2006/12/31

S. Saddam

Não tenho a mínima pena do que aconteceu a Saddam Hussein. Não sou, aliás, por princípio opositor da pena de morte. Mas não pactuo com vendettas contra quem queria "matar o papá" ou com execuções sumárias políticas e farsas jurídicas travestidas de "democracia".

Saddam fez coisas que lhe mereceram este destino em pleno. Existem aliás várias turbes de pessoas cujas vidas foram desgraçadas ou que são fiéis depositórios das que desgraçou que teriam toda a justiça de o fazer pelas suas mãos. Mas embarcar nesta fantochada em que afinal a memória pública dos atentados que cometeu se limitará a uma questão acontecida há decadas, com o alto patrocínio político dos que agora organizam a festa e clamam a sua morte como uma "etapa importantíssima para a democracia no Iraque", só demonstra uma vez mais a ignorância com que todo o processo do Iraque é gerido.

Toda esta sucessão de erros e de atentados à Justiça, misturados com um branquear da história pela opção de "julgar" Saddam somente por uma questão muito particular do seu exercicio do poder (não fossem ainda factos desagradáveis vir a lume) é um cheque de martírio (conceito tão caro à religião e concretamente ao Islão) que pode ainda vir a sair muito caro aos países ocidentais com tropas no terreno.

Quer seja na senda do estabelecimento de um "digno" sucessor de Saddam no Iraque, ou na luta fraticida que se adivinha a cada dia, e que só é alimentada por este género de atitudes, no mínimo, irreflectidas.

17 comentários:

Anónimo disse...

O ministro dos negócios estrangeiros de Saddam tinha ameaçado abrir a boca... e certamente teria coisas para dizer bastante desagradáveis para os EUA.

Pos isso, era preciso virar rapidamente de página, acabando de vez com os julgamentos do passado.

Luís Lavoura

Anónimo disse...

"O ministro dos negócios estrangeiros de Saddam tinha ameaçado abrir a boca... "

E porque é que a não abre ?
Alguém lha fechou ?

Que saiba não está acusado em nenhum processo em que incorra em pena de morte.
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Anónimo disse...

"... que afinal a memória pública dos atentados que cometeu se limitará a uma questão acontecida há decadas, com o alto patrocínio político dos que agora organizam a festa..."

Explique lá essa que eu agora não entendi...
A chacina de dezenas de pessoas supostamente implicadas num atentado à vida de Saddam foi patrocinada por quem ?
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JLP disse...

Caro Mentat,

"According to Iraq's report to the UN, the know-how and material for developing chemical weapons were obtained from firms in such countries as: the United States, West Germany, the United Kingdom, France and the People's Republic of China.[33]

In December 2002, Iraq's 1,200 page Weapons Declaration revealed a list of Eastern and Western corporations and countries, as well as individuals, that exported a total of 17,602 tons of chemical precursors to Iraq in the past two decades. By far, the largest suppliers of precursors for chemical weapons production were in Singapore (4,515 tons), the Netherlands (4,261 tons), Egypt (2,400 tons), India (2,343 tons), and Federal Republic of Germany (1,027 tons). One Indian company, Exomet Plastics (now part of EPC Industrie) sent 2,292 tons of precursor chemicals to Iraq. The Kim Al-Khaleej firm, located in Singapore and affiliated to United Arab Emirates, supplied more than 4,500 tons of VX, sarin, and mustard gas precursors and production equipment to Iraq.[34]

According to the Washington Post, the CIA began in 1984 secretly to give Iraq intelligence that Iraq used to "calibrate" its mustard gas attacks on Iranian troops. In August, the CIA establishes a direct Washington-Baghdad intelligence link, and for 18 months, starting in early 1985, the CIA provided Iraq with "data from sensitive U.S. satellite reconnaissance photography...to assist Iraqi bombing raids." The Post’s source said that this data was essential to Iraq’s war effort.[35]

[...]

The U.S. firm Alcolac International supplied one mustard-gas precursor, thiodiglycol, to both Iraq and Iran in violation of U.S. export laws for which it was forced to pay a fine in 1989. Overall between 300-400 tons were sent to Iraq."

Wikipedia

Para além deste "patrocínio" efectivo, há que considerar aqueles que "aqueciam" as costas diplomaticamente ao Iraque na altura, para salvaguarda das suas agendas e interesses nacionais. O patrocínio, para além de material, é muitas vezes muito mais importante quando é político.

Anónimo disse...

Caro JLP

Neste caso concreto Saddam foi condenado no seguimento dum julgamento que o considerou culpado de chacinar cento e tal xiitas supostamente envolvidos numa conspiração para o assassinar.
Não foi nenhum julgamento pela utilização de armas quimicas contra o seu próprio povo ou contra os iranianos.

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Anónimo disse...

"According to Iraq's report to the UN, the know-how and material for developing chemical weapons were obtained from firms in such countries as: the United States, West Germany, the United Kingdom, France and the People's Republic of China.[33]"

Se assim é, dois desses países tentaram redimir-se, os outros se calhar tentavam continuar o negócio...
.

JLP disse...

"Não foi nenhum julgamento pela utilização de armas quimicas contra o seu próprio povo ou contra os iranianos."

Efectivamente a acusação concreta que resultou na condenação à morte foi essa, relativa ao massacre de Dujail. Mas o mesmo tribunal tinha em aberto uma acusação relativa ao massacre dos curdos, esse feito recorrendo a armas quimicas, entre outras acusações.

JLP disse...

"Se assim é, dois desses países tentaram redimir-se, os outros se calhar tentavam continuar o negócio..."

O mau caro acredita mesmo nessa vontade de "redenção", ou ainda são resquícios de boa-vontade mítica associados ao recente Natal? ;-)

JLP disse...

Já agora, de que "julgamento" é que está a falar?

É que uma sala com juízes lá dentro a "botar faladura" não faz, por si só, um julgamento. Com se viu bem por este caso e pela farsa que foi encenada.

Anónimo disse...

"...acredita mesmo nessa vontade de "redenção", ..."

Claro que não acredito.
Mas acredito piamente que os outros que se opuseram estavam mais preocupados com o fim dos seus negócios sujos do que com o bem estar do povo do Iraque.
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Anónimo disse...

"É que uma sala com juízes lá dentro a "botar faladura" não faz, por si só, um julgamento."

Bem quanto a isso não sei, mas continuo a achar que o homem teve mais hipoteses do que o Ceausesco.
Até um advogado de defesa americano teve.
Foi confrontado com os familiares das vítimas.
Parece-lhe que o julgamento do Milosevic foi mais decente ?
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JLP disse...

"Mas acredito piamente que os outros que se opuseram estavam mais preocupados com o fim dos seus negócios sujos do que com o bem estar do povo do Iraque."

E também acredita nessa vontade de pugnar pelo bem estar do povo do Iraque?

JLP disse...

"Até um advogado de defesa americano teve."

Isso não é necessariamente um "plus"... ;-)

"Parece-lhe que o julgamento do Milosevic foi mais decente ?"

Não. Foi outra farsa um pouco mais sofisticada em termos de encenação. Como notará nos meus escritos sou pouco crente na fé generalizada de muitos no direito natural, e ainda menos na religião dos "principios gerais de direito", ainda mais quando aplicados em termos internacionais.

JLP disse...

"Bem quanto a isso não sei, mas continuo a achar que o homem teve mais hipoteses do que o Ceausesco."

Receita para uma farsa:

- Julgamento por um tribunal ad-hoc, nomeado pelo autoridade de uma potência ocupante.

- Implicação indirecta (política e como fornecedor de meios) de quem constituiu o tribunal em vários dos eventos constantes da acusação.

- Colectivo de juízes com alterações de composição no decorrer do julgamento, incluindo o afastamento de juízes sem justificação.

- Várias sessões feitas à porta fechada, sem justificação cabal do motivo e com relato de vários protestos dos advogados de defesa.

- Limitação da presença do réu em várias das sessões do tribunal.

- Dúvidas generalizadas em relação às fontes de direito utilizadas, e da sua retroactividade em relação aos factos da acusação.

Anónimo disse...

»»»E também acredita nessa vontade de pugnar pelo bem estar do povo do Iraque? »»»

Claro que não.
Eu sou pró-americano, mas tenho a presunção de achar que não sou estupido.
Os EUA actuam (quase sempre)de forma a pugnar pelo bem estar do seu próprio povo (como é seu direito). De caminho, por vezes, como resultado meramente colateral, até beneficiam outros povos.
O Iraque serviu para deslocar a guerra ao terrorismo para alguns milhares de Kms do território americano.
Apesar das fanfarronadas, não acredito que bombistas suicidas sejam uma "munição barata" e abundante, pelo que as que estão a ser consumidas no Iraque deixam de estar disponiveis para serem utilizadas no Ocidente.
À conta da invasão, o Iraque está a ser reconstruido e tem neste momento melhores infraestruturas do que as que tinha dantes.
Se o seu povo ou povos não aproveita para tornar o seu país num lugar decente, azar o deles.
Aliás é minha convicção de que a História não acabou, por isso talvez o Iraque como construção artificial que é, talvez deva mesmo acabar.
Os xiitas que se unam ao Irão, os Curdos que se tornem independentes, e os árabes sunitas que recuperem a sua monarquia achemita e se unam à Jordânia.
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JLP disse...

"Os EUA actuam (quase sempre)de forma a pugnar pelo bem estar do seu próprio povo (como é seu direito). De caminho, por vezes, como resultado meramente colateral, até beneficiam outros povos."

O problema é quando os efeitos colaterais são prejudiciais. Ou seja, quando se anda a partir a casa do vizinho para tranquilizar a nossa.

"O Iraque serviu para deslocar a guerra ao terrorismo para alguns milhares de Kms do território americano."

Poderá ter deslocado geograficamente o foco, mas não alterou o alvo. Afinal, o Iraque já matou mais americanos que os actos e as razões apresentadas (no caso concreto ilegítimas) que lhe serviram de justificação.

"Apesar das fanfarronadas, não acredito que bombistas suicidas sejam uma "munição barata" e abundante"

Como diria o outro, olhe que não, olhe que não... ;-)

"À conta da invasão, o Iraque está a ser reconstruido e tem neste momento melhores infraestruturas do que as que tinha dantes."

Pois, à custa dos recursos dos iraquianos e em benefício comercial da potência ocupante.

Seriam assim tão inoperativas, as que existiam e foram destruídas? O seu melhoramento, caso fosse necessário, não iria beneficiar essencialmente a economia iraquiana, ou ser feito de acordo com a sua vontade?

Anónimo disse...

curieusement, mais l'analogue est ? [url=http://runfr.com/cialis]cialis 20[/url] http://runfr.com/cialis cialis lilly viacra sans ordonance ou acheter du cialis en france