Será o liberalismo possivel?
"Ao vazio decorrente da falta de pessoas que possam protagonizar um projecto liberal, acresce a possibilidade de o discurso liberal, enquanto discurso político, não corporizado num projecto e em pessoas que o representem, se transformar numa amálgama de ideias feitas, de clichés mal percebidos e inconscientemente reproduzidos por quem pensa o contrário daquilo que tal discurso pressupôe e exige. O perigo de corrupção não é despiciendo se entendermos que a blogosfera contribuiu para fazer do liberalismo o discurso da moda em certos meios e que, como tal, nem todos os que se deixam encantar pelas ideias liberais dominam o seu significado e implicações. Por outro lado, dada a infiltração recente do discurso liberal na sociedade civil, é certo que haverá sempre a tentação política de manipuladores experimentados nos partidos de poder assumirem o discurso com reserva mental, procurando ganhar os dividendos da sua popularidade sem terem o ónus de defender ou aplicar as medidas desagradáveis que ele exigirá.Assim sendo, resta aos liberais portugueses abandonarem as ideias que impedem a existência neste momento de um partido liberal em Portugal, a saber:1) a ideia de que um partido liberal é uma contradição nos termos, pelo facto de o liberalismo ser supostamente incompatível com o exercício do poder;2) a ideia de que algum dos partidos do regime - PP ou PSD - poderá corporizar um projecto liberal, quando neles faltam pessoas com qualidades pessoais e políticas para o fazerem e e quando existe o real perigo de corrupção das ideias liberais por quem, nesses partidos, assuma com reserva mental tal discurso.(...)"
José Barros
"Existem boas razões para a criação de um partido liberal em Portugal- Possibilita mais coerência de discurso, de motivações e de paradigma. Possibilita ser mais ousado, reformar os discursos de forma descomplexada, criar uma estrutura partidária mais orientada para o futuro. Permite aparecer de "cara lavada", sem passados políticos, sem compromissos e sem favores. Pode buscar apoios nas "famílias" liberais europeias que não têm correspondente em Portugal. Por outro lado, exige muito mais disponibilidade, e obriga a uma travessia do deserto que pode ser desmotivante - risco de desistência dos membros é considerável e só funciona no longo prazo. Nesse sentido é mais lógico seguir o trilho da JP usando os intelectuais infiltrados nas estruturas partidárias que forcem soluções de compromisso de pendor liberal. No entanto, será necessário ter este tipo de intelectuais no PSD e no PS ou seja, nos partidos de governação. Seja como for, acho que existe muito boa massa cinzenta em Portugal a este nível e tem a vantagem de ser toda ela bastante jovem. Não tenho dúvidas que esta geração "blogoesférica" se estiver organizada pode deixar a sua marca no país. Há muito tempo que se discute mais e melhor nestes blogs do que na AR."
Francisco Miguel Pires
"(...)Sobre o tempo...às vezes é necessário as coisas ficarem mesmo muito más para começarem a melhorar. "
Ricardo
Algum dos meus colegas quer comentar esta última?
3 comentários:
Uma vez que é só pedido comentário à última (o resto segue na proveniência!)... ;)
Como sabes, também sou partidário dessa tese. Essencialmente por duas razões:
1)
O actual espectro partidário tem que bater no fundo. Até as pessoas começarem a refletir nas urnas (quer pelo voto, quer pela abstenção) que deixaram de acreditar de vez na comandita que os governa há décadas, e até verem que a eterna troca de poder entre o PS e o PSD só conduz a uma espiral de destruição da sua liberdade e propriedade é que a "coisa" chega lá. O melhor motor para esse despertar é a previsível falência generalizada do estado. E não é a integração europeia que nos salva. No dia em que formos expulsos do Euro, pode ser que seja o primeiro passo.
Nessa altura, ou os liberais avançam, ou avançam os totalitários.
2)
A perspectiva de avanço em direcção a um modelo liberal tem que passar, quanto a mim, por uma nova Constituição. Com o nosso presente Tribunal Constitucional de tendência claramente de esquerda, com os pareceres e pontos de vista dos constitucionalistas da actual CRP, e com o próprio texto da CRP que se imiscuie em todo e qualquer ponto da acção governativa, qualquer governo liberal ou de participação liberal que quisesse fazer reformas perderia mais tempo em questões administrativas de luta contra a CRP do que contra os cidadãos. Como tal, sem se atingir uma deterioração "suficiente" do estado e dos partidos que force um novo processo constituinte, uma agenda liberal teria grande dificuldade em prosseguir.
excelente post.
Eu acrescentaria um 3º cenário aos do JLP (falencia generalizada / totalitarismos): a progressiva liberalização do sistema, metade forçada (e.g. CPE, Seg Social) metade entendida como correcto. Pela degradação não será, já que é a própria degradação que aliemnta o status, bastando para isso uns qtos oportunistas e uma qtas palavras de ordem normalmente envolvendo as palavras "interesses económicos".
O segundo grande problema é como se conta o liberalismo. E aí os blogosféricos fazem um excelente trabalho de repulsa, mantendo-se na sua quintinha sem se chatearem muito com a adequação do discurso a quem não se quer chatear (com muita legitimidade) com teorias sociológicas elaboradas.
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