nos quais nem de longe crê.

Luís Lavoura

Migas disse...

Nem mais.

Repeat after me: A=A A=A A=A A=A A=A A=A A=A A=A

LOL

Anónimo disse...

»»» Tinhamos uma civilização que tinha conseguido conquistar a Ordem, e que se ocupava a explorar os seus frutos.»»»

Caro JLP

Isso não será uma visão um pouco romântica desses tempos ?
Não é bem assim que eu recordo a história que estudei no Liceu.
Não haverá aí uma influência exagerada de certos poemas como a Ilíada e a Odisseia ?
É que se daqui a 1000 anos, se se estudar Portugal apenas através dos Lusíadas, da Peregrinação e da Mensagem somos capaz de ficar melhor no retrato do que aquilo que merecemos...
:)
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Anónimo disse...

"Já nem me dou ao trabalho de ler."

Não será antes porque é incapaz de o entender ...
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JLP disse...

"Isso não será uma visão um pouco romântica desses tempos ?"

Acho que temos que por as coisas na devida escala, e ver o que se passava em volta.

Naturalmente que os gregos não eram nenhuns "anjinhos"! Que tiveram os seus conflitos internos e as suas revoluções. Que tinham as suas falhas.

Mas o salto incremental em relação ao seu passado e a comparação com o que se passava nas outras civilizações eram tão substanciais, a sua herança é ainda nos dias de hoje tão presente e tiveram um papel tão determinante na evolução civilizacional no período que nos separa deles que justificam, a meu ver, todas as loas.

Anónimo disse...

olhem, filhos, que país é que tem suas regras determinadas por atenas?
Nenhum