Do NOT think of the children
Escreve o Francisco em comentário ao meu artigo anterior sobre a questão dos estados e povos:
A evolução de Darwin não tem limites, é contínua e perpétua. No entanto pareces defender que já atingimos um estado de "perfeição de fronteiras"...não será mais plausível, à luz desses mesmos mecanismos que a evolução continue, que novos estados apareçam, que se refine a identidade, e que hajam espaços cada vez mais plurais ?Eu não digo que foi atingida uma "perfeição de fronteiras". Digo antes que foi atingido um ponto de relativa estabilidade (chama-lhe um óptimo local, se quiseres).
"contribuem para quebrar a ordem espontânea que foi adquirida ao longo de muito tempo, favorecendo a que novamente se instalem mecanismos darwinianos de acção"
O que é uma ordem espontânea quebrada espontaneamente senão uma nova ordem espontânea ? Os mecanismos darwinianos não podem ser parados e recomeçados, não tem um "start button", eles nunca deixaram de existir...
Do ponto de vista liberal parece-me que existem muitas agressões à liberdade do homem que têm base no conceito de estado-nação, e como tal, é natural que de uma forma "darwiniana" eles pelo menos se alterem na sua forma de existir
Eu não tenho nada contra, antes pelo contrário, à ideia de que o que prevalece são critérios darwinianos de evolução. Só que das duas uma: ou aceitamos a inevitabilidade do estado natural predatório do Homem, em que os fortes esmagam os fracos à medida dos seus interesses egoístas, ou então aceitam-se mecanismos de concessão nessa liberdade predatória primária de maneira a atingir uma maior estabilidade e a permitir que todos não estejam permanentemente a "olhar por cima do ombro".
Para mim um desses mecanismos é exactamente o princípio da soberania absoluta dos estados-nações. Exactamente porque acho que é muito mais exequível a existência de uma diversidade e multiplicidade de contratos sociais ou "ordens espontâneas", em que somente se deve regular as intromissões cruzadas, do que a perspectiva de um contrato global, uma "Ordem Mundial" exercida por mecanismos que não sejam de pura força.
Uma ordem espontânea quebrada espontaneamente não é necessariamente uma ordem espontânea. Interessa saber a dimensão do grupo em que ela emerge anteriormente e a dimensão do grupo que a quebra. O que passas é efectivamente para uma solução instável, com três desfechos possíveis por acção de critérios darwinianos: ou a perturbação é insignificante, e portanto haverá tendência a regressar ao ponto anterior, ou o grupo que perturba é fraco e é esmagado pelo resto dos players, atingindo-se um novo ponto de equilibrio em função da eliminação de elementos e por distribuição dos "despojos", ou é forte e consegue defender a sua posição e estabelecer pelo novo equilíbrio de forças um novo estado de equilíbrio. Passa-se a ter um jogo, com resultados quando muito "esperados".
Naturalmente que o conceito de estado-nação limita liberdades, aliás como corolário da propria concessão da existência de um estado. Mas é um preço que se tem que pagar exactamente para suavizar o impacto dos mecanismos darwinianos de evolução. Ou então, temos que nos habituar à ideia de vermos rechaçar pela violência os grupos que tentam afrontar a ordem espontânea sem força para sustentarem a mudança que tentam operar, e resignarmo-nos a que é somente um efeito esperado das coisas. Seja no Darfur, em Timor Leste, na Chechénia ou com os Curdos.
Sem comentários:
Enviar um comentário