2007/03/28

República dos ignorantes

A intervenção pública dos engenheiros na questão da localização novo aeroporto de Lisboa suscita a questão de saber se entrámos na era do governo dos engenheiros. Na verdade, a questão da localização e dos custos e benefícios do aeroporto não é uma questão técnica (salvo se a localização estabelecida fosse tecnicamente inviável), mas política. E aí a competência dos engenheiros é a mesma que a de qualquer outro cidadão, sendo inadmissível a ingerência do bastonário da Ordem dos Engenheiros, nessa qualidade, na contestação da localização escolhida e na promoção de soluções alternativas.

Vital Moreira, na Causa Nossa (com negritos meus).
Das duas uma: ou subitamente os conhecimentos de investigação operacional, de decisão multi-critério ou mesmo os métodos de apoio à decisão saltaram dos curricula de engenharia (e de alguns de economia) para o domínio de "qualquer outro cidadão", desde a peixeira do Bolhão até ao guna da Areosa, ou então Vital Moreira está equivocado.

E equivocado porque confunde dois domínios de um problema. Um é o domínio técnico, da determinação e avaliação de locais potenciais de localização de acordo com critérios objectivos pré-definidos, de construção e avaliação de cenários económicos e de exploração, do risco a eles associado, tudo com vista a no final construir uma matriz de decisão que sintetise as opções encontradas e elimine as soluções dominadas do problema. Outro é o domínio do decisor que, partindo dessa matriz, assume o padrão de risco que está disposto a tomar e eventualmente assume critérios de ordem subjectiva em relação às múltiplas decisões a tomar.

Ou seja, a "questão da localização e dos custos e benefícios do aeroporto" é sem dúvida uma questão técnica, apesar de a decisão ser naturalmente de ordem política. Como é político decidir contrariando todo o estudo técnico ou pura e simplesmente ignorando todos os problemas técnicos da empreitada.

Mais ou menos o que está a acontecer.

A dúvida é se este é o comportamento de um decisor responsável. Mas claro que este o não é. Afinal, o dinheiro não é seu, e o risco pessoal é nulo.

2 comentários:

Anónimo disse...

O JLP (que tem toda a razão) tem que dar um bocado (grande) de "desconto" a Vital Moreira nesta questão. Quando os conimbricenses discutem um ponto que crêem ser interesse vital da sua cidade, ficam de tal maneira transtornados e obcecados que perdem toda a lógica e toda a razoabilidade. É o que neste caso ocorre. Vital Moreira crê que é do máximo interesse de Coimbra que o aeroporto fique o mais próximo possível de lá. Acha que seria uma inadmissível ofensa ao prestígio e à importância de Coimbra se o aeroporto ficasse alguns quilómetros mais longe, na outra margem do Tejo. E então fica transtornado, perde o tino, e desata a trocar políticos com técnicos, a vituperar que põe em causa a Ota, e etc.

Paciência

Luís Lavoura

JLP disse...

:-)

E eu que até acho que tenho em mim muito de conimbricence...