Civilizações
De um lado, o fundamentalista islâmico palestiniano. Cofiando a barba, olha o seu interlocutor e imagina qual seria o padrão que o sangue do interlocutor faria na parede quando deflagrasse a bomba. Há que manter a calma. Afinal, há muita gente a ver e o fórum é grande. Que horas é que são, mesmo?
Do outro lado, o falcão israelita, de barbinha bem feita e olhar aquilino. Hirto, vai pensando em como o interlocutor já vai merecendo um "ataque selectivo", e que não devia andar para ali com aquela gentalha. Mas, the show must go on, e o argumento tem que se cumprir. Jeitosa, aquela intérprete.
Entretanto, entra o mediador, e senta-se à mesa entre os dois. Começa a falar. Um e outro lado, com enfado, colocam os auriculares da tradução simultânea. Que raio de língua é que aquele tipo fala?
Uma hora depois, termina a intervenção. Que o encontro é um marco histórico, que a tolerância se espelha naquela mesa, que os povos rejubilam com o exemplo dado de civilidade.
O palestiniano, enfadado, lembra-se que tem que ir dar um salto a Damasco. Os tempos que se antevêm são difíceis e mais vale prevenir. Além disso, é sempre bom estar com malta porreira.
O israelita, lembrando-se de algo, puxa do Moleskine. Anota que, quando sair, tem que ir falar com o amigo americano. O carregamento de armamento tarda e parece que ficou encravado por alguma decisão do Congresso. Se calhar, vai ter que ficar mais tempo para contactar as pessoas certas.
O moderador dá por terminada a sua introdução e, com olhos húmidos, passa a palavra aos participantes. Não sem antes apelar à serenidade.
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