A cauda da Europa
Não encontro nenhuma incompatibilidade entre exigir, na qualidade de primeiro-ministro, sacrifícios e rigor à população, se se entender que é a melhor forma de governar num dado momento, e ter uma vida pessoal marcada pela bandalheira e pelas coincidências lachistas.
Não vejo nenhum problema até em fazer um determinado conjunto de promessas eleitorais e agir, na governação, de forma oposta.
Acho natural que um político possa tentar tirar partido da sua posição relativa no mundo institucional, de forma a simplificar a sua existência no mundo real.
Relembro que este país elegeu Salazar (e logo a seguir Cunhal) num concurso de televisão, elegeu uma foragida à justiça para comandar um município, tem um partido anti-imigração e um terço da sua população a residir no exterior, teve dois primeiros-ministros que fugiram na hora do aperto, tem quase 70% da população disposta a trocar liberdade por segurança, e, como lembrava João Miranda, aplaudiu efusivamente, no mesmo programa, o discurso de Medina Carreira e o de Odete Santos.
Esta esquizofrenia produziu um estado burocrático e desorganizado, que consome metade da riqueza nacional, e que, por esse facto, produz uma inegável atracção aos gestores da fortuna alheia. Que por norma optam por esta via na ausência de habilidade para o desenvolvimento da própria.
Para além disso, a importância relativa de quem se alcandora à gestão pública, nestas condições, aumenta excessivamente, conduzindo às condutas e atitudes descritas nos primeiros parágrafos.
Por outro lado, existe uma espécie de acordo tácito eleito/eleitor onde se aceita a regra da mentirinha inocente, desde que não se toque no tachismo generalizado. Só assim se compreende que a esmagadora maioria dos portugueses vote e continue a votar em quem promete emprego sem trabalho; educação e saúde de borla; pensões, subsídios e rendimentos à inactividade.
Daí a razão de pensar que o affaire Sócrates é uma extensão da "Caras" ao mainstream mediático. Afinal, quem é que ainda não resolveu um problema com um "jeitinho"?
2 comentários:
Adoro essa teoria do " ele não é único", é que dá mesmo jeito. Cai sempre bem.
Até quando se matam milhões de judeus se pode dizer essa frase.
No caso de o caro anónimo mostrar alguma capacidade de compreensão da língua, eu prometo responder-lhe.
Tem mais uma oportunidade.
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