2006/08/21

Causas do terrorismo - II

É curioso, no entanto, que as soluções aventadas pelo Timothy Garton Ash para a correcção do "cultural gap" nos países europeus sejam politicamente incorrectas. A dureza das políticas de imigração é muito mal vista, em geral, quer pela esquerda, quer por liberais e até, pasme-se, alguns conservadores. Basta ver que Maria Filomena Mónica e muitos outros insuspeitos de pertencerem ao Bloco ridicularizavam, há bem pouco tempo, acórdãos do STJ, em que se negava a aquisição da nacionalidade por parte de cidadãos estrangeiros, em virtude destes não dominarem a língua, nem revelarem conhecimentos elementares da história e cultura portuguesas. É um bocado espantoso que traduzindo, desde sempre, o vínculo da nacionalidade a pertença a uma dada comunidade, tais exigências da lei da nacionalidade sejam ridicularizadas por gente à direita e à esquerda. Para mais, quando, muitas vezes, estão em causa situações de fraude manifesta, em que a nacionalidade de um Estado-membro é apenas pretendida como passaporte para o estabelecimento noutros países da UE. A facilidade com que os terroristas se aproveitam dos mecanismos de circulação na UE (entre os quais, a aquisição da nacionalidade) não provocará certamente tantos risos, mas chamará precisamente a atenção para o facto da aquisição da nacionalidade ser também uma questão de segurança, se não a curto, pelo menos, a longo prazo. Garton Ash tem razão. O pragmatismo deve imperar sobre considerações líricas em torno da noção falsa de que somos todos cidadãos do mundo. Isto vale obviamente também para quem professe e incite a prática do martírio no solo de países alvos dos atentados de bombistas suicidas. A perseguição criminal ou, menos grave, a expulsão do país de residência são remédios perfeitamente legítimos.

2 comentários:

FMP disse...

Não estou nada de acordo. Pelo contrário, acho que a imigração dilui o risco de grandes conflitos e enfraquece as forças extremistas ao proporcionar uma saída viável a muitos jovens

o aparecimento do terrorismo é a prova acabada de que a estratégia de "isolar o conflito lá na terra deles" é coisa do passado

Migas disse...

Parecem-me dois assuntos diferentes. Por um lado a imigração é necessária (economicamente), conceptualmente boa (uma sociedade liberal deve tratar todos como indivíduos, pelos seus méritos, pelo que não deve ter uma visão isolacionista) e potencialmente pacificadora (como diz o Francisco). Se há pessoas que querem viver connosco, porque aceitam e valorizam o nosso modo de vida, são bem vindas. São muito mais valiosas para nós do que os bébés chorões que temos cá dentro que preferiam viver em estados totalitários.
Por outro lado, é importante garantir que não estamos a introduzir indivíduos no nosso meio que não aceitam o nosso modo de vida, não partilham minimamente os nossos valores de liberadade individual e respeito mútuo e que procuram activamente destruir esse modo de vida e valores.