2006/06/28

Do NOT think of the children

Escreve o Francisco em comentário ao meu artigo anterior sobre a questão dos estados e povos:

A evolução de Darwin não tem limites, é contínua e perpétua. No entanto pareces defender que já atingimos um estado de "perfeição de fronteiras"...não será mais plausível, à luz desses mesmos mecanismos que a evolução continue, que novos estados apareçam, que se refine a identidade, e que hajam espaços cada vez mais plurais ?

"contribuem para quebrar a ordem espontânea que foi adquirida ao longo de muito tempo, favorecendo a que novamente se instalem mecanismos darwinianos de acção"

O que é uma ordem espontânea quebrada espontaneamente senão uma nova ordem espontânea ? Os mecanismos darwinianos não podem ser parados e recomeçados, não tem um "start button", eles nunca deixaram de existir...

Do ponto de vista liberal parece-me que existem muitas agressões à liberdade do homem que têm base no conceito de estado-nação, e como tal, é natural que de uma forma "darwiniana" eles pelo menos se alterem na sua forma de existir
Eu não digo que foi atingida uma "perfeição de fronteiras". Digo antes que foi atingido um ponto de relativa estabilidade (chama-lhe um óptimo local, se quiseres).

Eu não tenho nada contra, antes pelo contrário, à ideia de que o que prevalece são critérios darwinianos de evolução. Só que das duas uma: ou aceitamos a inevitabilidade do estado natural predatório do Homem, em que os fortes esmagam os fracos à medida dos seus interesses egoístas, ou então aceitam-se mecanismos de concessão nessa liberdade predatória primária de maneira a atingir uma maior estabilidade e a permitir que todos não estejam permanentemente a "olhar por cima do ombro".

Para mim um desses mecanismos é exactamente o princípio da soberania absoluta dos estados-nações. Exactamente porque acho que é muito mais exequível a existência de uma diversidade e multiplicidade de contratos sociais ou "ordens espontâneas", em que somente se deve regular as intromissões cruzadas, do que a perspectiva de um contrato global, uma "Ordem Mundial" exercida por mecanismos que não sejam de pura força.

Uma ordem espontânea quebrada espontaneamente não é necessariamente uma ordem espontânea. Interessa saber a dimensão do grupo em que ela emerge anteriormente e a dimensão do grupo que a quebra. O que passas é efectivamente para uma solução instável, com três desfechos possíveis por acção de critérios darwinianos: ou a perturbação é insignificante, e portanto haverá tendência a regressar ao ponto anterior, ou o grupo que perturba é fraco e é esmagado pelo resto dos players, atingindo-se um novo ponto de equilibrio em função da eliminação de elementos e por distribuição dos "despojos", ou é forte e consegue defender a sua posição e estabelecer pelo novo equilíbrio de forças um novo estado de equilíbrio. Passa-se a ter um jogo, com resultados quando muito "esperados".

Naturalmente que o conceito de estado-nação limita liberdades, aliás como corolário da propria concessão da existência de um estado. Mas é um preço que se tem que pagar exactamente para suavizar o impacto dos mecanismos darwinianos de evolução. Ou então, temos que nos habituar à ideia de vermos rechaçar pela violência os grupos que tentam afrontar a ordem espontânea sem força para sustentarem a mudança que tentam operar, e resignarmo-nos a que é somente um efeito esperado das coisas. Seja no Darfur, em Timor Leste, na Chechénia ou com os Curdos.

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