2007/05/14

Isenção

Daniel Oliveira anunciou o seu afastamento de responsabilidades directivas no Bloco de Esquerda, remetendo-se voluntariamente à condição de militante de base. Se a decisão pessoal, por esse facto e nessa qualidade, está para além de crítica, as ilacções políticas que dela se podem tirar, quanto a mim , são significativas.

Segundo o próprio, o afastamento deve-se a uma vontade de clarificação e de separação de águas entre as suas funções de dirigente e responsável do Bloco, e o seu papel de polemista na blogosferea e na imprensa escrita e televisiva. No confronto entre a polémica e a participação activa na expansão daquele que se presume ser o seu projecto político, ganhou aparentemente a polémica.

Note-se que a justificação avançada não é de foro privado nem sequer sustentada numa eventual falta de tempo para manter os vários papéis que desempenhava. É uma vontade clara de se afastar das luzes da ribalta no que possa ser conotado com a vontade directiva do partido.

Pessoalmente, acho também que a crítica de Paulo Pinto Mascarenhas é certeira. Aliás, já há algum tempo tinha por aqui revelado curiosidade na extensão do patrocínio de Daniel Oliveira às tomadas de posição próximas do Bloco. Acho que toda a argumentação e justificação anunciada dizem muito.

Além de que, sinceramente, duvido muito das vantagens clarificativas anunciadas. Daniel Oliveira não pode já, por mera decisão administrativa, descartar-se do facto de ter sido o rosto do Bloco em muita da imprensa e o avançado-centro (salvo seja) da visibilidade pública da opinião ligada ao partido. Mantendo-se como militante, demonstra aliás que isso é para durar, e que não é um impecilho de consciência. A conotação é mais do que muita, e não vai ser por essa iniciativa que as pessoas se vão esquecer do seu papel ou a olhá-lo de maneira diferente.

Temos, afinal, somente mais um player com a isenção e o distanciamento ao nível de um Francisco Pinto Balsemão ou de um Pina Moura.

Mas este, é polemista.

3 comentários:

Miguel Madeira disse...

Penso que o receio do Daniel Oliveira não será tanto os leitores acharem que ele não é isento como "polemista", mas sobretudo o receio de julgarem que as posições dele (ou seja, serámais uma questão de mostrar que o BE é independente do Daniel Oliveira do que o contrário).

P.ex, o DO é contra o Chavez. Ora, no BE a ala moderada e a ala radical são contra o Chavez, mas o sector intermédio não tem posição definida - com o DO a assumir cargos directivos poderia ter receio que os leitores achassem que as suas opiniões são as do partido.

Ricardo G. Francisco disse...

Tambem me parece que a pressão veio do partido e não do público...

Paulo Pinto Mascarenhas disse...

A mim parece-me é que Daniel Oliveira foi derrotado no BE - ou melhor, sabe que as suas teses de aproximação ao poder, de um BE capaz de aliar-se para governar com o PS, vão ser derrotadas no próximo congresso. Isso e talvez um pouco de cansaço de aturar alguns dos Garcias que por lá andam.

cumprimentos,