2007/06/05

Eu estava bem melhor a morrer à fome

Suponhamos que eu estou a morrer de fome e disponho de uma única pessoa que me venda pão. Essa pessoa vende-me pão a um preço exagerado, aproveitando-se do seu poder de monopólio e do meu estado de necessidade. Num tal caso, dificilmente se pode argumentar que eu fico melhor depois da transação do que antes.

Luís Lavoura aqui em baixo
Agora mais um teasing:

Solução paternalista-liberal para o caso: limitar o preço do pão no local em que o Luís Lavoura mora
Resultado intermédio: Nenhum operador privado aceitaria vender pão naquela área
Resultado final: padarias do estado, senhas de racionamento, filas do pão,...

26 comentários:

Cirilo Marinho disse...

Já estive quase a fazer um post, mas não me está mesmo a apetecer maltratar ninguém.

Mas parece-me que o caso já está a ultrapassar o paternalismo e a assumir contornos de esquizófrenia.

Mentat disse...

"...que eu estou a morrer de fome e disponho de uma única pessoa que me venda pão."

Coma "croissants"...
.

Carlos Guimarães Pinto disse...

andas a amolecer...

Miguel Duarte disse...

Solução CGP:

Nada fazer. O mercado vai funcionar.

Resultado Final:

O Luís morre de fome quando precisa do 2º pão, pois já não tem dinheiro para o comer (gastou tudo no primeiro pão).

Conclusão CGP:

O mercado funcionou. O Luís simplesmente era dispensável da sociedade pois não tinha rendimentos suficientes para adquirir o 2º pão. Em termos de eficiência de mercado o 2º pão teve como destino quem dele mais precisava (ou seja, aquele que poderia pagar).

É irrelevante para o caso que o "mercado" não exista de facto quando se está em situação de monopólio.

Carlos Guimarães Pinto disse...

solução CGP:
Nada fazer. O mercado vai funcionar.

Resultado intermédio: alguém repara que há ali alguém a vender pão a 500 contos a unidade e lembra-se que isso pode ser um grande negócio. Acorrem muitos vendedores ao local.

Resultado final: O Luís Lavoura pode comprar pão a preços acessíveis.

Filipe Melo Sousa disse...

Solução Miguel Duarte: "vamos criar uma nova classe de impostos para alimentar a família Lavoura, assim como os seus descendentes"

Resultado Final: A família Lavoura tem por tradição um agregado familiar muito grande, e as suas necessidades de alimentação crescem exponencialmente. Os contribuintes restantes são uma população estável, cuja colecta cresce linearmente. A produção de pão vai de par com a economia. Após três gerações temos guerra e fome generalizada. No fim, não há pão para ninguém, apesar da oferta monetária artificialmente expandida pelo banco central governada por uns "liberais" neo-keynesianos. Depois de mastigar as últimas notas de valor fiduciário, a humanidade extingue-se.

Ricardo G. Francisco disse...

Miguel,



Por que razão é que o vendendor não venderia o segundo pão mais barato se chegasse à conclusão que o comprador não poderia pagar mais?

Resposta socialista:

Porque é um desses capitalistas sanguinários que vivem para fazer sofrer os proletários.

Ricardo G. Francisco disse...

Cirilo,

A mim não me faz confusão maltratar...às vezes um abanão faz bem.

Carlos Guimarães Pinto disse...

"Resultado Final: A família Lavoura tem por tradição um agregado familiar muito grande, e as suas necessidades de alimentação crescem exponencialmente. Os contribuintes restantes são uma população estável, cuja colecta cresce linearmente. A produção de pão vai de par com a economia. Após três gerações temos guerra e fome generalizada. No fim, não há pão para ninguém, apesar da oferta monetária artificialmente expandida pelo banco central governada por uns "liberais" neo-keynesianos. Depois de mastigar as últimas notas de valor fiduciário, a humanidade extingue-se."

Muito, muito bom!

Miguel Duarte disse...

"Resultado intermédio: alguém repara que há ali alguém a vender pão a 500 contos a unidade e lembra-se que isso pode ser um grande negócio. Acorrem muitos vendedores ao local."

Se já existia monopólio no mercado, deveria haver alguma razão de ser para o mesmo. Se não o desgraçado do Luís não estaria a morrer de fome.

"Solução Miguel Duarte: "vamos criar uma nova classe de impostos para alimentar a família Lavoura, assim como os seus descendentes""

Não, se tiver um mercado mercado monopolista, parece-me uma melhor solução acabar com o monopólio. Agora, por vezes, as medidas para se acabar com um monopólio são duras para quem tem o monopólio.

Miguel Duarte disse...

"Por que razão é que o vendendor não venderia o segundo pão mais barato se chegasse à conclusão que o comprador não poderia pagar mais?"

:) Eu pensei nisso, a conclusão a que cheguei é que o número de pães era limitado e existiam outros consumidores no mercado a oferecer mais dinheiro pelo pão.

Possivelmente, ao vendedor de pão que tinha o monopólio (não sabemos porquê), bastava vender um pão para viver feliz e não lhe interessava vender mais pães (seria uma empresa pública? ou talvez uma ex-empresa pública recentemente privatizada).

Existe também o risco de "estragar" o mercado. Ou seja, ao venderes um pão a um comprador por um preço mais barato (ex: 10 €), o outro comprador que tem mais dinheiro para oferecer pelos teus pães (ex: 500 €) pode chegar à conclusão que está a dar dinheiro a mais pelos mesmos e montar uma revolução qualquer (género, abrir uma padaria própria). Por isso o vendedor pode decidir que é melhor deixar o Luís morrer à fome.

JLP disse...

"Não, se tiver um mercado mercado monopolista, parece-me uma melhor solução acabar com o monopólio."

Fica a dúvida do "como".

De qualquer modo:

Solução JLP: Quem não conseguir comprar ou produzir o necessário para viver, recebe diariamente da safety net a quantidade mínima de calorias e de nutrientes que impeça que ele morra. O pão é vendido como quem o produz bem intenda.

Anónimo disse...

":) Eu pensei nisso, a conclusão a que cheguei é que o número de pães era limitado e existiam outros consumidores no mercado a oferecer mais dinheiro pelo pão.(..)Por isso o vendedor pode decidir que é melhor deixar o Luís morrer à fome."

LOL! Mas isto é o quê, pá? Esta gente nunca leu um manual de economia na vida?

Filipe Melo Sousa disse...

Solução do Filipe:

ir buscar a Maria da fonte e o pessoal da forquilha. Marchar em direcção ao ministério da economia, e prender o Pinho. Deixa de haver racionamento da farinha, que era necessário segundo o governo para manter a PAC.

A indústria de panificação floresce, e toda a gente come à sua fome. Para além disso, a família Lavoura continua a crescer de geração para geração, sempre em contenção calórica. Mas ao longo de muito tempo, existe uma pressão selectiva sobre o excesso de consumo. Sendo o mais apto aquele que consegue sobreviver com uma dieta menos calórica, surge um novo tipo de "homem verde", que funciona a baixo consumo. O povoamento da terra é progressivamente substituído por essa nova espécie que se impõe ao homus americanus capitalistius.

Miguel Duarte disse...

"Fica a dúvida do "como"."

Calculo. ;) Sendo que nós nem sabemos se o mercado comporta mais do que um produtor (ex: se calhar só há dois consumidores de pão no mercado). Pode-se dar a situação em que quebramos o monopólio e vão as duas empresas à falência, morrendo todos de fome.

"Quem não conseguir comprar ou produzir o necessário para viver, recebe diariamente da safety net a quantidade mínima de calorias e de nutrientes que impeça que ele morra."

Esta frase está de morrer. Acho que mais valia ao Luís emigrar (se ainda tivesse forças para tal).

Carlos Guimarães Pinto disse...

"(seria uma empresa pública? ou talvez uma ex-empresa pública recentemente privatizada)."

Provavelmente alguém tinha achado no passado que o que mais convinha era impor limites ao preço do pão e a coisa resvalou...

Mas aqui estamos a fugir à questão principal. O Luís Lavoura afirmou que numa troca comercial voluntária, uma pessoa pode ficar pior do que antes da troca o que está manifestamente errado. Neste caso, o vendedor fica satisfeito por ter mais 500 contos, o Luís Lavoura não morre de fome. Ficam todos a ganhar. Se no dia seguinte voltarem a fazer o mesmo, voltam a ganhar.
A questão do monopólio é uma questão diferente. Se a situação de monopólio surgir de uma imposição central então não se pode falar em mercado livre, e justificar-se-iam restrições de preço. Por outro lado, se um monopólio surge de um mercado livre então uma limitação de preços, só levará a uma restrição da oferta ou um controle público sobre a actuação da empresa.

Ricardo G. Francisco disse...

Miguel,

Duas respostas para as tuas dúvidas:

- Flexibilidade e concorrÊncia.

Tudo resumido em mercado livre. O fornecimento de pão é um excelente exemplo de um mercado que não deve ser regulado por todas as razões.

JLP disse...

"Esta frase está de morrer. Acho que mais valia ao Luís emigrar (se ainda tivesse forças para tal)."

Não estou a ver porquê. O Luís já não morre de fome. Problema resolvido.

Miguel Duarte disse...

"Flexibilidade e concorrÊncia."

Completamente de acordo, tal sendo possível.

Ricardo G. Francisco disse...

E porque é que não é possível no mercado do pão?

Cuidado com a resposta porque se estiver bem fundamentada pode dar-te um prémio nóbel da economia...

João Pereira da Silva disse...

O mercado do pão é de primeira necessidade como o dos combustíveis. A oferta em concorrência imperfeita tende a anular a concorrência e a concentrar-se. Como os empresários procuram, por defeito, artificialidades de modo a aumentar a margem acima do crescimento dos custos de produção, sem regulamentação, os mercados do pão e dos combustíveis tenderão ao monopólio. O nível da regulamentação e como a fazer é que poderá ser discutido. A ausência de regulamentação é mercado imperfeito. Não é mercado. Em uns, sente-se mais a sua falta, noutros menos. Tipicamente é naqueles mercados que atingem mais consumidores que é precisa mais atenção da regulamentação.
Nos combustíveis, passamos agora por um momento onde a falta de regulamentação conduz a preços elevadíssimos artificialmente justificados.
Não é socialista regular o mercado. Pelo contrário, é capitalista, e é uma manifestação de bom instinto de preservação: do próprio mercado.
Num bando de chimpanzés, se deixarmos, a besta mais forte, come tudo? No mercado humano, também.

Filipe Melo Sousa disse...

junq, "por defeito" é uma expressão que significa em português "por omissão". Um exemplo dessa expressão bem utilizada é quando se diz que se arredonda "por defeito", em vez de se arredondar "por excesso". Cuidado com os inglesismos.

"by defalut" = por definição

Mentat disse...

VExas cansaram-se a arranjar soluções para o Lavoura comer pão, mas eu continuo a achar que ele quer é comer croissants...
:)

Sem ter que trabalhar para os pagar tá claro...
.

João Pereira da Silva disse...

Filipe, não perdoa uma... hã?

Migas disse...

Aos obcecados com monopólios virtuais e com gente a morrer à fome porque ninguém lhes vende pão, ou porque o preço é demasiado alto:

São capazes de dar-me UM exemplo de um monopólio que não tenha sido obtido pela força coerciva do estado e que tenha criado alguma situação minimamente equivalente a "morrer à fome" onde quer que seja?

Miguel Duarte disse...

"E porque é que não é possível no mercado do pão?"

Sei lá se houver um mercado com apenas dois consumidores, se calhar ter uma padaria por consumidor é um bocado de mais. Ainda por cima dado que o Lavoura vai bater as botas. ;)

"São capazes de dar-me UM exemplo de um monopólio que não tenha sido obtido pela força coerciva do estado e que tenha criado alguma situação minimamente equivalente a "morrer à fome" onde quer que seja?"

Nisso tens toda a razão, a esmagadora maioria dos monopólios, são de uma forma ou outra culpa do Estado. Não tivesses empresas públicas, licenças e patentes, e provavelmente não terias quase nenhuns monopólios privados. Embora não sei se esse seja o caso do Lavoura. :P