2007/09/26

A minha casinha (3) e a geração aprisionada

Concordo claramente com o André Abrantes Amaral quando diz que somos uma geração aprisionada. A relação da vasta maioria das pessoas da nossa relação com a "casa" é semelhante ao da relação com a "licenciatura". O meio confunde-se com o fim.

Precisamos de casa para ter um tecto, leia-se um espaço privado e resguardado. O que nós precisamos é do direito de usufruto da casa. Este é o fim. O meio pode ser (ou não) a propriedade da casa. Precisamos de ter um meio de subsistencia, uma fonte de remuneração, de trabalho. A licenciatura é um meio para facilitar o acesso ao trabalho remunerado e a trabalhos melhor remunerados.

O mercado de "arrendamento novo" foi praticamente destruído. A nova lei de arrendamento veio no bom sentido assim como o método de resolução dos conflictos decorrentes deste tipo de contratos. Com o empurrão da crise do mercado imobiliário, que forçou a análise de formas alternativas à venda de rentabilização dos imóveis o que se está a ver no mercado é um aumento cada vez maior da oferta com redução dos preços pedidos e tambem o consequente aumento da procura.

Tudo isto para dizer que, e intrometendo-me na conversa entre o André e o Filipe Moura, que de facto hoje com as taxas de juro de referência onde estão e com os valores de aluguer, a escolha entre o aluguer de casa e a compra, mesmo vista a mais de 5 anos depende muito do negócio em concreto.

Aluguei uma casa em 2002 e para o efeito andei a estudar o mercado (com letra pequena) na altura. Comprei uma casa em 2003 e para o efeito estudei o mercado (também com letra pequena). Aluguei uma casa em 2007. Posso dizer que os preços e as alternativas do mercado de aluguer são racialmente diferentes. A mudança foi rápida o suficiente para que exista uma enorme assimetria de informação neste mercado.

Agora, a decisão de compra de casa é uma decisão de investimento. Até há poucos anos em geral, para um usufruto da casa a mais de 5 anos, era mais barato comprar e pagar as prestações ao banco do que alugar e pagar a mensalidade ao senhorio.

Mesmo nesta altura as análises económicas eram enviesadas pelos seguintes factores:

1. A valorização emocional da propriedade. Ter casa tem valor por si.

2. A desvalorização da mobilidade. A possibilidade de mudar de casa, de bairro, de cidade ou de país parece ser desvalorizada pela maioria. A minha tese é de que as pessoas só dão valor à mobilidade depois de precisarem dela. O jovem proprietário de um apartamento no Porto que recebe uma boa proposta de trabalho em Lisboa que dada a sua casa/masmorra não é economicamente atractiva. De facto, a valoração da propriedade (1) é tão elevada que nem se pensa "what if" eu tivesse uma casa alugada em vez de casa própria.

3. A não contabilização do custo de oportunidade. Quanto renderia o dinheiro investido na casa se fosse colocado em um investimento alternativo?

4. Expectativas de rentabilização irrealistas. Apesar da percepção em contrário, de facto o mercado imobiliário não sobe sempre.

O ponto é que o investimento em bens imóveis, como qualquer outro tem de ser feito com cuidado. O cuidado que exige a brutal proporção do rendimento de uma vida que normalmente é colocado neste investimento.

Estas análises com números têm outra piada. Convido o Migas a postar a análise que me mostrou há uns anos sobre a rentabilização de imóveis durante a década de 90. Muito interessante.

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