Sinais dos Tempos
Sinais dos tempos. Informa hoje o New York Times que Alberto Gonzales deu instruções claras para que se utilizassem técnicas de tortura nunca antes utilizadas pela CIA em interrogatórios de suspeitos terroristas. A notícia é acolhida como seria de esperar em ambiente de histeria geral. As técnicas de interrogatório foram objecto de censura e suspeita por parte da comunidade internacional. A dor física, ameaça da mesma, simulações de afogamento são métodos utilizados com o objectivo de obter informações. Ainda hoje as técnicas de interrogatório em pormenor permanecem secretas, de modo a que os suspeitos tenham fracas possibilidades de se poder treinar para os interrogatórios forçados da CIA.
Um pouco a mesma assimetria de informação que é utilizada ao obter o consentimento forçado quando se trata de recrutar caloiros universitários para sessões de humilhação pública, num ritual apelidado de praxe. Comenta no meu anterior post Pedro Menezes Simões que a desigualdade no acesso a informação cria problemas na liberdade contratual. Plenamente de acordo, falhou-lhe apenas a clarividência ao discernir as situações em que temos uma arma apontada, ou em que somos sequestrados por grupos em superioridade numérica. Quando confrontados, perante arma apontada, a uma escolha da qual desconhecemos as consequências, não temos propriamente a escolha de não ingressar na actividade proposta pelo nosso "parceiro". Sendo a vítima abordada e sequestrada, é-lhe dada uma opção sob coação.
Noto para concluir que segundo esta doutrina, a humilhação e agressão são legítimas quando em proveito da diversão e boçalidade dos membros da comissão de praxe. Já quando se trata de proteger uma nação de ataques terroristas, nada de usar a força para interrogar criminosos comprovados. Assim vai a assimetria moral em Portugal.
2 comentários:
Filipe, eu proponho queinvestigues qual a percentagem de caloiros que se sujeitam a actividades praxistas. Eu diria que 50% será um estimativa elevada. E isto, porque os outros 50%, nas mesmas condições optam por não participar. Numa altura em que se fala tanto de praxes e de problemas com a praxe, falta de informação é que não existe. Será assim tão difícil aceitar que a maior parte das pessoas que lá estão, querem lá estar? Se não quiserem, são livres de não ir e sabem disso?
Se passares por esta altura em muitas universidades são mais os alunos a distribuir panfletos anti-praxe do que aqueles a praxar...
É um assunto que me bate à porta. Tenho acompanhado o assunto de perto, quase como se o tivesse vivido pessoalmente. Nem de perto te confirmo 50% de fuga. Em Lisboa, onde a praxe é mais soft, conheço poucas faculdades em que assim é. Assistes a sessões de humilhação pública lado a lado com a distribuição de panfletos por alunos que - pasme-se - nunca são caloiros.
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