2007/03/15

A cartilha socialista em franca expansão

O transporte em mão, de e para Portugal, de somas em dinheiro iguais ou superiores a dez mil euros terão de ser declaradas no momento da entrada ou da saída do país, de acordo com um diploma [ontem] publicado.

Um decreto-lei do Ministério das Finanças e da Administração Pública, que entra em vigor a 15 de Junho, transpõe para a legislação portuguesa um regulamento comunitário que tem como objectivo controlar os montantes de dinheiro líquido que entram e saem da União Europeia através do território português, bem como controlar o mesmo tipo de movimentos com outros Estados-membros.

A declaração, cujo modelo ainda vai ser aprovado pelas Finanças, exige a indicação, entre outras, do proprietário e do destinatário do montante do dinheiro líquido — notas, moedas, cheques bancários e de viagem, bem como outros meios de pagamento ao portador, valores mobiliários titulados e ouro amoedado.

Têm também de ser declarados elementos referentes ao montante, natureza, proveniência e uso que se pretende dar ao dinheiro.

Público Última Hora.
Parece que afinal já não basta pagar os impostos que nos impõe e sujeitarmo-nos às sucessivas violações da privacidade e inversões do ónus a que somos, formalmente ou tacitamente, sujeitos como contribuintes. Parece que ainda temos, como crianças bem comportadas, que reportar ao papá o que vamos fazer com o nosso dinheiro, legitimante ganho e descontado das obrigações que nos foram impostas, como se de uma mesada do estado se tratasse.

Este governo europeu em crescendo, e afinal o nosso governo nacional, não conseguem conviver com a autonomia e a privacidade dos seus cidadãos. A perspectiva de que não têm nada a ver com onde e em quê eu gasto o meu dinheiro parece ser algo que escapa às cabeças pensantes reinantes. Não somos pessoas autónomas, mas sim propriedade dos estados nacionais, aos quais temos que prestar contas de qualquer mínimo movimento.

Naturalmente que as razões apresentadas serão previsíveis e herdeiras da tradição da cartilha argumentativa a que nos vamos habituando. Que se quer lutar contra o branqueamento de capitais, o tráfico de divisas, e outros argumentos bem falantes. Claro. Mesmo que para isso se tenha que passar por cima das mais básicas noções de liberdade individual e privacidade.

Mas como em todas as utilizações de argumentos politicamente correctos que nos vêem enfiando pela garganta abaixo, mais uma vez a explicação poderá ser bem prosaica. Afinal, quem há tantos anos está habituado ao saque, dificilmente poderá aceitar a revolta daqueles que queiram levar os seus recursos para onde sejam melhor tratados. Que, fartos da devassa e de serem tratados como criminosos, os contribuintes decidam meter a viola (e o resto) no saco, e ir investir para paragens mais soalheiras.

Ficamos a aguardar a proibição da circulação trans-fronteiriça de divisas acima de um determinado valor. Afinal, se os países com governos de inspiração marxista o fazem, porque é que os comunistas brancos de hoje em dia também não o farão?

13 comentários:

Mentat disse...

"Ficamos a aguardar a proibição da circulação trans-fronteiriça de divisas acima de um determinado valor."


Eu ainda sou desse tempo...

JLP disse...

:-D

Pois... Do tempo do grande crescimento económico muito cristão e autoritário!

Mentat disse...

"Que se quer lutar contra o branqueamento de capitais, o tráfico de divisas, e outros argumentos bem falantes."

Como, se quem se dedica a essa actividade, se importasse muito com esta nova regra...

Mas já há algum tempo, tenho reparado que a maior parte deste tipo de regulamentação se destina a garantir que os honestos são... honestos.

É como as cartas ameaçadoras que recebo da ASSOFT, exigindo-me que lhes envie uma listagem todo o software que tenho instalado na empresa.
Como, se eles soubessem sequer da minha existência, se o software não fosse todo legal e registado...
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Mentat disse...

"Pois... Do tempo do grande crescimento económico muito cristão e autoritário!"

Por acaso não.
Bolas, também não sou tão velho assim...
As restrições à saída de divisas de Portugal, só começaram depois do 25A74, (20 contos por adulto se bem me lembro).
No Estado Novo (que eu saiba) não havia essas restrições, excepto talvez à saída de divisas de Angola, depois do inicio da guerra colonial.
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JLP disse...

"Por acaso não.
Bolas, também não sou tão velho assim..."

:-)

Tenho ideia (mas não tenho a certeza) que havia restrições, mas por razões económicas diferentes: o facto de o escudo ser convertível.

Mentat disse...

"Tenho ideia (mas não tenho a certeza) que havia restrições, mas por razões económicas diferentes: o facto de o escudo ser convertível."

A ideia que eu tenho (mas também não tenho a certeza), é que não havia restrições nenhumas.
Aliás o que me lembro é que o Escudo na altura era como o Franco Suiço.
Muitos estrangeiros compravam escudos para se precaverem, aproveitando a baixa inflação e a estabilidade cambial.
Para além de que na altura vigorava o padrão ouro, e as nossas reservas ultrapassavam mais do que o necessario para garantir o valor facial da moeda.
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JLP disse...

Bretton Woods system
Pegged rate

A estabilidade monetária não era só um mérito do escudo, do dólar e da libra. Todo o sistema funcionava de modo a garantir essa estabilidade.

Claro que as contas relativamente arrumadas e as largas provisões de ouro que o Salazar foi granjeando eram importantes para credibilizar e dar peso à moeda no sistema.

A questão é que um sistema destes abre caminho a ataques especulativos às divisas, e é isso que me leva a crer que possa ter havido alguma forma de limitação à transferência para o exterior do país de capital.

Peço ajuda aos economistas da casa! :-)

Mentat disse...

"Pois... Do tempo do grande crescimento económico muito cristão e autoritário!"

Caro JLP

Eu já percebi que anda de "candeias avessas" com o PA, mas olhe que reconher a superioridade em termos de desenvolvimento económico do Estado Novo não significa que se incense esse tipo de regime.
Aliás, se já estivessemos numa Democracia Adulta, esse eventual "sucesso" deveria ser estudado e não negado, por forma a poder reproduzi-lo mas em Liberdade e Democracia.
Assim, nunca mais saímos da "cepa torta"...
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Mentat disse...

Eu reconheço que os Soviéticos, tendo em atenção os meios, tiveram muito mais sucesso no desenvolvimento da tecnologia dos foguetões do que os EUA.
Isso, não se traduz em nenhuma simpatia minha pelo comunismo.
É apenas o reconhecimento dum facto.
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JLP disse...

"Eu já percebi que anda de "candeias avessas" com o PA, mas olhe que reconher a superioridade em termos de desenvolvimento económico do Estado Novo não significa que se incense esse tipo de regime."

Eu já escrevi por cá a minha opinião em relação ao progresso económico na altura do Salazar.

Não tenho qualquer problema em aceitar que o Estado Novo coincidiu com um bom progresso económico do país. Já me custa mais a aceitar a correlação entre os dois factos, ou seja, os particulares méritos deste nesse crescimento económico. E principalmente, nos méritos liberais das escolhas tomadas.

A minha tese é que, no estado absolutamente calamitoso em que se encontrava a economia portuguesa quando Salazar chegou ao poder, ou seja, praticamente partindo do zero, qualquer pessoa com dois palmos de testa e que consiga garantir um minimo de ordem e de funcionamento do Estado de Direito ira ter crescimentos substanciais da economia, mesmo que faça grandes asneiras no resto. Afinal, veja-se o exemplo do Iraque, que no estado em que está consegue ter o crescimento económico que tem, mesmo que isso queira dizer que esta na prática foi equivalente a acabarem o ano com duas carcaças ao invés de uma!

Já numa economia madura, a coisa fia mais fino. Qualquer incremento mínimo do crescimento já passa a ser fruto de políticas complexas, e a interferência da generalidade das escolhas políticas é determinante. E numa situação dessas, que é no fundo o que temos, duvido que os "métodos económicos" do Estado Novo nos levassem a algum lado...

Mentat disse...

"...qualquer pessoa com dois palmos de testa e que consiga garantir um minimo de ordem e de funcionamento do Estado de Direito ira ter crescimentos substanciais da economia,..."

Só que essa pessoa chama-se António de Oliveira Salazar.

Como a pessoa que terminou o PREC e conduziu o País à Democracia Plena chama-se Ramalho Eanes.

Como a pessoa que melhor soube aproveitar os fluxos provenientes da CEE chama-se Anibal Cavaco Silva.

Não simpatizo com nenhum deles e do primeiro mal me lembro, mas não me caem os parentes na lama por lhes reconhecer os méritos.
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Mentat disse...

"E numa situação dessas, que é no fundo o que temos, duvido que os "métodos económicos" do Estado Novo nos levassem a algum lado..."

Caro JLP

Você ainda tem dúvidas, eu tenho a certeza que não nos levaria a nenhum lado particularmente agradavel.
Mas olhe que salvaguardando as diferenças esse "métodos" não diferem muito dos que actualmente a China aplica.
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JLP disse...

"Você ainda tem dúvidas, eu tenho a certeza que não nos levaria a nenhum lado particularmente agradavel."

Estava a ser eufemístico... ;-)