Causas do terrorismo - I
Vale a pena ler o artigo de Timothy Garton Ash (no Público de sábado passado), de tão raro que é ver uma posição simultaneamente equilibrada e interessante na discussão sobre a guerra ao terrorismo. É igualmente importante que tanto a direita e a esquerda reflictam sobre as causas do terrorismo, porque é combatendo o problema a montante que se poderá alterar a correlação de forças ideológicas no mundo islâmico, hoje largamente desfavorável aos valores ocidentais. O debate não foi até agora possível: em parte, porque a esquerda utiliza o discurso das causas como forma de combate ao suposto imperialismo americano e assim contribui irresponsavelmente para o aumento de ódio nas hostes islâmicas mais radicais, encontrando estas nos discursos de esquerda uma caução da sua estratégia de destruição da cultura ocidental; em parte, também, porque a direita apercebendo-se de que o discurso de esquerda alimenta o terrorismo se recusa a encontrar as suas causas, enveredando, ao invés, pelo discurso da Guerra das Civilizações, que só aumenta o fosso cultural, tornando os muçulmanos europeus hóspedes indesejáveis e socialmente marcados nos países de acolhimento. Neste contexto, a guerra do Iraque, certamente, não ajuda a encurtar distâncias entre os dois mundos e tem ainda a externalidade negativa de, como diz Timothy Garton Ash, contribuir para o fracasso da intervenção (justa e necessária) do Afeganistão. Idem aspas para o conflito actual no Líbano, que permite ao Hezbollah aumentar a sua popularidade à custa de uma política de subsídios à população, patrocinada pelo Irão, sem que, paralelamente, a resolução da ONU e, mais importante, a sua aplicação no terreno garantam minimamente a segurança duradoura de Israel.
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