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Regressemos, por exemplo, a John Stuart Mill, cujo centenário passou o ano passado. Hoje é lembrado como um liberal. Mas Mill foi, no seu tempo, um "radical": desejou a extinção da religião revelada e a subversão da hierarquia social. Por isso mesmo, pregou o princípio da autonomia individual contra o Estado. Mill acreditava que, uma vez libertos de constrangimentos, os indivíduos se deixariam convencer pelos melhores argumentos, e que esses argumentos eram os do secularismo e da igualdade, porque constituíam molas do progresso. Foi esta confiança que as esquerdas perderam. E à medida que a perderam, passaram a depender cada vez mais do Estado. Hoje em dia, à esquerda estão as forças políticas que acreditam na mentira que Nietzsche disse ter sido contada pelo Estado ("o mais frio de todos os monstros"): "Eu, o Estado, sou o povo." Ora, o Estado nunca é o povo, como em tempos as esquerdas souberam.
Rui Ramos no Público de hoje.
9 comentários:
"Hoje é lembrado como um liberal. Mas Mill foi, no seu tempo, um "radical"."
Se fosse hoje era um "liberalóide" ;)
Não, se fosse hoje, seria fortemente criticado pelos "liberalóides" no plano dos costumes e fortemente criticado pela esquerda no plano económico.
Sim, se fosse hoje. Mas no seu tempo, as suas ideias radicais, afastadas da realidade dos seus contemporâneos, talvez lhe valessem a designação de liberalóide. Hoje, como dizes, não passaria de um liberal moderado.
Mill, liberal e utilitarista!? Não me parece uma combinação muito coerente.
Mill, liberal e utilitarista!? Não me parece uma combinação muito coerente. - cmf
O princípio do dano:
"The object of this Essay is to assert one very simple principle, as entitled to govern absolutely the dealings of society with the individual in the way of compulsion and control, whether the means used be physical force in the form of legal penalties, or the moral coercion of public opinion. That principle is, that the sole end for which mankind are warranted, individually or collectively, in interfering with the liberty of action of any of their number, is self-protection. That the only purpose for which power can be rightfully exercised over any member of a civilized community, against his will, is to prevent harm to others. His own good, either physical or moral, is not sufficient warrant. He cannot rightfully be compelled to do or forbear because it will be better for him to do so, because it will make him happier, because, in the opinion of others, to do so would be wise, or even right... The only part of the conduct of anyone, for which he is amenable to society, is that which concerns others. In the part which merely concerns himself, his independence is, of right, absolute. Over himself, over his own body and mind, the individual is sovereign."
Mesmo que esteja longe de ser a melhor explicação do liberalismo, não deixa, parece-me, de estar em conformidade com a teoria liberal.
Sim, se fosse hoje. Mas no seu tempo, as suas ideias radicais, afastadas da realidade dos seus contemporâneos, talvez lhe valessem a designação de liberalóide - Carlos
No plano das liberdades económicas, as ideias de Mill até estariam mais em sintonia com a opinião pública do seu tempo do que com a opinião pública de agora. Infelizmente, porque, neste momento, o défice de liberdade económica é talvez o maior problema das sociedades ocidentais.
No plano dos costumes é que as opiniões de Mill eram muito avançadas para a época. E estou certo que teve de combater os seus César das Neves da altura. Infelizmente, também há émulos do César das Neves em blogues liberais, pelo que dificilmente o liberalismo se poderá colocar à margem do conservadorismo e do socialismo, onde deveria estar.
Esse Rui Ramos é aquele que sabe que o Estado não é o povo, mas, quando os EUA dão ordens, ele põe-se em sentido.
Rui Ramos tem uma obsessão por bater nas "esquerdas". Poderia de vez em quando variar um bocadinho e bater também nas "direitas".
Mas se calhar não lhe interessa.
"Sim, se fosse hoje. Mas no seu tempo, as suas ideias radicais, afastadas da realidade dos seus contemporâneos..."
"The libertarians are oldfangled folk, in the sense that they live by certain abstractions of the nineteenth century. They carry to absurdity the doctrines of John Stuart Mill (before Mill's wife converted him to socialism, that is). To understand the mentality of the libertarians, it may be useful to remind ourselves of a little book published more than a hundred and twenty years ago: John Stuart Mill's On Liberty. Arguments that were flimsy in 1859 (and were soundly refuted by James Fitzjames Stephen) have become farcical today. So permit me to digress concerning Mill's famous essay. Some books tend to form the character of their age; others to reflect it; and Mill's Liberty is of the latter order."
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