2007/04/30

The Trial of Tony Blair


Serão bem passado televisivamente ontem na RTP1, com a apresentação do telefilme The Trial of Tony Blair, uma produção do Channel4 que relata um cenário futuro de um 2010 em que Tony Blair acaba a ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional pela sua intervenção no Iraque.

Para mim, teve muita, muita piada. Por várias razões, e em relação a vários pontos que achei muito bem conseguidos. Num regísto satírico e cáustico, impiedoso em relação a todas as personagens retratadas, mas evitando cair num discurso acéfalo anti-Bush (remetido à rehab e substituído por uma Hillary Clinton pronta a trilhar o "caminho da paz" aos olhos das sondagens) e Blair, e antes apontado em construir todo um retrato satírico da política britânica, da farsa do direito internacional e das relações do Reino Unido com o seu aliado trans-atlântico.

A principal vítima, sobretudo e naturalmente Blair, retratado como obcecado pelo seu "legado histórico", pela necessidade de perdão, e pelo desconforto da sua substituição por Brown nos destinos da nação. Um Blair com problemas financeiros, num escritório que não consegue pagar aguardando ansiosamente o telefonema do amigo ou da instituição estrangeira que lhe vai pegar e garantir o futuro, desesperado ao ver a sua biografia rejeitada pelo editor, se por mais motivos não fosse pelas suas 29 repetições da memória de ter sentido a "mão da História" no seu ombro.

Mas também um Brown "sem um pingo de carisma", que vive para o o seu némesis de pertido, remetido a uma maioria eleitoral irrisória de dois deputados (em muito com o patrocínio de Blair). Ou um Cameron folclórico e inconsequente, procurando a câmara e o grupo de interesse para que fala naquele dia, insensível ao ridículo a que se expõe.

O golpe de misericóridia? Uma chamada à embaixada dos EUA, onde é informado que nos próximos dias, por força das circunstâncias, vão ter que dizer umas coisas más dele. Mas que ele pode continuar certo de que vão continuar do lado dele. Ou a votação da instituição do tribunal internacional, no Conselho de Segurança, pela unanimidade dos votos, à excepção de um embaixador inglês remetido à casa de banho durante a votação. Ou já no fim, sendo identificado numa esquadra e insurgindo-se contra a recolha compulsiva do seu ADN, sendo lembrado pelo seu advogado que tal procedimento foi instituído por si próprio.

Para algo com os pressupostos de um telefilme, muito bem conseguido. E já agora a consagração da maneira muito especial de se ser britânico, da capacidade de rir com eles próprios e de sátira mais mordaz. Da impossibilidade de se ter um filme por cá, no mesmo registo, a satirizar com os nossos políticos de mesmo estatuto, produzido por um canal de serviço público de televisão. Sei lá. Por exemplo sobre a licenciatura do nosso primeiro.

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