Eduardo Prado Coelho (1944 -- 2007)
Não o conheci pessoalmente mas o tempo tanto a ler as suas crónicas no Público deixaram-me com um enorme sentimento de proximidade e familiaridade. Recordo três quatro cinco momentos no Público. Não sei porquê três quatro cinco.
1. o dia em que tive a forte sensação de que fazia crónicas por encomenda de editores de livros e música. Senti-me de tal forma traído que durante uns dias tentava evitar sequer olhar para o rectângulo que, na altura, era na última página. O problema é que a crónica era também na página do Calvin. Lixava-me o esquema.
2. O dia em que a crónica era, nem mais nem menos, do que uma despedida repenicada do Calvin: o dia em que o Calvin ficou na última página e o Eduardo passou para dentro do jornal. Gostaria de saber, caso fosse outra pessoa a faze-lo, que elaborado comentário teria ele sobre as complexas relação entre significados e significantes e a quebra de vizinhança em papel de jornal.
3. As esquerditices dele tais como os milhões de crónicas que dedicou ao plano nacional de leitura e os triliões de crónicas sobre Paris.
4. O dia em que fui ver o Saraband do Ingmar Bergman ao Alvaláxia exactamente na mesma noite que ele e o orgulho que senti qdo uns dias depois saiu a crónica.
5. A crónica que recentemente fez sobre Miguel Torga em que me pareceu dizer que Torga não merece o relevo que tem. Pareceu-me haver ali um odiozinho de estimação que ia para além de Torga (ao que parece) não falar francês. Mas, enfim, nem todos podem ser o Eduardo Lourenço.
O homem, essencialmente, irritava-me. Mas sem ele, o Público ficava incompleto. Uma espécie de jantarada sem café no final. Não me lembro de mais ninguém por quem pudesse dizer isto (o VPV não conta).
Que descanse em paz.
Sem comentários:
Enviar um comentário