O regabofe vai voltar

É essa a razão que me leva a fazer aqui hoje um anúncio importante, que vai marcar as prioridades das políticas públicas em Portugal. Na aplicação dos fundos comunitários para o período 2007-2013 o Governo decidiu reforçar as verbas destinadas à qualificação dos recursos humanos. Assim, o próximo Quadro de Referência Estratégico Nacional fará aumentar em 10 pontos a percentagem das verbas do Fundo Social Europeu no conjunto dos fundos estruturais - Fundo Social Europeu mais FEDER - passando de apenas 26,5% do actual Quadro Comunitário para 37% no próximo. Isso significa que nos próximos anos as áreas da educação, da formação e da ciência terão mais 1300 milhões de euros do que tiveram no Quadro Comunitário anterior, passando de 4700 para 6 mil milhões de euros.

[...]

Mas a formação passará, também, a ser mais exigente. Dou apenas três exemplos:

Em primeiro lugar, no próximo QREN não será financiada qualquer formação para jovens que não seja de dupla certificação, isto é, que não assegure, em simultâneo, um nível escolar (9.º ou 12.º) e um nível profissional.

[...]

Em terceiro lugar, será levada a cabo uma profunda reforma do sistema de avaliação e qualidade das instituições, e proceder-se-á à concentração dos recursos financeiros nas mais capacitadas e nas mais próximas das empresas e dos sectores mais modernos e competitivos.

Discurso do Estado da Nação do Primeiro Ministro, com negritos meus.

Todos estarão lembrados dos tempos em que, no auge da governação laranja, proliferavam por todo o lado centros de formação profissional, em que em troca de alguns trocados os desocupados se entretinham em formações de Word e de AutoCAD. Qualquer fabriqueta no local mais recondito conseguia criar no armazém o seu Centro, o dinheiro das europas corria a rodos e empresas, formadores e alunos estavam todos satisfeitos. Terá sido talvez o culminar do despontar de novo-riquismos e o pico da aquisição de Ferraris no Vale do Ave.

Foi preciso começarem a chegar a público os escândalos (pela letra do na altura relevante e imprescindível O Independente), ainda hoje perdidos pelos tribunais e já oportunamente quase plenamente prescritos, para que o regabofe e a bandalheira tivessem que chegar ao fim.

Contudo, parece que o sistema vai poder acordar outra vez do seu estado de dormência. O Word e o AutoCAD mudaram entretanto para a versão 2007, mas o esquema não se prevê que seja muito diferente. A diferença, eventualmente, é que agora passaremos ao invés de bonitos certificados de cursos de formação a ter alunos com o 12º e formação em Word ou em AutoCAD. Só vai ser preciso montar uma máquina com mais formadores, mas também naturalmente recebendo a instituição mais dinheiro, a prestar cursos politicamente correctos da versão da altura do plano tecnológico do governo.

Ou alguém pensa que as instituições envolvidas na época não seriam outra vez hoje rapidamente das "mais capacitadas e (...) mais próximas das empresas e dos sectores mais modernos e competitivos"?