Rejoice!
Ó vós arautos da superioridade moral e dos valores do ocidente: exultai e vede os intrincados meandros da democracia em acção.
Os que estiverem de consciência tranquila em relação ao que foi feito não terão problemas em partilhar do momento e celebrar. Afinal, a evolução é para o positivo, não é? E por cada um dos muitos que circundam a execução e se manifestam, haverá concerteza muitos "ocidentais" que gostariam de estar no seu lugar.
(Aviso: apesar de ser de baixa qualidade e moderadamente gráfico, o vídeo ligado poderá impressionar alguns leitores.)
Adenda: Relato dos últimos momentos de Saddam Hussein, via BBC News.
20 comentários:
"Ó vós arautos da superioridade moral e dos valores do ocidente: exultai e vede os intrincados meandros da democracia em acção."
Caro JLP
Publicaria este mesmo comentário, ao julgamento sumário e imediata execução do antigo ditador da Roménia e sua mulher, a quando da sua gloriosa transição da ditadura para a democracia que culminou na ontem na adesão à UE ?
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O meu comentário anterior não me impede de continuar a pensar que a pena de morte é uma barbárie, seja que for que a aplique, seja quem for que a sofra seja em que parte do mundo aconteça.
Não gasto é a minha piedade nem a minha indignação com algoses, guardo-as para as vitimas.
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Caro Mentat,
"Publicaria este mesmo comentário, ao julgamento sumário e imediata execução do antigo ditador da Roménia e sua mulher, a quando da sua gloriosa transição da ditadura para a democracia que culminou na ontem na adesão à UE ?"
Como referi, não sou contra a pena de morte. E, principalmente, acho que os povos têm todo o direito a acertarem contas, dentro de portas com os que lhes destruiram a vida, oprimiram e privaram dos mais elementares direitos e liberdades. Assim como, se acompanha o que escrevo, me oponho completamente à ingerência de países, por mais que anunciem boas intenções e superioridade moral, em relação aos problemas exclusivamente internos dos outros.
Esses tempos não são de "democracia", nem sequer de Razão ou de contenção, e muito menos de "Justiça". São tempos conturbados onde o que emerge e vence é a verdadeira natureza humana predatória e retributiva.
Como tal, naturalmente que não leria tal escrito mim. O assunto Ceaucescu, apesar das ingerências que lhe deram origem, foi um problema resolvido por quem competia, os Romenos, do modo que acharam mais conviniente. Ninguém tem, de fora da Roménia, nada a ver com o assunto. Também não se viu da União Soviética qualquer vontade de se associar à eliminação do amigo da véspera, argumentando uma nova superioridade moral.
No Iraque a situação é inteiramente diferente. A somar às ingerências, e ao facto da captura de Saddam ter resultado de uma invasão completamente ilegítima, não houve nenhuma vontade expontânea dos Iraquianos em resolverem o seu problema. Foi um desenlace que lhes foi imposto, no envelope de um suposto processo judicial que não foi mais que uma farsa.
Portanto, para aqueles que patrocinaram moralmente os meios para depor Saddam, mesmo contra a iniciativa dos que oprimia, é de esperar que não tenham problemas em agora acompanharem em todo o seu explendor o desfecho das suas iniciativas.
Afinal, para os que tinham tanta vontade em sujar as mãos, não se pode esperar que agora vertam lágrimas sofridas ou tenham nojo em contemplar toda a extensão da sujidade que as cobre.
"Portanto, para aqueles que patrocinaram moralmente os meios para depor Saddam, mesmo contra a iniciativa dos que oprimia..."
Caro JLP
Eu sou dos que "patrocinaram" e continuam a "patrocinar" moralmente a deposição de Saddam, sem remorsos e sem hipocrisias.
Para mim o único erro dos EUA é terem-se dado ao trabalho de arranjar uma desculpa para a invasão.
Aos Iraquianos foi-lhes dada uma hipótese de construirem um regime decente e próprio. Se o fazem ou se preferem lutarem entre si é um problema deles.
Neste assunto faço minhas as palavras de Ramos Horta que disse que não se importava que os EUA tivessem invadido Timor se isso tivesse evitado 25 anos de martirio às mãos dos indonésios.
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Caro JLP
O caso Ceaucescu chocou-me bastante na altura porque num país de raiz cultural greco-romana/judaico-cristã, não seria de esperar uma tal selvajaria.
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"Ninguém tem, de fora da Roménia, nada a ver com o assunto."
Nessa linha de raciocinio a perseguição do Juiz Garzon ao Pinochet, foi despropositada, certo ?
Eu também achei, mas não me importei nada de ver o velho acossado...
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"...invasão completamente ilegítima..."
Caro JLP
Não sou jurista nem linguista, mas acho que a frase é redundante.
Quando é que alguma invasão pode ser legitima?
Isso não é uma contradição nos termos ?
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"Para mim o único erro dos EUA é terem-se dado ao trabalho de arranjar uma desculpa para a invasão."
É verdade. Que tempos são estes em que um país até já tem que arranjar desculpas, mais que justificações ou até cumprir compromissos internacionais a que voluntariamente se comprometeu, para um acto corriqueiro e inócuo como, sei lá, entrar pela casa de outro a dentro e fazer o que lhe der na telha...
Mas, sabe, esse genero de "pequenas falhas de relações públicas" sucessivas já começam a fazer com que outros pensem o mesmo em relação aos EUA. Afinal, se o polícia do Mundo e o guardião dos valores ocidentais faz, porque é que os outros não hão-de fazer?
"Aos Iraquianos foi-lhes dada uma hipótese de construirem um regime decente e próprio. Se o fazem ou se preferem lutarem entre si é um problema deles."
"Foi-lhes dada uma hipótese"? Quem é que morreu e deu a alguém esse direito de "dar hipóteses"? As únicas pessoas que têm o direito de decidir o que bem acham "decente" e "próprio" são os iraquianos. São eles, afinal, os principais beneficiários do que correr bem, e os prejudicados pelo que correr mal.
O que se passa é que o problema "deixou de ser deles". A partir do momento em que alguém de fora decidiu impôr o que era "decente" e "próprio", destruiu infrastruturas, matou civis, destruiu os equilibrios de poder tolerados anteriormente,, desmantelou forças armadas, de segurança e as mais básicas funções do estado, apropriou-se de recursos e mantém uma posição de ocupante e de potência administrante, passou a ter uma responsabilidade efectiva em limpar a trapalhada que criou.
"O caso Ceaucescu chocou-me bastante na altura porque num país de raiz cultural greco-romana/judaico-cristã, não seria de esperar uma tal selvajaria..."
Acho que o caro Mentat está a ter uma memória limitada e curta do judaico-cristianismo e da herança greco-romana.
Afinal, não é preciso andar muito tempo para trás na história nem muitas centenas de quilómetros de Roma e do trono de Pedro para lembrar outro momento clássico dessa tradição.
"Não sou jurista nem linguista, mas acho que a frase é redundante."
Concordo que é redundante. Mas não deixa de ser verdade que muitas vezes essa redundância passa à margem de muitos...
"...passou a ter uma responsabilidade efectiva em limpar a trapalhada que criou."
Caro JLP
Gostava de continuar este debate tendo como base este seu último comentário, mas hoje o trabalho não me o permite.
Ser patrão ao contrário do que muita gente pensa limita muito a liberdade individual.
Claro que só continuarei se for essa a sua vontade.
Finalmente, como sei que um dos Co-autores deste blog tem uma objecção de principio ao anonimato, se for essa também a sua posição enviarei, para o email que me indicar, a minha identificação.
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"Gostava de continuar este debate tendo como base este seu último comentário, mas hoje o trabalho não me o permite.
Ser patrão ao contrário do que muita gente pensa limita muito a liberdade individual."
:-)
Limitar não limita. Torna é o seu exercício o acto muito mais responsável!
"Claro que só continuarei se for essa a sua vontade."
Com todo o gosto. Nós por aqui (pelo menos falo por mim) não temos pressas, e considero que criar os artigos é um convite à discussão por parte de quem ache interesse em o fazer. Por isso mesmo é que os comentários são abertos e livres. Como tal, a questão da vontade não se põe. Quando muito, poder-se-à extinguir a vontade quando ambas as partes (ou uma delas) acabarem de apresentar e argumentar a sua posição e se atinja a irredutibilidade.
"Finalmente, como sei que um dos Co-autores deste blog tem uma objecção de principio ao anonimato, se for essa também a sua posição enviarei, para o email que me indicar, a minha identificação."
Se se refere à Sandra Pinto, acho que não terá porventura a perspectiva plenamente correcta, mas ela o esclarecerá se entender.
A minha perspectiva em relação ao anonimato é relativamente aberta. A minha objecção de princípio é contra quem o usa para muitas vezes trazer a público informação privilegiada, arremessando a pedra e escondendo a mão, ou que o usa para cobardemente se escapar às repercursões do insulto, feito sem ser olhos nos olhos, muitas vezes a pessoas que dão a cara e que não têm nada a esconder. Não me parece que seja de todo o caso.
Naturalmente que tenho mais consideração, falando sinceramente, por quem opte por dar a cara e por quem assina por baixo o que diz. Mas isso não faz com que tenha alguma atitude punitiva ou depreciativa em relação à generalidade dos anónimos que, por uma ou outra razão optem por preservar a sua identidade, até porque muitas vezes, se cai numa situação de "anonimidade identificada", pela clara impossibilidade de confirmar as identidades anunciadas e por não se estabelecer o contacto pessoal que é imprescindível nas relações humanas.
De qualquer modo, qualquer informação que entenda fazer-me chegar em exclusivo poderá ser enviada para o email que passa a estar disponível na minha página de perfil do Blogger, acessível na página de entrada. Qualquer contacto para todos os membros do blog poderá ser enviado para o endereço que também passa (por esquecimento meu perdeu-se na transição da template) a constar da mesma página.
Se bem me recordo, cantei uma vez ao Mentat, nos tempos do Levantai..., o fado do embuçado, porque insistia em discutir política partidária comigo, bem sabendo (e utilizando essa informação profusamente) que eu não era, à data (e infelizmente) uma espectadora terceira.
Não tenho nenhuma objeccção de princípio ao anonimato. Era capaz de lutar pela defesa do direito a ele. Não gosto é de me sentir acossada por quem me conhece de outros festivais, sem dar a cara.
"Não gosto é de me sentir acossada por quem me conhece de outros festivais, sem dar a cara."
Cara SMP
Como já deve saber não era essa a minha intenção nem a minha condição.
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"Limitar não limita. Torna é o seu exercício o acto muito mais responsável!"
Sim ?!
E a liberdade de ser irresponsável onde fica ?
:)
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»»Que tempos são estes em que um país até já tem que arranjar desculpas, mais que justificações ou até cumprir compromissos internacionais a que voluntariamente se comprometeu, para um acto corriqueiro e inócuo como, sei lá, entrar pela casa de outro a dentro e fazer o que lhe der na telha...»»
Pois na verdade não me lembro do Afeganistão dos Talibãs ter apresentado qualquer desculpa ou justificação para dar santuário a quem se treinou, para utilizando civis como arma, atacar sem aviso outro país e chacinar os seus cidadãos.
A menos que ache que a instituição do califado universal é uma justificação aceitavel.
Também não me lembro que o Iraque de Saddam tenha alguma justificado o facto de dar guarida e santuário a terroristas internacionais.
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«««Afinal, não é preciso andar muito tempo para trás na história nem muitas centenas de quilómetros de Roma e do trono de Pedro para lembrar outro momento clássico dessa tradição.»»»
Caro JLP
Foi mau escolhido o exemplo, porque os autores desse acto foram comunistas, os quais não são propriamente os mais fieis representantes da cultura que eu defendo.
Podia ter usado um exemplo mais recente e adequado, em que "piedosos" católicos Croatas e "devotos" ortodoxos Sérvios se "entreteram" a fazer uma limpeza étnica mútua tanto nos seus países como na Bósnia, sob os olhos da "muito produtiva" indignação da UE.
Serviço esse que só não se concretizou completamente, porque um certo presidente americano acossado internamente, se lembrou de se lançar numa guerra (essa completamente à revelia de qualquer sombra de legalidade).
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"Pois na verdade não me lembro do Afeganistão dos Talibãs ter apresentado qualquer desculpa ou justificação para dar santuário a quem se treinou, para utilizando civis como arma, atacar sem aviso outro país e chacinar os seus cidadãos.
A menos que ache que a instituição do califado universal é uma justificação aceitavel."
Não estamos a falar do Afeganistão. Nesse caso, existiu (quanto a mim) casus belli, por que se tratou de uma represália por uma ofensa à soberania e a cidadãos americanos explicitamente patrocinada pelo estado afegão. É uma situação completamente diferente.
"Também não me lembro que o Iraque de Saddam tenha alguma justificado o facto de dar guarida e santuário a terroristas internacionais."
Não justificou porque essencialmente tal nunca foi provado. Não foi provado que essas pessoas lá estivessem, que tivessem o patrocínio do estado iraquiano ou que tivessem como alvo os EUA. Além de que o double standard demonstrado pelos americanos, por exemplo em relação aos seus "aliados" Paquistão e Arábia Saudita, retiram grande parte da validade desse argumento, principalmente quando se critica e age para uns e não para os outros.
O próprio albergar de pessoas com problemas criminais em relação a outros países, mesmo relativos a morte de cidadãos deste, é um critério muito discutível. Afinal os próprios EUA abrigam ou dão cobertura a interesses de pessoas várias acusados de crimes (inclusivé coisas bem graves) noutros países, recusando-se a extraditá-los ou não tomando qualquer iniciativa em relação a elas ou aos referidos interesses. Quanto a mim, estão em grande parte no seu direito. Mas têm que ser consequentes com esse princípio.
"Foi mau escolhido o exemplo, porque os autores desse acto foram comunistas, os quais não são propriamente os mais fieis representantes da cultura que eu defendo."
Bem, não podemos começar a rotular "bons" e "maus". Afinal, não me parece ter havido propriamente uma grande revolta e intervenção contra pela generalidade dos outros. Afinal, para o bem ou para o mal (retórica ;-) ) o comunismo é ele próprio fruto da civilização judaico-cristã.
Mas mais exemplos, aliás como os que refere, concerteza não faltarão.
"Serviço esse que só não se concretizou completamente, porque um certo presidente americano acossado internamente, se lembrou de se lançar numa guerra (essa completamente à revelia de qualquer sombra de legalidade)."
Intervenção essa que eu também considerei lamentável e com que discordei na altura, mas que concordo que, vista à distância, é um marco assinalável de hipocrisia de quem só agora critica os EUA pela sua intervenção no Iraque.
»»»Não foi provado que essas pessoas lá estivessem, que tivessem o patrocínio do estado iraquiano ou que tivessem como alvo os EUA.»»»
Caro JLP
Já falamos anteriormente disto.
Peço-lhe só que investigue qual era o nome dum bairro de Bagdad agora chamado Saadr City e qual era a composição dos seus habitantes...
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