2007/08/07

Educação - I

Ao contrário do Carlos, não acho que isto seja grave. Nada me indica que os adolescentes participantes no "gay parade" tenham definido a sua sexualidade pela participação na manifestação; por outro lado, a participação dos mesmos foi condicionada ao acompanhamento dos pais, pelo que os pais não só autorizaram, como fizeram questão de acompanhar os filhos durante a parada. Posto isto, se, como pai, me visse confrontado com uma situação semelhante, procuraria saber as razões que levariam o meu filho a querer participar; se as considerasse razoáveis, disponibilizar-me-ia para participar, sem, no entanto, deixar de dizer tudo o que de errado considerasse haver na dita manifestação.
Estaria, ainda assim e segundo o Carlos, a cometer um crime se o fizesse em alguns países ocidentais, o que não deixa de ser surpreendente. Desconheço quaisquer países onde este comportamento parental configure um ilícito criminal - muito menos, tal me parece possível em Portugal -, mas suponho que o Carlos me saiba dizer de que países se trata e qual o crime em questão. Finalmente, já assisti também, ainda que involuntariamente, a uma gay parade e, ao contrário do meu colega de blogue, dificilmente a descreveria como uma "demonstração de cariz sexual", seja o que for que se possa definir como tal. Mais, até acho que, em matéria de nudez, a gay parade, ao pé de outros eventos, peca por defeito, não passando, em todo o caso, pela cabeça de ninguém proibir os adolescentes de ver as pernas e peitos suculentos das figurantes nos diversos Carnavais. E ainda bem, porque triste será o dia em que isso venha a acontecer.
Tudo isto tem a ver com valores e é normal e sadio que as pessoas discordem; é também natural que as pessoas queiram educar os seus filhos de acordo com os seus valores. Desde que o Carlos não queira criminalizar ou de outra forma probir os pais de educarem os seus filhos de maneira diferente, vejo este caso com uma discordância normal entre liberais com valores morais diferentes. Convém, no entanto, lembrar que, se a tentação proibicionista começar a vingar, por uma razão ou por outra e de acordo com a doutrina que se imponha num dado momento, correr-se-á o risco de todos os pais serem presos e todas as crianças serem enfiadas em instituições do Estado. Hoje são os conservadores que querem responsabilizar os pais de jovens homossexuais que os acompanhem em manifestações, amanhã são os ateus que querem responsabilizar os pais por quererem que os filhos pertençam à Opus Dei e que sofram as restrições daí decorrentes.
Voltarei a esta tentação proibicionista quando escrever sobre a proibição de castigos corporais leves que a UE volta a querer impor em todos os Estados-membros.

Nota: ver também este post que oferece uma interessante comparação com a educação religiosa. Nesse ponto, em particular, parece-me que o autor acerta em cheio no que está em causa.

9 comentários:

Carlos Guimarães Pinto disse...

Zé, se considerarmos, como eu considero, que a única diferença entre hetero e homossexuais é a sua sexualidade, então teremos que vêr uma gay parade como uma demonstração de cariz sexual. Suponho que em Portugal e muitos outros países, a participação de crianças em filmes pornográficos (como observadores, obviamente) seria crime. Levar crianças a certos clubes também penso que não será permitido em Portugal e noutros países, embora não seja crime.

Em relação ao artigo que citas em cima, repara que até elementos da comunidade homossexual (detesto esta expressão) se opuseram ao facto. O comentário mais interessante que encontrei foi este:
Half of them claimed "an exhibitionist gay parade has nothing to do with the emancipation of gay rights anyhow." The other half said they were "dying to come to Amsterdam."

Isto não é uma questão ligada à forma como os pais educam os filhos mas sim o facto de uma educaçãpo deste género ter o alto patrocínio público.

Pedro Morgado disse...

Comparar uma parada a um filme pornográfico é do mais hilariante que já pude ler...

Se calhar o Carlos G Pinto acha que o Carnaval de Ovar é pura pornografia. Haja coerência.

Carlos Guimarães Pinto disse...

Meu caro Pedro, não havendo desfiles de orgulho hetero foi o melhor paralelo que encontrei. repare que realcei o facto "como observador". Mas se encontrar um paralelo melhor, diga-o. Depois coloque lá uma criança, e diga-me a sua opinião.

Anónimo disse...

Não, Carlos. Não é crime nenhum, como é óbvio, e não há comparação possível entre uma parada deste tipo e a participação em filmes pornográficos. Acho pateta a comparação, mas enfim, que todos os argumentos sejam esses.

Filipe Melo Sousa disse...

Carlos, devido ao facto de considerares a única diferença entre homo e heterossexuais o acto sexual em si, como se uma questão de regime alimentar se tratasse, percebo que vejas este evento como uma feira de sexo. Não é a minha impressão de todo. A minha percepção é a de um acto político em que se hasteiam certas bandeiras. Não vejo naquelas paradas nada de erótico, sexual, didático, sentimental, ou interessante. Apenas uma instrumentalização política que considero desinteressante, contraproducente e que nem representa as pessoas que os organizadores pretendem representar. Pelo contrário creio que a maior parte dos homossexuais não se identifica com este tipo de manifestações.

Não deixa de ser isso: uma manifestação política. E é apenas desse prisma que se coloca a questão: é legítimo deixar alguém sem percepção política, e sem percepção real da pertença ao grupo representado, devido ao facto de ser pre-adolescente, participar num acto de instrumentalização das mentes? Ora, eu vi tanta criança nas celebrações do 25 de abril em Lisboa, levados pelos pais. Não concordo com o acto.

Adenda: estive no último arraial gay de Lisboa juntamente com membros do MLS, um dos quais trouxe o filho menor (cerca de 8 anos) para o evento. Não creio que alguém tenha tido o intuito de iniciar o miúdo em algum tipo de sexualidade. Fê-lo num acto de tolerância.

JB disse...

Adenda: estive no último arraial gay de Lisboa juntamente com membros do MLS, um dos quais trouxe o filho menor (cerca de 8 anos) para o evento. Não creio que alguém tenha tido o intuito de iniciar o miúdo em algum tipo de sexualidade. Fê-lo num acto de tolerância. - Filipe Melo Sousa

É que nem sequer foi isso que neste caso aconteceu. Foram os míudos dos 11 aos 16 que convenceram os pais a irem com eles e não o contrário. A iniciativa partiu de um míudo de 14 anos que tem um site para míudos que se consideram homossexuais e que combinaram fazer um apelo desta forma. A participação dos mesmos foi condicionada à presença de um dos pais e, por isso, eles também estiveram presentes.

Pedro Morgado disse...

Caro Carlos,

Na linha do que disse o Filipe, trata-se de uma manifestação de cariz político e não sexual. A participação na mesma é uma questão de cidadania. O paralelo são as manifestações contra o racismo que se realizam em inúmeras cidades do mundo. Haverá algum mal em levar uma criança a uma manifestação desse teor?

Carlos Guimarães Pinto disse...

Caro Pedro,
Repito: a única diferença entre um homo e um heterossexual está no sexo. Se conhecer outra qualquer, por favor diga-me.
Não obstante a manifestação ser política só pode ter um carácter sexual. Da mesma forma que uma manifestação contra o racismo tem um carácter apenas racial. Eu pego na sua pergunta e coloco-lhe outras: haveria algum mal em levar uma criança a uma manifestação racista e xenófoba?

JB disse...

Não obstante a manifestação ser política só pode ter um carácter sexual. - Carlos

Acho que confundes orientação sexual com sexo. Ser-se hetero ou homo significa apenas que se gosta de pessoas de outro ou do mesmo sexo. Gostar significa que se quer conhecer essas pessoas, andar de mão dada, ir ao cinema com elas, etc, etc...uma relação amorosa não se reduz ao sexo, muito pelo contrário este apenas uma das suas componentes. Estás a confundir a máquina com o parafuso, para utilizar uma metáfora.

Um abraço,