2007/06/21

Gestão Democrática do Dinheiro dos Outros

No âmbito da reforma dos actuais órgãos colegiais, os bloggers Nos Ladrões de Bicicletas, decidiram lançar uma cruzada pela participação democrática dos funcionários e consumidores na vida económica dos seus prestadores de serviço aqui e aqui:

Os actuais órgãos colegiais de gestão das universidades, compostos por representantes eleitos dos estudantes, professores e funcionários, são substituídos por um novo órgão, o Conselho Geral, onde os funcionários não terão lugar e os estudantes estarão reduzidos a um peso 20% do CG. A substituí-los estará um conjunto de «notáveis» da sociedade civil, com um peso de 30%. (…) este processo resultará na subordinação da universidade a interesses particulares. Estes não-eleitos “notáveis” serão sempre o fiel da balança de um órgão onde professores e alunos são eleitos por listas. A autonomia e democracia universitária, conquistadas há 33 anos atrás, acabaram, ironicamente (ou talvez não!), com um governo "socialista".

Com o novo regime jurídico o governo incentiva as universidades a tornaram-se fundações de direito privado. (…)Aplica-se a lógica do mercado ao ensino superior, favorecida pela homogeneização dos diplomas ocorrida com o processo de Bolonha, na vã esperança que a concorrência por professores e alunos resulte miraculosamente em excelência. O resultado é previsível: fim da autonomia científica de docentes e investigadores; subordinação do ensino superior às voláteis necessidades do mercado; assimetrias crescentes entre diferentes faculdades.
Luís Lavoura, numa posição com a qual muito concordo, já referiu há uns meses atrás:
Contratam-se novos professores, criam-se novas cadeiras e novos cursos, em função dos interesses dos atuais professores, e não em função dos interesses e necessidades da sociedade. Este é o resultado da forma de governação autogestionária das universidades portuguesas. As universidades são geridas pelos seus próprios professores, e pelos estudantes e funcionários. No jargão político português chama-se a isto "governação democrática das universidades", mas na verdade não é democracia, é autogestão. Os professores, estudantes e funcionários gerem as universidades em função dos seus interesses pessoais e de classe(…).

Deve ser o Estado a gerir as universidades, uma vez que é o Estado quem as pagou e paga. As universidades são empresas. Quem as gere deve ser o seu proprietário, em função de diretivas políticas que esse proprietário define. (…) Isso sim, é democracia. (…)No caso das universidades privadas, elas têm que deixar de ser propriedade de cooperativas de professores, como a lei atualmente - e erradamente - estabelece, para passarem a ser propriedade de fundações privadas. (…). A autogestão dos professores em colaboração com os estudantes e funcionários, em que muitas universidades se encontram, não é democrática, e tem como consequência a reprodução de interesses instalados.
Após isso, seguiu-se o contraditório de Hugo Garcia, perfeitamente em linha com os ladrões de bicicletas:
(…) coloca-se em o IST ser dirigido por gestão interna o que me parece ser extremamente adequado e certamente o modelo mais eficiente. (…)É elementar que os professores são quem sabe mais sabe sobre a qualidade do ensino. Mas é igualmente elementar que nem sempre os professores têm por interesse a solução que é melhor para todos. Não por maldade, mas apenas por desconhecimento ou por darem menos importância a factores que são muito importantes para alunos e funcionários. Naturalmente que a solução pragmática é a de os professores terem mais poder que os alunos ou os funcionários isolados, mas que por outro lado, os funcionários e os alunos quando combinados tenham mais poder que os professores isolados.

E esta foi a solução encontrada: O conselho directivo é formado por 4 professores, 3 estudantes e 2 funcionários. Esta solução combina a democracia com a diferença de importâncias e conhecimento. Qualquer outra situação como ter uma maioria absoluta do poder dos professores conduziria certamente a abusos de poder. Temos ainda que ver que quando estudantes e funcionários estão do mesmo lado, em princípio fazem-no porque têm razões muito fortes. Gostei de saber que as faculdades em Portugal (…) utilizam um método tão autónomono, democrático e pragmático.
De seguida nos comments do mesmo: Luís Lavoura: Tal como um consumidor protesta contra a má qualidade dos produtos de uma empresa, mas não gere a empresa, também o estudante deve protestar contra a forma como a universidade é, mas não deve ser ele a geri-la. O estudante é, simplesmente, um consumidor do ensino prestado. Não pode ser ao mesmo tempo consumidor e produtor.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ena pá, não é costume citarem-me elogiosamente neste blogue! Estou emocionado... até me vieram lágrimas aos olhos.

Um muito obrigado do fundo do coração, Filipe...

LL

Filipe Melo Sousa disse...

sou implacável. não perdoo elogios nem críticas, se tiver de ser caso disso!

sempre alerta!!!

Ricardo G. Francisco disse...

Eres malo. Muy malo.