2008/01/13

País sem lei



Apeteceu-me fazer um exercício de fair-play e divulgar uma intervenção parlamentar de José Soeiro, deputado que se senta do outro lado do hemiciclo. Posso dizer que subscrevo no entanto a integralidade do discurso. Agradeço ao deputado o relato dos factos que comprovam que a lei não é cumprida no nosso país. E agradeço a normalidade no seu modo de vestir. Porque a maioria dos portugueses não se vestem como se estivessem a regressar do enterro do pai.

Para quem alega que a praxe nada tem a ver com as agressões, vale a enumeração das agressões que são permitidas e aceites socialmente sob a sua capa. Nesses casos, a lei e os agentes da autoridade ajudam o agressor. Para efeitos de exemplo, a praxe do curso de direito da universidade nova de lisboa teve este ano a colaboração dos agentes da esquadra da PSP. Os agentes apareceram tal como combinado com a comissão de praxe e levaram os praxados para a esquadra, por estarem alegadamente a contribuir para a desordem pública.

7 comentários:

Anónimo disse...

Ao que parece, o estudante que agora ficou paraplégico numa praxe foi porque se atirou de cabeça para baixo por um escorrega para dentro de uma piscina pouco funda, tendo batido com a cabeça no fundo e partido o pescoço.

Mas eu creio que (1) ninguém obrigou o estudante a fazer tal disparate, e (2) os jovens, estudantes ou não, fazem infelizmente muitos disparates análogos, sem ser no contexto de praxes.

Por exemplo, aqui há uns tempos morreram 5 jovens num desastre de automóvel, no Cais do Sodré em Lisboa, porque o condutor teve a interessante ideia de furar uma passagem de nível e enfiar-se diretamente por debaixo de um combóio que ia a passar.

É muito difícil proteger jovens em geral, especialmente machos, de si mesmos. Têm uma irreprimível tendência para fazer asneiras e coisas altamente arriscadas. Nem sempre se deve culpar terceiros.

Luís Lavoura

Igor Caldeira disse...

Se alguém se quiser atirar de uma ponte que o faça. O que não é admissível é que se ataque quem denuncia abusos ou que polícias usem a autoridade estatal para dar cobertura a situações deste tipo. Uma ou duas semaninhas de suspensão far-lhes-íam muito bem.


PS - a censura passou por aqui? O título do post não era este.

Ricardo G. Francisco disse...

Filipe,

Estes casos não chegaram a tribunal, não foram investigados?

Parece-me que sim. Se existe problema é nas investigações e na aplicação da lei em geral. Casos no contexto das praxes ou não.

O que o José Soeiro quer é uma leizinha estatal a proibir as praxes. Já imagino as páginas e páginas de lei e regulamentos...

Que tal pedir-se para aplicar a lei que já existe que não permite que um indivíduo prescinda do seu direito à integridade física?

PS: Antevejo pelo menos 30 comentários

JLP disse...

"Agradeço ao deputado o relato dos factos que comprovam que a lei não é cumprida no nosso país."

E, verifica-se, a solução para o problema é criar uma nova lei adicional...

Filipe Melo Sousa disse...

Respondendo ao Ricardo e ao JLP,

não é de todo a minha leitura sobre o discurso do José Soeiro que seja necessária uma nova lei. Apenas deve-se aplicar as que existem e acabar com o regime de excepção de facto que a capa da praxe exerce, garantido imunidade a quem pratica certas agressões em seu nome. Nas palavras do deputado "o estado de direito fica à porta da faculdade".

Igor Caldeira disse...

"Apenas deve-se aplicar as que existem e acabar com o regime de excepção"

É isto e é simples. Chama-se - imagine-se, coisa aberrante - Estado de Direito.

Anónimo disse...

"E agradeço a normalidade no seu modo de vestir. Porque a maioria dos portugueses não se vestem como se estivessem a regressar do enterro do pai.
"

"normalidade do seu modo de vestir"
Tem piada, pensei que Democracia era NÃO haver "normalidade" nomodo de vestir.
Talvez se refira à democracia de Hugo Chávez.

Quando a ganga era vestida por ser barata e resistente, ainda vá lá,mas
agora?
Com as gangas rasgadinhas de fábrica?
E meninos que desmaiam só de verem uma ferramenta?

"Porque a maioria dos portugueses não se vestem como se estivessem a regressar do enterro do pai."

Sim, estou mesmo a ver, ir-se a um enterro com o fato que se vai a casamentos...

Ou então ir a um casamento de ganga!