2008/05/26

Especuladores e usurários

(...) "Quando um preço aumenta tal indica que esse produto se está a tornar relativamente mais escasso."

Esta afirmação elimina radicalmente o fundamento básico do capitalismo (selvagem): a especulação.

Retirado de um comentário de JPG ao texto de LA-C Impostos sobre os combustíveis
A face visível do capitalismo selvagem são estas duas figuras. Especuladores e usurários. Mas o que são?

Um especulador é aquele que compra porque acredita (especula) que vai conseguir vender com margem. Não compra bens porque precisa (precisar é uma palavra importante) destes para produzir outros bens ou para o seu próprio consumo mas sim porque acredita que é capaz de os voltar a vender por um valor superior.

Um usurário, ou em termos correntes, um banqueiro ou banco, padece do mesmo mal do especulador. Também não produz. O usurário acumula dinheiro (outra palavra importante) e cede-o. Em contrapartida não se limita a receber o dinheiro que cedeu mas exige (ainda outra palavra importante) uma quantia adicional, a usura. O usurário tal como o especulador não cria, mas uma vez, apenas intermedeia.

Estes intermediários são as figuras que minam o bom funcionamento do planeamento central "orientado para o bem do colectivo". O especulador lembra a escassez e que esta tem valor. Se acredita que o preço está baixo compra para vender ao preço que acredita que vai conseguir praticar. Lembra que o valor de um bem é independente da vontade do planeador central.

O usurário lembra que o dinheiro tem valor e que o mesmo dinheiro tem mais valor hoje que amanhã. Lembra que se o volume nominal de dinheiro aumenta mais do que o valor dos bens existentes que o dinheiro vale menos e quanto maior esta tendência menor o valor do dinheiro no futuro. O usurário lembra que quanto maior a incerteza do valor da propriedade no futuro mais vale a propriedade, e logo o dinheiro, hoje.

Nem especuladores nem usurários forçam outros a transacionarem com eles. Poderá o bemfazejo planeador central dizer a mesma coisa?

Os especuladores e os usurários são de facto os mensageiros do horror. Do horror que é a realidade para os amantes da colectivização e consequente planeamento central. Não entendem a realidade, fujam do horror, adaptem-se ou desapareçam.

4 comentários:

Anónimo disse...

"Nem especuladores nem usurários forçam outros a transacionarem com eles"

Não sei se percebi...
Como se faz isso?

Anónimo disse...

"Nem especuladores nem usurários forçam outros a transacionarem com eles"

Não sei se percebi...
Como se faz isso?
No caso do petroleo trata se de uma dependencia...
A menos que exista uma cura para "largar o vicio".
Existe alguma clinica de reabilitação para Estados dependentes dos combustiveis-sujeitos-a-especulação-e-usurarios?

Ricardo G. Francisco disse...

Não há transacções forçadas. Conhece alguma?

Anónimo disse...

Ao tentar expor o rídiculo ideológico dos que falam em "capitalismo (selvagem)", penso que simplifica demasiado.
Atentemos à bolha do imobiliário. Durante anos importantes fundos investiram em imobiliário (chamemos-lhes especuladores). A consequência foi naturalmente a subida do preço das casas (a escassez de casas resultava apenas da falta de activos para especular). É verdade que os especuladores "acreditavam (especula) que iam conseguir vender com margem" mas a verdade é que, no final, não se verificou qualquer tipo de escassez. O que aconteceu foi simplesmente parecido com o jogo das cadeiras: todos foram comprando e vendendo com lucro até que a bolha rebentou e no fim, os que tinham comprado e ainda não tinham vendido "lixaram-se". O que é que isto tem a ver com escassez? Dir-me-à: cada um arrisca o que quiser e no final os houve quem perdesse, paciência. Concordo consigo em absoluto. Mas entretanto (e aqui vem a tal simplificação de que falei no início), não se pode esquecer de mencionar o efeito que tal "jogo" teve em famílias que, não sendo especuladores "compraram casa porque precisavam" a preços "elevados" (face à falta de escassez real) e agora vivem em tendas perdendo as economias de uma vida.