2007/06/25

O Erro de Arroja

Aqui, Pedro Arroja insiste no erro que, na minha opinião, o afasta sistematicamente do liberalismo que tanto ajudou a difundir.

Uma sociedade liberal pugnaria pela defesa intransigente dos direitos negativos. E aqui está o problema que Arroja tem de resolver. Direitos negativos não pressupõem obrigações nem deveres das outras partes.

Quando define uma sociedade liberal como:

"(...) eu defini uma sociedade liberal como aquela em que todos cumprem as suas obrigações para com os outros.(...)"
Afasta-se da defesa de liberdades negativas por definição. Mais, concentra a sua atenção nas liberdades positivas, aquelas que exigem o cumprimento de obrigações de parte a parte.

A sociedade que define não é uma sociedade liberal, é uma sociedade, em que todos os indivíduos têm os mesmos valores e que por isso não necessita de uma entidade central para os impor. Sendo a eliminação da coerção pelo poder central uma coisa desejada em uma sociedade liberal, não pode ser considerada condição suficiente. Por mais que o seja defendido pelos mais distintos autores.

6 comentários:

JLP disse...

"(...) eu defini uma sociedade liberal como aquela em que todos cumprem as suas obrigações para com os outros. Na realidade, esta sociedade não necessita de coerção. Ela dispensa inteiramente as leis penais e certamente a maior parte das leis civis. Uma sociedade assim é a mais livre de todas as sociedades."

Sem dúvida uma opinião excelente candidata à lapalissada do mês. Basicamente, ao dizer que se as todas obrigações forem sempre cumpridas voluntariamente, não é precisa a coerção para nada.

E que levanta a dúvida sobre o que é que distingue essa suposta "sociedade liberal" de uma sociedade comunista.

O que eu duvido é que essa sociedade seja de humanos, e não de anjos. Afinal, o ditame de "cumprir as obrigações para os outros" é em grande parte incompatível com o conceito liberal de individualismo, ao subjugá-lo a um "desígnio mais alto".

Quizzer disse...

Já que andam a recomendar aos outros leituras filosóficas, tentem Tocqueville - mais um sistematicamente afastado do liberalismo que tanto ajudou a difundir.

"Afasta-se da defesa de liberdades negativas por definição"

Ou Berlin, que escreveu muito sobre liberdades negativas - recusando liminarmente essas interpretações mecânicas e extensivas. Foi o Arroja que escreveu "a definição de liberdade negativa como a capacidade de se fazer o que se quiser - que é, com efeito, a definição adoptada por Mill - não serve"?

"O que eu duvido é que essa sociedade seja de humanos, e não de anjos"

Ou Madison. Que, tal como o Arroja, não defendia que os arranjos políticos fossem imunes às práticas e culturas dos indíviduos a que se destinam.

AA disse...

Eu diria que Arroja pode definir "sociedade liberal" como entender. O seu é procurar corrigir a pouca liberdade que o socialismo nos "permite" com mais socialismo, desta vez "virtuoso".

Ricardo G. Francisco disse...

AA,

Não entendi.

Como é que eu procuro "corrigir a pouca liberdade que o socialismo nos "permite" com mais socialismo, desta vez "virtuoso"".

AA disse...

Ricardo, camarada, primeiro não te trato por "você", se isso não te fizer confusão. E desculpo-me eu, queria escrever "O seu [Arroja] _erro_ é procurar...". De resto, estou de acordo. De novo, desculpas pelo mal-entendido.

Ricardo G. Francisco disse...

AA,

ok. Esclarecido :)

É que eu sou muita coisa feia...mas socialista é que não ;)

Confesso que achei estranho o tratamento na terceira pessoa...mas não há nada como perguntar.

Abraço,

Ricardo