2007/07/13

O Ceptro de Ottokar

O jogador Zequinha catapultou-se ontem para as páginas dos jornais, saindo definitivamente do anonimato do Grupo Desportivo Tourizense. Até ontem nunca tinha ouvido falar do seu nome, nem do clube onde joga.



Existe um factor na discussão com o árbitro que mata a discussão. O seu argumento último é o cartão que este pode apresentar, encerrando assim qualquer diálogo. Mesmo quando o árbitro não usa desta arma, a sua presença está sempre subliminar na sua decisão, no seu discurso, e nos comportamentos dos jogadores.

Há algo que eu tenho de admirar no gesto deste rapaz. E confesso que me reconheço neste tipo de gestor contra a autoridade. Estas decisões tomam-se numa fracção de segundos. O Zequinha estava a fracos minutos de ver o seu esforço de meses de preparação ir por água abaixo. É a alguns minutos do fim, que no seguimento de alguns "mimos" entre as duas selecções, que Mano é expulso por agressão, ao protestar contra um jogador português que foi mandado ao chão. A autoridade exerce assim o seu argumento, como seria de esperar.

E de repente, os papéis invertem-se. Por alguns breves momentos, e perante milhões de espectadores, um jogador destaca-se dos restantes para passar de julgado a juiz. No momento em que o Zequinha retirou o cartão ao árbitro, a sua postura de autoridade extinguiu-se imediatamente. Sem saber como agir, Subkhiddin Mohd Salleh não tinha superioridade argumentativa, nem superioridade bélica para retorquir. Qualquer gesto que ele iniciasse seria anulado. Ficou durante uns segundos sem reagir, descoberto perante a sua mera condição de homem comum. Nu perante o gesto de revolta do Zequinha, desconfortável perante a sua condição. Não demorou a ir buscar um segundo cartão ao bolso, para utilizar o seu argumento último. Mas tarde demais, pois a imagem permanece.



Uma monarquia restaurada nunca é restabelecida no seu esplendor. A coroa sobre a cabeça do monarca aparece amolgada do rebound. Quando Luís XVIII entra em Versailles em 1815, nada mais era que um fantoche manipulável das potências europeias. Gordo, e envelhecido, desprovido do seu poder absoluto.

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