2007/11/09

La Plus Grande Nation du Monde



Existe algo diferente na ovação de pé que os congressistas americanos conferiram ao presidente Sarkozy após ter discursado na sua câmara. Em comparação com outras recepções semelhantes. Desta vez tem algo de verdadeiro, sem espinhas. Sarkozy veio falar de amizade. Os amigos são algo que escolhemos. Qualquer amizade ou afecto tem na verdade a sua divisa. E no congresso americano ontem, a moeda de troca estava solidamente ancorada na confiança mútua. Ao invés dos ocos salamaleques fiduciários que Chirac teria concedido numa situação semelhante.

Reposta a subordinação ilustrativa da arte da retórica, que Sarkozy domina perfeitamente, é deste modo franco que o chefe de estado se apresenta. Com a mesma sinceridade que na véspera se dirigiu a uma multidão de pescadores grevistas em fúria que bloqueou (ilegalmente) o abastecimento de fuel dos portos franceses, protestando contra o seu aumento. O chefe de estado aparece pessoalmente, desprovido de discursos demagógicos, encarando a multidão, sem alguma vez se mostrar comprometido, ou minimamente complexado pelo recente aumento em 140% do seu salário. Em Portugal seria a morte política auto-infrigida. Aos insultos, Sarkozy desafia os mais colerosos para se aproximarem, e lhos repetir pessoalmente em francês correcto. "c'est toi qui as dit ça? Viens ici le dire!"

A franqueza tem como corolário um tratamento distinto de amigos e inimigos. O apaziguamento não tem lugar no seu dicionário. Apenas os amigos são tratados como amigos. Afinal, pretender ter afecto por todos é perder o poder de discernimento. Ayn Rand dizia que quem pretendia amar toda a humanidade, na verdade desprezava o ser humano, esperando apenas o pior de cada um.

É perante a recusa da diplomacia contrafeita que é de saudar um momento genuíno. Desprovida de falsos entendimentos. Desprovida de intenções não declaradas. Sem líderes de fachada de estados falhados. Livre das combubinas de fachada. Dois homens falam de igual para igual. Dizem aquilo que o resto do mundo se envergonha de pensar. Será preciso recuar aos anos 80, e comparar o entendimento entre Reagan e Thatcher para se encontrar um alinhamento de posições semelhante. A França de Sarkozy rompe definitivamente com o Gaulismo.

O verdadeiro afecto é em regra geral objecto de verdadeira inveja. A cobiça é um fenómeno parasitário dos valores genuínos. Já o afecto, esse alimenta-se por si. Não são necessários catalisadores para a união. Foi nesse aspecto que me reconheci na ovação dos congressistas. Senti algo de tão verdadeiro e familiar como a resposta da libido a um apelo demasiado indesmentível.

3 comentários:

Carlos Guimarães Pinto disse...

Magnífico texto.

Cirilo Marinho disse...

Subscrevo.

Grande posta.

Anónimo disse...

Muito bom !