2008/08/13

Do Dumping Social

Há uns meses atrás lembro-me de ouvir a Ilda Figueiredo acusar a China de fazer dumping social sobre a Europa, atacando assim o panorama laboral europeu regulado por leis inflexíveis, as quais a eurodeputada comunista apelida de "ganhos históricos" adquiridos pelos trabalhadores. Atacava a globalização, porque achava que a globalização à qual assistia era a "globalização da perda de direitos".

As empresas europeias face a um custo salarial muito mais competitivo que o seu tendem a flexibilizar os seus contratos de trabalho, procuram contenção salarial e outsourcing. Por outro lado, o empresário chinês dispõe de trunfos poderosos, entre os quais o referido instrumento de dumping social.

A deputada comunista ignora por completo a reacção em sentido contrário. A força de trabalho chinesa está disposta a fazer sacrifícios apenas em troca de uma justa retribuição, e aumentos salariais chorudos. A regulamentação laboral na China tem sido a causa de crescentes dificuldades de gestão nesse país.

Hornbein is managing director of Asia operations for Richco, a Chicago firm that manufactures plastic fasteners, wire management devices and circuit-board hardware. Six months before the law was passed, Hornbein visited a Chinese labor bureau to learn about the new regulations and get advice on how to set up a labor union for his workers. But after running the numbers, Hornbein realized that complying with the labor rules would send his costs soaring out of control.
Adicionalmente, a apreciação da moeda chinesa, a par de regulamentações ambientais mais apertadas têm sido a causa de um encarecimento anual da mão de obra chinesa acima dos 15%.

Na China assiste-se por todo o país à criação de uma classe média com poder de compra crescente, num país anteriormente enfraquecido pela economia dirigida pelo estado maoísta. É cada vez mais difícil encontrar uma zona no território em que os trabalhadores se disponham a ser explorados. Malefícios da selvagem globalização neoliberal.

5 comentários:

Anónimo disse...

Possivel manchete de jornal:

"Deputada comunista acusa chineses de serem pobres"

Anónimo disse...

Filipe, não seja ingénuo. Os "trabalhadorres" chineses farão o que o partido único quer. Mas ficamos a saber que tipo de liberalismo aqui se defende. Desde que haja dinheiro, não importa se as pessoas possam ou não falar. Como é diferente e compreensivo o liberalismo português... ;)

Pedro

Anónimo disse...

Pensava eu que o objectivo máximo dos liberais, acima de tudo, acima mesmo do dinheiro, era a Liberdade. A coisa é um bocado mais relativa do que eu pensava. Uma prisão dourada, já dá para elogiar o regime.

Pedro

Anónimo disse...

Deve ser outra China, a sua. Na China há mais de mil milhões a viver com menos de dois dólares por dia. E quem manda, e manda mesmo, é o partido. Os chineses são price takers, os sindicatos são uma extensão do PC e os que não o são, são perseguidos. Estava a brincar, não estava?

Anónimo disse...

O nosso liberalismo é muito pouco ambicioso. Sempre fomos pequeninos, que se há-de fazer? O Filipe fica deslumbrado com os néons e arranha céus de Xangai e com as fotografias de chineses com objectos brilhantes. A falta de liberdade de expressão, a liberdade de associação, a repressão, etc, etc, são coisas que podem muito bem ser substituidas pela possibilidade que tem uma minoria de poder comprar mais alguns objectos.

Pedro