2007/03/02

A pergunta que falta responder

Fazendo jus à sua tradição de matriz predominantemente católica, Portugal e as instituições portuguesas só parecem capazes de atingir níveis de excelência quando possuem um papa. Pelo contrário, quando os portugueses adoptam o modelo protestante da autoridade disseminada, os resultados raramente são impressionantes, senão mesmo, na generalidade, medíocres.
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Assim, nos últimos duzentos anos, o período de maior progresso económico e social em Portugal foi o do Estado Novo (tinha um papa).

Pedro Arroja, no Blasfémias.
Como poderão ver por alguns dos meus últimos artigos, tenho seguido com alguma curiosidade os recentes artigos de Pedro Arroja, e principalmente a "guerra" de argumentos que despontou com João Miranda.

Apesar de pessoalmente achar que a balança tem pendido claramente para o lado do João Miranda que tem, com o seu rigor argumentativo e com a honestidade intelectual a que nos habituou (e, honra lhe seja feita, a militância), desmontado e exposto os argumentos contrários e desse modo deixando pouca margem de manobra a uma eventual tese de Pedro Arroja, acho que há um esclarecimento que tarde ser avançado pelo último, como consequência lógica da sua cruzada argumentativa.

Quanto a mim, essa resposta e esse esclarecimento é o de se o modelo de autoridade, de organização económica e social e de prioridades do Estado Novo, a que ele parece reconhecer tanto mérito e resultados segundo ele tão eloquentes, é o modelo que ele vislumbraria para um futuro em Portugal, e se é a fórmula que defende (face aos méritos que lhe reconhece) que seja novamente aplicado ao nosso país. Se é próximo e de que forma o é do plano e do projecto político que ele gostaria de ver ser aplicado por um eventual movimento ou partido liberal em Portugal.

Acho que todos nós só poderiamos ganhar com a honestidade e com o esclarecimento de tornar consequente toda a análise que Pedro Arroja faz do passado. Afinal, permitiria a todos tomarem as suas conclusões, e ler as outras teses que enuncia e que venha a defender aos olhos do modelo que defende.

Fico portanto, da minha parte, à espera que decida tornar claro aquilo que somente se pode inferir actualmente das suas palavras.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não. O Pedro Arroja não vai tornar nada claro. Ele próprio não tem claridade na cabeça, portanto, nada tem para esclarecer.

O Pedro Arroja já não é um liberal. Foi-o. Mas, da forma como eu interpeto o seu pensamento, ele tem chegado à conclusão de que o liberalismo não funciona em Portugal, porque o povo é muito mal-comportado. Para le, o liberalismo é uma bonita teoria política, quando as pessoas se portam bem. Deve haver liberdade de abortar desde que não se aborte. Deve haver liberdade para as drogas desde que ninguém se queira drogar. Deve haver liberdade económica desde que com ela o país prospere. Mas nada disso se verifica na prática: o país não prospera, as pessoas drogam-se, as mulheres abortam. Por isso, a liberdade não funciona em Portugal. É isso, acho eu, que o Pedro Arroja pensa. Mas não tem coragem de o dizer com todas as letras, porque sabe que está a ser contraditório consigo mesmo.

Não conte, JLP, com o Pedro Arroja para liderar qualquer partido ou projeto político liberal em Portugal nos próximos tempos. Ele já não está em onda de liberalismo.

Luís Lavoura