2008/05/08

Arte



Estive recentemente no MoMA onde aproveitei para tentar ficar um pouco menos incapaz de apreciar arte moderna.

Ouvi o que os senhores do áudio tinham a dizer sobre cada uma das peças e respectivos autores, o que recomendo especialmente a pessoas com tão pouca sensibilidade como eu .

Em dada obra de Pollack, artista tão apreciado por entendidos como incompreendido por mim, o comentador realçava a viragem da arte no sentido da expressão individual. A arte como expressão do interior sem objectivo de impacto em terceiros. A arte como forma de expressão individual. Ao artista a liberdade criativa para expressar-se sem a restrição de vontades alheias. A Arte como fim em si mesmo e não como meio para agradar terceiros.

Indivíduos que se querem expressar como bem entendem sem grilhetas. Devem ter esse direito todos concordarão. Ninguém se poderá opor ao livre exercício desta liberdade.

A interpretação deste direito foi mais longe. Os artistas têm necessidades materiais; Têm necessidades que vão para além da necessidade de se expressarem. Se a arte deixa de ter ser valorizada por outros; Se esta valorização é considerada uma grilheta; Se arte valorizada por terceiros pode até ser considerada do pior dos epítetos, de arte comercial. Se o artista não deve depender da valorização das suas obras por quem tem meios para as remunerar como pode ele receber meios para se alimentar, para viver? Se a Arte produzida não é remunerada voluntariamente, como é que o artista satisfaz as suas necessidades materiais?

A resposta em Estados sociais foi simples. O Estado, recolhe impostos à força aos indivíduos que produzem e que transaccionam bens valorizados por terceiros. Depois, os governantes distribuem parte deste dinheiro para alguns artistas de acordo com critérios não comerciais.

A minha primeira crítica é óbvia. Qualquer indivíduo tem que ter o direito de se expressar livremente. Não tem o direito de exigir meios de subsistência a outros indivíduos. Pode criar como lhe entender. Não pode exigir meios de subsistência por exercer essa liberdade.

A segunda crítica é dirigida à incoerência da solução. A Arte em vez de ser remunerada em função da valorização de terceiros que dispõe dos seus próprios meios passa a ter a sua remuneração a depender dos gestores do dinheiro colectivizado. Os artistas continuam a depender dos meios para viver. Não existe independência. Para os artistas financiadas pode existir independência para criar. As suas obras não estão a ser avaliadas por potenciais financiadores. Mas não são independentes. Dependem da vontade discricionária dos gestores dos dinheiros públicos. Não é a Arte que é valorizada, são os seus autores que são valorizados pelos gestores dos dinheiros públicos.

Não é de admirar que tantos indivíduos ligados à arte estejam ligados à política. Não é de admirar que a Arte seja tão política e politizada. Tal como há mil anos atrás, hoje os artistas têm que agradar a quem lhes dá os meios para satisfazer as suas necessidades. Apenas transaccionam activos diferentes.

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