2006/08/07

Morangos sem acúcar II

Paulo Pinto Mascarenhas teve a simpatia e amabilidade de me responder (I, II) no blog da Revista Atlântico. Basicamente, retorquiu em termos referentes à crítica ao posicionamento do artigo na revista e sua recepção pela blogosfera, e à crítica do conteúdo do artigo propriamente dito.

Concretamente, começa por dizer que a recepção do artigo pela blogosfera não tem sido fria, sendo até o meu artigo uma prova em contrário. Ora se me referia à frigidez da reacção, não me referia tanto à ausência desta, mas sim aos teor negativo da generalidade das opiniões e críticas a que tive acesso. Poderei ter uma visão limitada destas, mas a opinião que persiste é que as críticas têm sido mais negativas do que positivas.

Em seguida, passa à defesa de MFM como alguém que "ou se ama ou se odeia", e que seja esse despertar de paixões e ódios que em grande parte o motiva na sua aposta em MFM como "rosto da discussão" na revista. Numa coisa concordo inteiramente: sou partidário dos que acham que é bastante pior a indifereça que o juízo extremado positivo ou negativo em relação a algo. Mas neste momento fico com uma dúvida: se estou a falar com o PPM director de revista que como tal (e com toda a legitimidade) quer vender revistas alimentando potenciais polémicas sem olhar a modos, numa estratégia aliás se calhar não muito diferente da da TVI com os referidos Morangos, ou se fala o PPM que está disposto a encabeçar um projecto de expressão liberal. É que, curiosamente, a generalidade das respostas negativas que se têm verificado, e das que tenho partilhado fora da blogosfera, são exactamente de liberais. Não será então estranho encabeçar um projecto liberal (em que naturalmente se tentará forçar a distinção com os que estão "fora" desse universo, contrapondo o liberalismo aos "outros") começando exactamente por dividir aqueles que professam de uma forma ou de outra uma ideologia liberal? É que, diga-se em abono da verdade, tanto no artigo em causa como na generalidade das posições, tenho MFM mais como alguém com um posicionamento conservador do que liberal.

Será então que o objectivo é a promoção do liberalismo e a discussão do que opõe esta às outras ideologias, ou antes promover uma discussão interna nos diversos sectores do liberalismo?

Quanto às críticas à substância do artigo, e aceitando o apelo à discussão proposta, PPM refere o seguinte:

A questão, caro JLP, não é que o mercado não funcione como eu ou a Maria Filomena Mónica desejamos, mas, como deve concordar, nem todos os liberais defendem um mercado sem regras. O que diria o JLP, por exemplo e por absurdo, se a TVI programasse um filme pornográfico diário para as 7 horas da tarde? O que está em causa é se a TVI cumpre as regras do mercado - ou seja, se não faz publicidade enganosa e se cumpre a lei.
O assunto da publicidade enganosa é para mim marginal, aliás porque também marginal é o papel que ocupa no artigo original, merecendo tão somente uma breve referência. Também é pacífico da minha parte a necessidade da existência de um regulador das diversas facetas do mercado, mas também compreendendo as razões dos liberais que não advogam a sua existência. Mas o que está essencialmente em discussão na minha crítica ao artigo e à citação original que fiz de PPM, é se é legítimo ao estado ter um papel regulatório dos próprios conteúdos televisionados. Ou seja, a ideia que transparece do artigo é que o estado deve servir de "polícia de conteúdos", definindo o que é normal e tolerável, por horas do dia, em caixinhas bem definidas e arrumadas. Mais do que um estado regulador, passariamos a ter um estado encarregue do programa educacional, cultural e de formação das nossas criancinhas no que toca à televisão. Em dizer qual é a área mínima de bikinis que se pode mostrar a determinada hora, qual é o léxico tolerável, os modelos de família apresentáveis (e "demonizáveis"/"defensáveis"), o calão e terminologia utilizados e se se pode mostrar uma ou outra mamoca, bem como a definição de um standard de beijos decentes. É que, sem critérios objectivos desta índole, gostava de saber como preconiza o PPM que interviesse a ERC, sem criar discricionaridades e juízos arbitrários da moral e dos bons costumes dos membros que a integrassem num determinado instante de tempo.

É também curiosa a escolha do referido programa como alvo do ataque e o argumento dos "filmes pornográficos às 7 da tarde" como contra-argumento. É que já é possível a qualquer pessoa que possua TVCabo (empresa até curiosamente participada pelo estado, com direitos exclusivos de gestão) e uma box (diga-se de passagem numa ardilosa maneira de contornar a licença de emissão) ter acesso a filmes pornográficos num horário que, se não é de 7 da tarde, é perfeitamente acessível a adolescentes e pré-adolescentes. Entre os dois alvos, curiosamente escolheu-se os "Morangos com açucar". Talvez porque seja um melhor alvo do "puritanismo subtil".

Em última instância, reitero o que disse originalmente. Quer com "Morangos com açucar" quer com filmes pornográficos às 7 da tarde, deve competir aos pais e não ao estado o exercício de escolha daquilo que está acessível aos seus filhos. Têm meios técnicos ao seu alcance que o permitam fazer, e uma responsabilidade que lhes pertence. Não admito é um estado do politicamente correcto. Seja ele correcto para um qualquer grupo que seja.

2 comentários:

antimater disse...

A lei da televisão regulamenta já o bastante para que se coloquem certas dúvidas.

O Estado deve intervir em caso de desrespeito pela lei.

Parece-me que o resto não será mais que pura retórica de arremesso.

Anónimo disse...

queria conheser matilde tiago susana lurenço