Que bom o regresso à guerra fria!
(Cox & Forkum)
Para Putin, o desenvolvimento de mecanismos defensivos por parte dos EUA é casus beli suficiente. Perante tal afronta, o gigante militar adormecido volta a ameaçar apontar as suas ogivas nucleares para a... Europa. Como medida de retaliação, e para encher o ego ferido da nação Russa.
A mensagem é clara: não é o território russo, nem a sua segurança que estão em causa. A Rússia não prescinde de ter um poder de ameaça sobre os estados europeus. É disso que se trata. Caso um escudo anti-mísseis seja construído em território Europeu, a Europa volta a estar na mira das ogivas. Mais: a uma escalada dos sistemas defensivos, a Rússia responde com uma escalada do seu poder de fogo. Putin ameaça:
we will have to take appropriate steps in response. What kind of steps? We will have to have new targets in Europe, (...) These could be targeted with "ballistic or cruise missiles or maybe a completely new systemClaro que há sempre quem veja nisso um motivo de alegria. Numa lógica maniqueísta, qualquer coisa que incomode o grande satã é motivo para festejar, nem que o motivo da festa seja termos uma arma apontada à cabeça.
16 comentários:
Há que ver que as armas defensivas fazem tanto parte do equilíbrio de terror como as armas ofensivas. Se os EUA têm armas defensivas algures, isso quer dizer que as armas ofensivas russas perdem (parcialmente) a sua eficácia, na medida em que podem ser intercetadas pelas armas defensivas dos EUA. Então, as armas ofensivas que os EUA têm apontadas à Rússia ficam descompensadas. Então, a Rússia, para equilibrar, tem que construir novas armas ofensivas, que restaurem o equilíbrio.
Ou seja, as armas supostamente defensivas são tão importantes no equilíbrio como as ofensivas.
Luís Lavoura
Caro Filipe
Vou explicar melhor o "pensamento"
do LL :
-Se um polícia andar com um colete à prova de bala, isso aumenta de tal ordem o terror dos bandidos, que eles coitados para poderem "trabalhar" são obrigados a adquirem armas mais potentes, que eventualmente perfurem os coletes dos policias.
-Se os malvados dos polícias deixarem os coletes à prova de bala, os bandidos já vão para o trabalho apenas com pistolas de água, ou com martelinhos de S. João.
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"Se os EUA têm armas defensivas algures, isso quer dizer que as armas ofensivas russas perdem (parcialmente) a sua eficácia, na medida em que podem ser intercetadas pelas armas defensivas dos EUA."
Mas esta frase está inteiramente certa, assim como as declarações de Putin são excelentes.
Já era tempo da Europa descobrir de que lado da barricada está a Rússia.
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Esta caixa de comentários merecia uma medalha blogosferica.
Mas quem são os bandidos neste caso? Alguém me explique por favor. Tantos anos de guerra fria e tanta história feita em cima da mesma e ainda há quem seja capaz de ver a preto e branco os maus da fita? Os bandidos e os coletes dos polícias? Então Putin é o bandido e Bush o polícia?
junq, se o menino não entende, não sou eu quem lho vai explicar :)
Mas olhe que agradecia mesmo uma explicação. Deve ser da minha loira cabecinha... Vá lá... explique-se mais um bocadinho... Dê-me um desconto... Ilustre-me por favor.
Então como dizia o Filipe, a Rússia é aquele país onde moram os maus, os papões. A Europa a mãezinha traída, enganada e desprevenida, os EUA a Prosegur do mundo, de colete à prova de balas, em quem confiamos supremamente que proteja as nossas fechaduras que a Fichet deve instalar para recebermos os Ivans, os terríveis barbudos bebedores de vodka, quando vierem assaltar-nos a casa.
Ajude-me lá a perceber mais um bocadinho por favor.
Obrigado.
Não sei.. não sei junq. Será que vale a pena? Será que o junq não é mais uma daquelas pessoas que gostaria muito de ter nascido na américa, mas como tal não aconteceu defende o seu ego a tentar convencer a si e aos outros que não deseja para si à partida o modelo ao qual tanto gostaria de pertencer? ou então daqueles chauvinistas franceses que gostam muito de qualquer contrariedade americana?
o junq é um menino mau.. diz coisas feias do tio sam que é uma pessoa idónea e oferece liberdade e justiça para todos. libertou-nos dos nazis, dos comunistas, e dos islâmicos. porque lhe quer tanto mal? vá.. liberte esse rancor que lhe vai na alma
Filipe,
Tenho que discordar.
Mas não acho que o peso da questão deva ser essencialmente colocado nos EUA, mas sim na Polónia e na Republica Checa, que aceitam instalar em seu território baterias de mísseis que, apesar das boas intenções anunciadas, ninguém vai ter capacidade de auditar e de ajuizar do verdadeiro uso. Nomeadamente, nem os polacos, nem os checos, nem os seus vizinhos, entre os quais a Rússia, que se possam sentir ameaçados.
Acho portanto perfeitamente justificado e uma resposta adequada que os russos sustentem que, se lhes põe mísseis na vizinhança, os países que os albergam passam a ser alvos. Afinal, o direito à defesa não é um exclusivo americano e dos seus aliados.
E não caiamos num double standard, esse sim maniqueísta, em relação a onde estão os bons e os maus.
Imaginemos que a Venezuela estacionava misseis anunciados como defensívos em Cuba, para construir uma defesa contra um eventual ataque americano. Dirias o mesmo?
Ou que o Canadá era um aliado russo, e que aceitava também instalar lá uma defesa do género, alegando a Rússia ser contra a possibilidade de um suposto ataque de um qualquer país da América do Sul com que tivesse relações difíceis. Alguém poderia alguma vez conceber que os EUA ficariam de braços cruzados a olhar impávidos e serenos?
Vale sempre a pena. Uma pequena semente poderá vir a ser uma árvore frondosa no futuro. Vá lá... deite um pouco mais de água cá para fora, vá lá...
não sei junq não sei.. olha como eu estou cercado, até cá por casa. Até o JLP considera os americanos como uns canalhas interesseiros e imperialistas.
Depois ainda levo porrada dos dois. O que interessa as minhas convicções? Eu não passo de um porco neo-liberal
Confesso não saber avaliar quanto à parte do porco, mas as suas convicções de neo-liberal são úteis e cumprem pelo menos o papel de aguçar o debate. Obrigado pelo post e comentários.
"não acho que o peso da questão deva ser essencialmente colocado nos EUA, mas sim na Polónia e na Republica Checa"
Não sei se concorde.
Seundo afirmam os EUA (e, suponho, a NATO?), os mísseis são para defender a Europa de um eventual ataque por parte do Irão.
Eu acho esta desculpa perfeitamente doida. Tem sido abundantemente propagandeado que o Irão faz, volta-e-meia, testes de mísseis capazes de atingir... Israel. Ou seja, o Irão terá, na melhor das hipóteses, atualmente, mísseis capazes de atingir Israel. Não terá, de certeza, mísseis capazes de atingir a Europa, que fica muitíssimo mais longe.
Ou seja, parece-me evidente que a desculpa sobre o Irão é mentira. Segundo as próprias coisas divulgadas pelos mídia, o Irão ainda está muito longe de alguma vez conseguir construir mísseis intercontinentais. Aliás, nem outros países têm tais mísseis, com exceção das superpotências.
Eu pergunto: qual o interesse da Polónia e da Rep. Checa em terem estes mísseis no seu território? Em minha opinião, nenhum. Esses países não têm nenhuma vantagem, em si mesmos, em terem lá os mísseis.
E qual é o interesse dos EUA em instalar os mísseis? Nenhum: os mísseis destinam-se apenas a defender a Europa. A única coisa que os EUA ganham - e não é nada pouco - é mais uma forma de o Estado doar dinheiro a uma série de empresas americanas - as que produzem os mísseis - em troca de objetos de utilidade mais que duvidosa.
Logo, contrariamente ao JLP, eu diria que quem tem a culpa disto não é a Polónia e a Rep. Checa, nem são os EUA: é a NATO no seu conjunto.
Luís Lavoura
Agora percebi muito bem o que disse Luis Lavoura. Na mouche.
Filipe,
"Até o JLP considera os americanos como uns canalhas interesseiros e imperialistas."
Não acho que os outros não fariam o mesmo estando na sua posição (ou que não se regem pela mesma perspectiva "interesseira"). O que eu critico é exactamente a complacência dos outros em relação a essa postura. Bem como o double standard com que se avaliam as situações dependentes dos seus participantes.
Em termos de política internacional nnao há santos e pecadores, nem superioridades morais. É tão somente isso que eu tenho a dizer.
LL,
"Logo, contrariamente ao JLP, eu diria que quem tem a culpa disto não é a Polónia e a Rep. Checa, nem são os EUA: é a NATO no seu conjunto."
A Polónia e a República Checa são estados soberanos, e a participação na NATO é uma decisão sua, que podem terminar a qualquer momento, e com a qual a Rússia não tem nada a ver. Se no seu interesse optam por lá permanecer e por se sujeitar à colocação dos referidos mísseis, é tão-somente natural e justo que também sofram das repercursões de o fazer.
Filipe Melo Sousa, eu não quero, de forma nenhuma, que te sintas "cercado". Gostaria de te fazer notar que estas questões, que têm a ver com o complexo militar- industrial, são questões que não são regidas pelo mercado nem têm absolutamente nada a ver com qualquer liberalismo. Aqui o que temos são Estados, os quais Estados usam o poder militar como forma de extrair dinheiro aos contribuintes para alimentar algumas indústrias de ponta - as indústrias de armamento -, as quais vivem em estreito conluio de interesses com esses Estados.
Trata-se, ao fim e ao cabo, de uma produção subsidiada de lixo. Os Estados pagam a certas indústrias para elas produzirem coisas que nunca serão utilizadas nem têm qualquer utilidade clara e indubitável, e que acabarão por ser deitadas para o lixo.
Alguém percebe qual é a utilidade, para os contribuintes americanos e europeus, dos mísseis que a NATO pretende instalar na Polónia e Rep. Checa? Ninguém percebe. Claramente, esses mísseis não vão aumentar a segurança da Europa, pelo contrário, vão diminuí-la, na medida em que estimularão a Rússia a construi e instalar novos e mais perigosos sistemas de mísseis ofensivos. Ou seja, os contribuintes americanos e europeus são forçados, pelos seus Estados, a subsidiar umas indústrias que produzem uma coisas que, em última análise, só os prejudicam.
Creio que qualquer liberal só pode estar contra estes mecanismos de intervenção do Estado na economia.
Luís Lavoura
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