2007/03/23

Entre os que o conheceram...

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Os estudos de opinião valem o que valem. Principalmente quando a amostra é tão reduzida como neste da marktest para determinar quem, na opinião dos portugueses, é o maior português de sempre entre os 10 escolhidos na primeira fase de votações do concurso da RTP . D. Afonso Henriques aparece em primeiro, como seria de esperar. Se a votação da RTP fosse representativa do país, seria certamente ele o vencedor. Para minha satisfação, Luís de Camões e Fernando Pessoa (a minha satisfação deriva mais deste segundo), surgem nos lugares seguintes.
Interessante é analisar a lista a partir deste ponto. Salazar aparece em quarto, quatro lugares acima de Cunhal o que, por si, demonstra duas coisas. Primeiro, é ilusório pensar que a provável vitória de Salazar no concurso da RTP se deve apenas ao trabalho dos senhores do PNR. Salazar tem uma base de admiradores, ou, mais ironicamente, eleitores, fiel. Segundo, se tomarmos a diferença entre a posição no concurso da RTP e a posição nesta sondagem, supostamente representativa, como indicador do nível de utilização de sistemas organizados de manipulação de votos no respectivo concurso, Cunhal parece ter uma máquina montada para a sua eleição muito superior à de Salazar. Nada de surpreendente, portanto.
Uma outra conclusão, menos politicamente correcta, advém da contagem dos votos das pessoas com mais de 65 anos: colocam Salazar em 1º lugar. Para aqueles que o conheceram, que sofreram das restrições à liberdade impostas pelo seu regime, Salazar é o maior português de sempre. Repito, entre os que o conheceram Salazar é o maior português de todos os tempos. Não me parece que o síndrome de Estocolmo explique tudo neste caso. Ou isto revela muito do país que temos, ou o Pedro Arroja tem razão.

19 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom!

Anónimo disse...

Também muitos dos habitantes da ex-URSS continuam a pensar que Estaline foi um grande governante.

É o tal ditado: "Atrás de mim virá quem bom me fará".

No outro dia, discutindo esta lista com a minha mulher, ela fez-me notar que, destes dez grandes portugueses, apenas um - Fernando Pessoa - não tirou os bofes a ninguém ao longo da sua vida. Todos os outros foram, de uma forma ou de outra, em maior ou em menor escala, assassinos.

Luís Lavoura

Anónimo disse...

O Pedro Arroja não tem razão, porque:

1) Durante mais de metade do tempo em que Salazar governou, o país escassamente saiu da cepa-torta;

2) O país saiu da cepa-torta nas décadas de 50 e 60 sem ser por obra de Salazar. Salazar dizia dele próprio que era "um rural", e era assim que ele queria que o país permanecesse: rural. Quem obrou a transição foi principalmente a emigração, que diminuiu a pressão opressiva do excesso de pessoas, e acabou com o mundo rural que Salazar sempre preconizou.

Luís Lavoura

Willespie disse...

Eu penso que as extrapolação do JLP e do Arroja são exageradas e descontextualizadas e avanço com uma mais simples.

Tendo em conta que foi a faixa etária mais velha e mais isolada (interior norte, donde eu sou) menos informada e que mais sofreu com o Estado Novo, foi a que votou fortemente em Salazar, o que o resultados demonstram é apenas a força e eficácia industrial dos mecanismos de "nationalist indoctrination" que existiam durante o Estado Novo. Quer da Igreja, quer da PIDE, quer das escolas e das lições do Salazar, et al.

É bom notar que a faixa etária mais nova foi a que menos votou nele.

Willespie disse...

*extrapolações... for all you nazi grammar freaks out there.

JLP disse...

"Eu penso que as extrapolação do JLP (...)"

Hum... Acho que é melhor confirmar a autoria do artigo!

Willespie disse...

Woops. Tens razão. My bad.

Carlos Guimarães Pinto disse...

O willespie em vez de tentar entender os resultados, chama velhos e ignorantes a quem escolhe salazar. Pode ser reconfortante pensar isso, mas não ajuda a clarificar nada.

JB disse...

Acho que o Tiago Mendes já explicou por que razão não devemos levar o concurso a sério.

Mesmo assim, não vejo por que razão a vitória do Salazar devesse dar razão ao Pedro Arroja em o que quer que fosse...

Nem a qualidade de um governante se mede pela sua popularidade (cfr. Hitler, Lenine, Fidel, Chávez), nem o Pedro Arroja conseguiu mostrar que Salazar foi um bom governante. Muito menos, um bom governante liberal.

Willespie disse...

Estou de acordo com o jb.

CGP não é uma questão de ser reconfortante ou não.

Obviamente não se pode generalizar, mas dizer que estas pessoas (de uma certa faixa etária e de certas zonas geográficas do país) não foram na sua infância e juventude em grande escala, produtos dos mecanismos de controlo ideológico do Estado Novo, seria mentira.

Willespie disse...

Alías, o facto de que o Estado Novo existiu e que hoje ainda fazemos face a algumas das suas consequências, não me reconforta em nada.

Carlos Guimarães Pinto disse...

Zé, a explicação que o tiago mendes deu aplica-se muito bem aos resultados do concurso mas não aos de uma sondagem que, à partida, será representativa. Ao contrário do PA, eu não coloco a questão de Salazar ter sido um bom governante no geral, ou de sequer ter sido um liberal (ideia que acho idiota). Apenas julgo ser possível que a nossa geração sobreestime os aspectos negativos da sua governação. E uma boa evidência disso, poderá ser o facto de ser entre aqueles que realmente viveram no seu tempo que a sua popularidade é maior.

Willespie,

"Obviamente não se pode generalizar, mas dizer que estas pessoas (de uma certa faixa etária e de certas zonas geográficas do país) não foram na sua infância e juventude em grande escala, produtos dos mecanismos de controlo ideológico do Estado Novo"

Quem te diz que tu não serás um produto dos mecanismos de controlo ideológico vigentes?

Willespie disse...

"Quem te diz que tu não serás um produto dos mecanismos de controlo ideológico vigentes?"

Ninguém. Aliás ninguém pode dar-se ao luxo de afirmar que não é de forma alguma e em nada, um produto do seu meio.

No entanto, eu estou convicto de que o meio actual em Portugal, permite que seja possível uma maior independencia intelectual do individuo, do que durante o Estado Novo.

Se é verdade que hoje possam ainda existir os mesmos meios de comunicação e de fazer chegar informação ao individuo, hoje não existe é a coerção e a sociedade em que as atitudes são suspeitas e os comportamentos vigiados e denunciados por bufos.

Anónimo disse...

Apenas julgo ser possível que a nossa geração sobreestime os aspectos negativos da sua governação. E uma boa evidência disso, poderá ser o facto de ser entre aqueles que realmente viveram no seu tempo que a sua popularidade é maior. - Carlos

É natural que quem viveu grande parte da sua vida em ditadura tenha dificuldade em habituar-se à democracia. Como seria difícil nós habituar-mo-nos agora a uma ditadura. É uma questão de "generation gap", de dificuldade de adaptação a um regime político novo e não propriamente uma questão muito intelectualizada pelos velhos que votam maioritariamente em Salazar. Conhecendo a minha avó, por exemplo, não me custa nada a perceber o saudosismo de quem viveu grande parte da vida sob uma ditadura e tem dificuldades em aceitar a desordem e falta de autoridade próprias da democracia. Não vejo, no entanto, em que é que isso deva mudar a opinião política de alguém sobre o Estado Novo..

Willespie disse...

Já agora faço questão de informar que a sondagem feita pela Eurosondagem, coloca Salazar em sétimo lugar.

http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/grandesportugueses/SondagemGrandesPortugueses.pdf

Para concluir colocando isto em perspectiva e mais uma vez apelando para que não exageremos nas extrapolações, também acrescento que o número total de votos que deram a 'vitória' a Salazar fora cerca de 86 mil.

JB disse...

Repito, entre os que o conheceram Salazar é o maior português de todos os tempos. Não me parece que o síndrome de Estocolmo explique tudo neste caso. Ou isto revela muito do país que temos, ou o Pedro Arroja tem razão. - Carlos

Na Eurosondagem parece que Salazar ficou em sétimo. O primeiro lugar neste concurso dever-se-á ao fenómeno do voto útil e à vontade de boicotar o programa.

JB disse...

Oops, não tinha visto o comentário do Willespie. Mea culpa, já tinha sido dito.

Carlos Guimarães Pinto disse...

JB, Willespie,

Qualquer resultado de sondagem acima do PNR é preocupante. Salvo erro, na sondagem da eurosondagem salazar teve 8%. 8%! é preocupante.

Willespie disse...

Para quem assumiu o poder e responsabilidade absoluta pelo destino do país durante 36 anos... bem pelo contrário, acho que é uma derrota estrondosa.