2007/02/26

Demolidor

Nas palavras do José Barros na respectiva caixa de comentários, temos CAA vintage (demonstrando não ter acumulado sequelas das más companhias) no Blasfémias:

E depois, em Portugal, não há «direita liberal». Há, sim, meia-dúzia de bem intencionados (entre os quais, também, me incluo), carregadinhos de wishful thinking, mais ou menos inconsequentes e desejosos que essa miragem se possa concretizar. Mas estão, inapelavelmente, perdidos num imenso mar de conservadores imobilistas, proteccionistas e, para meu próprio espanto recente, de salazaristas mal camuflados - como se pode ver numa breve passagem pelas discussões de alguns blogues nacionais que gostam de se auto-intitular de "liberais", por exemplo, muito infelizmente, no Blasfémias.

Mas o que me parece bastante mais indesculpável é Henrique Raposo depositar toda a sua confiança na fundação da «direita liberal» em alguém como Paulo Portas - aliás, insuportavelmente idolatrado em todo o texto.
O Paulo Portas de que agora, sebasticamente, se diz que vai "regressar", não renasceu politicamente de geração espontânea - é o mesmo que foi ministro e vice-primeiro-ministro de um governo de que Barroso fazia gáudio em dizer "que não tinha nenhum liberal entre os seus membros". É o mesmo Paulo Portas que verberou o liberalismo e os seus princípios até mais não, garantindo, a propósito, que "Aveiro não é Chicago e Portugal não é os Estados Unidos" (?!). É o mesmo Paulo Portas que desmentiu o liberalismo em todas as acções do seu governo durante três anos e meio.
Sinceramente, também fiquei particularmente surpreendido com as afirmações de Henrique Raposo, alguém por quem nutro bastante respeito intelectual, nomeadamente no que toca ao elogio descabido de Paulo Portas, elevado subitamente ao cargo de D. Sebastião do "liberalismo conservador".

Sinceramente, não o tomo por um ingénuo, e principalmente não o tomo como alguém que seja incapaz de ler das entrelinhas do discurso (recente) de Portas as suas verdadeiras intenções e, principalmente, a sua estratégia. Também não julgo que engrossa o rol dos desesperados que acham que qualquer coisa em prol do liberalismo é melhor que nada. Não seria desse modo compreensível um discurso tão subitamente apaixonado.

Os únicos que, julgo, poderão ser iludidos pela súbita encarnação liberal (ungida no templo do liberalismo) de Portas, e que poderão ser desculpados, são os que não têm memória. A esses perdoa-se o não se lembrarem o que saiu da boca do referido (ainda na versão de dentes anterior), em tempos ainda não muito idos. Ou então, quando muito, os desatentos, que não ouvem as suas respostas quando é apertado em assuntos que colocam um verdadeiro liberal em posição de ter que dizer coisas que não agradariam a muitos.

Infelizmente, o liberalismo está, também pela sua praticamente inexistência no campo político português, a saque. Enquanto os seus sinceros apoiantes e defensores não se decidem e avançam, outros investem na conquista de um segmento de mercado político apetitoso, muito provavelmente de uma maneira que comprometerá de uma vez por todas a credibilidade de uma opção liberal.

Mas a mim, pelo menos, não me comem por parvo.

4 comentários:

Anónimo disse...

"a mim, pelo menos, não me comem por parvo"

falta de modéstia

Anónimo disse...

"o liberalismo está [...] a saque"

Quem tal escreve só pode ser o verdadeiro, o genuíno, o autêntico, o irredutível liberal. Todos os outros, os que com ele não concordam, estão a saquear o liberalismo.

JLP disse...

"falta de modéstia"

Meu caro anónimo,

Como compreenderá, eu só posso falar por mim. Cada um comerá o que quiser, ou deixar-se-à comer, em total liberdade.

JLP disse...

"Quem tal escreve só pode ser o verdadeiro, o genuíno, o autêntico, o irredutível liberal. Todos os outros, os que com ele não concordam, estão a saquear o liberalismo."

O caro anónimo é do grupo dos sem memória ou dos desatentos? Ou dos saqueadores?