2008/04/13

Os Burocratas Japoneses



A cultura mediterrânica é apontada como o principal factor levando à má gestão, e ao fraco desempenho tanto das empresas privadas como dos serviços públicos no que diz respeito à fraca responsabilização e baixa produtividade em Portugal. Quem defende um estado forte e intervencionista minimiza desse modo os efeitos da má gestão do capital alheio, em detrimento de melhores resultados apresentados pela gestão de capital próprio, ou gestão por administradores da confiança dos accionistas. Apresenta a inevitabilidade dos factores culturais como o maior desafio a ultrapassar, recusando entregar muitos dos serviços prestados pelo estado à gestão privada. Este é o caso do sector das reformas, onde se argumenta que o estado é melhor garante que um agente privado.

De modo a rebater esse argumento, gostaria de lembrar o escândalo das reformas japonesas. Existem neste momento cerca de 20 milhões de reformados Japoneses que não vão poder receber as suas reformas, porque o governo simplesmente deu descaminho aos dados referentes às suas cotizações. De facto, o processo de uniformização da informação das reformas resultou numa perda grotesca de informação, em que se perdeu irreversivelmente os dados de cerca de 20 milhões de pensionistas.

Os japoneses são conhecidos por serem metódicos, analíticos e disciplinados. No entanto, quando retirados do ambiente competitivo de uma economia de mercado, e colocados a trabalhar numa máquina burocrática do estado são incapazes de fazer face a elementos simples e conhecidos da sua cultura, tais como o seu calendário e a sua escrita. Os dois principais motivos da perda de informação do sistema de reformas japonês são:

  • A transcrição dos nomes dos pensionistas, anteriormente registados com ideogramas que permitiriam várias fonéticas
  • O calendário japonês que atribui a data de nascimento de acordo com os anos de um determinado reinado
Tendo assim vários candidatos às contas fantasma não identificáveis, rapidamente têm aparecido incentivos para "facilitar" a identificação das suas cotizações. A gestão burocrática de capital alheio anda de mãos dadas com a cultura dos envelopes recheados. Os erros e as atribuições "erróneas" já surtiram efeito, tanto no caso de pensionistas que começaram a receber reformas bem abaixo dos seus descontos, como no caso de modestos reformados que têm passado os seus fins de semana em ressorts de golf. Será de acordo com esses critérios que serão reconhecidos os 20 milhões de processos fantasma.

1 comentário:

Carlos Guimarães Pinto disse...

Um factor agravante é que no Japão, o sector público tende a atraír os melhores licenciados das melhores faculdades. Ou seja, tendencialmente o sector público terá as pessoas mais capazes do país.