2006/08/21

Causas do terrorismo - III

A segunda questão que o autor levanta prende-se com a possibilidade de uma sociedade britânica com "loose morals" alienar a grande fatia de imigrantes muçulmanos que a integra, ao mesmo tempo que se auto-destrói nesse processo ao corromper as instituições - sobretudo, a família - que são o cimento de qualquer sociedade. Quanto a isto, não há muito a dizer. Garton Ash, surpreendentemente conservador, não tem razão nenhuma em afirmar que os ocidentais terão, nesse capítulo, algo a aprender com o que os muçulmanos aqui radicados nos estão a dizer. E a menos que o autor queira limitar severamente as liberdades individuais não se vê a utilidade da ideia. Vamos proibir as girls e boys bands? O Morangos com Açúcar? Vamos impedir os pais de se divorciarem? Ou perseguir os homossexuais, pouco tolerados nos países islâmicos? A moral de uma sociedade é um processo complexo só controlável através da repressão, cuja, obviamente, não é solução. Por outro lado, é, no mínimo, pouco avisado quem acredita que, no regresso aos valores do passado, é possível seleccionar-se os valores certos como se se estivesse num buffet. A moral religiosa ou ideológica vem sempre embrulhada num pacote. Ou se adere por completo à Weltanschauung proposta ou pura e simplesmente não se adere. E grande parte do valor das sociedades ocidentais é o de precisamente não terem uma cosmovisão impositiva. É o que as torna livres. A ideia de Garton Ash parece, pois, uma cedência politicamente correcta, uma tentativa de "reach out" aos muçulmanos britânicos atirando as culpas da sua integração falhada, como de costume, para a depravada sociedade ocidental. Ora é este o discurso multiculturalista, agora disfarçado de conservadorismo moral, que é preciso evitar.

1 comentário:

João Vasco disse...

Ora nem mais!