2007/03/28

Idiotas úteis

A central de energia solar fotovoltaica de Serpa, hoje inaugurada, vai receber um incentivo de 3,7 milhões de euros do PRIME – Programa de Incentivos à Modernização da Economia.

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Além do o incentivo do PRIME, a aposta na energia solar valeu aos promotores do empreendimento um incentivo por via da tarifa paga pela Energias de Portugal (EDP), que será de 32 cêntimos de euro por MW/hora. Este valor é cerca de quatro vezes mais o que é pago pelos distribuidores pela energia eólica, segundo Sérgio Costa, administrador da Catavento, parceiro português do projecto.

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Sobre o projecto, Pinho comentou que "é uma aposta com visão e ambição e é o resultado da capacidade dos nossos empresários".

Jornal de Negócios, por sugestão de Filipe Melo Sousa.
A notícia fala praticamente por si mesmo. Em nome do tema da moda, o estado prepara-se para dar o patrocínio (para além do "incentivo"), prometendo (num prazo que julgo é de 25 anos) pagar 4 vezes o preço actualmente em vigor por toda a energia que a nova central produzir nesse prazo.

Ou seja, mais uma vez com o alto patrocínio involuntário do contribuinte, vai-se estar a sustentar a viabilidade de um projecto por um quarto de século, pagando preços inflaccionados por energia vinda de uma tecnologia que provavelmente estará obsoleta em 5 anos.

Aliás, para isso, temos o exemplo dos parques eólicos. Existem neste momento em Portugal parques eólicos que foram financiados por períodos semelhantes, também obedecendo a princípios de obrigação de compra da energia a preços pré-definidos. Hoje, são relíquias obsoletas em nome dessas megalomanias e discursos simpáticos do passado, de projectos concebidos para um cliente estado amigo que gosta de aparecer nas notícias a qualquer preço, com prazos de 15, 20 ou 25 anos quando deveriam ter sido de 5 ou 6.

Ocupam alguns dos nossos bons recursos eólicos, que poderiam já hoje, à face dos progressos registados (e previsíveis face ao estado embrionário em que se encontrava a tecnologia), ser já eventualmente rentáveis comercialmente, longe de subsídios e de garantias de terceiros.

Mas, em nome do "ambiente", parece que muitos estão despostos a tudo. Nem que seja a deitar dinheiro e recursos para o lixo.

3 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

O mais grave, e é isso que gostaria de frisar mais uma vez, é o desperdídio coercivo, por intermédio do estado. É fácil ser um grande visionário, com o dinheiro dos outros, que para todos os efeitos não passa pelo orçamento do estado.

É uma cobardia a maneira como esta notícia foi ontem vendida nos noticiários, justificando o "investimento" em nome de uma "nobre causa", entrevistando os populares que muito vangloriaram a obra local, sem nenhuma noçao têm da viabilidade económica do projecto.

João Vaz disse...

Quanto é que custa o tratamento de uma doença pulmonar ? E um cancro ? E uma leucemia causada pela emissão de poluentes ? E for uma criança, vale mais ou menos ? Qunto é que pagam os contribuintes pela saúde ?
Os investimentos não podem ser medidos pela sua componente financeira, devem também ser avaliados pelas externalidades que causam.
Afirmar que a tecnologia dos paineís solares estará obsoleta, sem se explicar os porquês é uma afirmação gratuita e sem sentido. A tecnologia fotovoltaica avançou mais do que qualquer outra, passou de rendimentos de 15-20 % para os actuas 30-35%. As centrais a carvão continuam com eficiências de 35-30%, desde há décadas.

O problema continua a ser o reducionismo economicista. Tudo é visto só pelo aspecto monetário quantitaivo, ficando a nossa qualidade de vida pelo caminho...

Anónimo disse...

Caro João,

se fizer uma leitura atenta dos argumentos expostos, vai perceber que não está em causa o custo social da poluição: bem pelo contrário. Se eu defendo uma redução do seu impacto, a estratégia de sucesso é alocar recursos de maneira a que a sociedade consiga dar resposta. Sem as melhores capacidades de gestão isso é impossível.

Se existe uma tecnologia (como a eólica) que permita produzir energia sem impacto ambiental, e esta é bem mais barata que a energia produzido por células fotovoltaicas, não será preferível investir naquela que maximiza a probabilidade de sucesso?

Ao fechar os olhos, e dizer que o custo de um projecto é "um aspecto redutor", está a ignorar o esforço financeiro (que nada mais é do que uma porção da vida de cada um) necessário para por um projecto destes de pé.

Uma atitude autista, ignorante, e sim, muito redutora a sua. É o que dá falar do que não se percebe através de uma visão romântica e tola, sem sequer deitar as contas às alternativas.