A oportunidade perdida
A ideia de uma comunidade de estados na Europa deveria ser acarinhada por todos os liberais. Um estado Europeu deveria assumir para si as funções de garantia das relações entre os países e os cidadãos, e de estes últimos entre si, e a defessa da comunidade enquanto um todo. Enquanto isso, garantiria a perfeita mobilidade de pessoas, bens e serviços, permitindo uma efectiva concorrência entre países. Pelo contrário, a UE ainda dá os primeiros passos na regulação da relação entre os seus cidadãos e os poderes centrais dos países onde vivem; também não existe qualquer política de defesa comum o que não afasta, em teoria, a possibilidade de uma guerra entre os seus membros. E o mais grave é que a UE em vez de se ter tornado num factor de concorrência tornou-se num meio formal de conluio entre os seus membros. A UE é hoje a plataforma de entendimento entre estados para uniformização ao mais ínfimo pormenor dos serviços oferecidos aos seus cidadãos e, muito em breve, também os preços.
A União Europeia não é hoje um estado, nem uma comunidade de estados: é um cartel.
2 comentários:
Pessoalmente, e como já disse aqui, passei muitos e bons anos da minha vida a acreditar que a Europa era a nova terra das oportunidades. Que seria a concretização possível de um Quinto Império que, não sendo exclusivamente português, teria ao menos o cunho de uma História comum e não poucas vezes trágica. A própria ideia do caminhar para um Estado federal não me causava, nessa altura, qaulquer repugnância, porquanto me agradava o substrato de uma tal visão futura.
Vi muita coisa boa chegar com a Europa. Muita. A minha vida é hoje radicalmente diferente do que era há 20 anos, quando Portugal aderiu, e sei que uma parte não identificável dessa melhoria se ficou a dever à assinatura dos tratados fundadores pelos nossos representantes.
Mas, nos últimos anos, a Europa tornou-se uma besta omnívora com vida própria. Um vómito incessante de hiper-legislação aberrantemente intrusiva na vida privada de cada um. O princípio da subsidiariedade, que era o próprio húmus em que crescia a Europa em que acreditei, foi completamente posto de parte. Burocratas cinzentões ditam regras que nos entram pela porta dentro e nos fazem ter saudades dos tempos em que não estava tudo regulamentado. Daqui a 20 anos, estaremos todos a comer a todas as refeições comida de avião com talheres descartáveis, depois de registarmos o horário a que demos a primeira garfada juntamente com os dados completos da nossa identidade. A Europa cada vez mais asséptica é a negação da Europa viva de cultura e paixão que a inspirou.
O aumento da entropia legislativa levará a consequências imprevisíveis ainda, mas que nada de bom auguram quanto ao futuro da União. Por outro lado, a sede tendência de um alargamento progressivo e, as mais das vezes, desalicerçado, levará rapidamente a que a Europa perca a sua força e a sua identidade que, até à Europa dos 15, ainda ia sobrevivendo.
Nunca pensei dizer isto mas, por este andar, ficarei feliz se a besta morrer.
A ideia de poder haver uma efectiva mobilidade entre estados de pessoas, bens e serviços parece-me um caminho para aumentar a concorrência entre estados e, consequentemente, a sua eficiência. Mas não, nesta comunidade que se diz União, nem sequer um mero automóvel comprado no estrangeiro pode ser usado livremente noutro país. A UE conseguiu fazer pior o que os seus estados já faziam mal...
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