2007/02/01

Em estabelecimento de saúde legalmente autorizado II

Se fosse certo que, a ganhar o SIM, os abortos passassem a ser feitos gratuitamente nos hospitais públicos, porque haveriam de estar as clínicas espanholas de abortos a planear a abertura de instalações em Portugal?

7 comentários:

Insano disse...

2 Versões:

- Os espanhois estão tão ricos (como 50% do povo português gosta de desdenhar..) que apetece-lhes perder dinheiro...

- Sonharam que o SNS lusitano cada vez mais corta nos apoios, que o mercado dos seguros de saúde privado em Portugal tem crescido e como tal numa ilusão completa viram uma oportunidade negócio..

Mas isto sou eu que sou maluco...

JLP disse...

A questão não é quem presta o serviço. É quem paga a factura.

Ora, face ao aumento brutal de pedidos de aborto que vão chegar aos hospitais públicos, à espectável dificuldade destes em dar vazão aos pedidos e em cumprir o prazo legal, é previsível que o que vá ser implementado seja um financiamento dos abortos pelo SNS, mesmo que estes sejam praticados num privado, à semelhança do que se vai implementando para a generalidade dos doentes em lista de espera, cuja espera exceda um determinado prazo.

Daí se compreenderá o interesse das clinicas espanholas em se sediarem em Portugal. Seria curioso era saber que género de garantias lhes foram oferecidas pela administração pública, de modo a que tenham optado já, ainda antes do referendo ter chegado a um resultado, por tomar essa iniciativa e esse "risco".

Anónimo disse...

Ora, face ao aumento brutal de pedidos de aborto que vão chegar aos hospitais públicos, à espectável dificuldade destes em dar vazão aos pedidos e em cumprir o prazo legal, é previsível que o que vá ser implementado seja um financiamento dos abortos pelo SNS, mesmo que estes sejam praticados num privado, à semelhança do que se vai implementando para a generalidade dos doentes em lista de espera, cuja espera exceda um determinado prazo. - JLP

Duvido que elas corressem o risco de serem pagas exclusivamente pelo Estado. João, toda a gente sabe que o Estado paga mal, ou seja, paga, quando paga, com meses de atraso. Só se instala cá em Portugal um clínica do género se se pensar que o negócio será lucrativo. E o negócio só será lucrativo se os potenciais clientes pagarem a tempo e horas.

JLP disse...

Zé,

"João, toda a gente sabe que o Estado paga mal, ou seja, paga, quando paga, com meses de atraso."

E se mesmo assim soubesses os que se "pelam" para serem convencionados com, por exemplo, o ADSE.

Seguindo esse juízo, há muito que ninguém fazia negócios com o estado. A começar, por exemplo, pelas farmácias em relação às comparticipações.

Há muito que o mercado reagiu e se adaptou a essa realidade. Passou a inflaccionar os preços para acautelar esses atrasos.

Não me parece que neste caso vá ser muito diferente.

Anónimo disse...

"Seria curioso era saber que género de garantias lhes foram oferecidas pela administração pública"

Não precisam de garantias nenhumas. A lei portuguesa é praticamente igual à espanhola, logo, podem fazer-se abortos cá como se fazem lá. Basta que haja médicos colaborantes, que aceitem assinar um papel dizendo que a mulher sofrerá graves perturbações psicológicas se levar a gravidez por diante. É assim que se faz em Espanha.

A lei em Portugal não tem sido utilizada da forma que o tem sido em Espanha, apenas porque as mentalidades são diferentes e, em particular, porque os médicos boicotam a coisa.

As clínicas espanholas podem perfeitamente instalar-se cá e, utilizando psiquiatras espanhóis, fazer cá a coisa como ela lá é feita.

Desde que a Ordem dos Médicos dê autorização a esses psiquiatras espanhóis para fazerem o serviço cá, claro.

Portanto, a única garantia que os espanhóis precisam é que o governo porá a Ordem dos Médicos na ordem - coisa que de qualquer forma é precisa, por muitos outros motivos.

Luś Lavoura

JLP disse...

"Não precisam de garantias nenhumas."

A melhor garantia que pode ser dada não é que a lei se aplica como em Espanha. Uma vez que a lei ainda será menos restritiva do que a espanhola, a garantia será que o estado vai pagar, e quanto vai pagar.

Anónimo disse...

JLP,

não. As clínicas espanholas em Portugal têm clientela garantida: aquela que hoje vai a Espanha. Mesmo sem que o Estado pague um chavo, já hoje milhares de portuguesas vão abortar a Espanha, e é evidente que, mal abra uma clínica em Lisboa, elas passarão a vir abortar a Lisboa. Mesmo sem que o Estado pague nada.

Estima-se que em Portugal se façam 20.000 abortos por ano. Com as mulheres a pagá-los. Mal abra uma clínica em Lisboa onde esses abortos possam ser feitos em segurança e com cobertura legal - mesmo que essa cobertura seja dada pela atual lei, devidamente re-interpretada - boa parte desses abortos passará a ser feita em Lisboa. Com as mulheres a pagá-los, como atualmente.

As mulheres já hoje pagam os abortos. Logo, o Estado não precisa de dar nenhuma garantia nesse sentido.

Luís Lavoura