2006/05/12

Será o liberalismo possivel?

"Ao vazio decorrente da falta de pessoas que possam protagonizar um projecto liberal, acresce a possibilidade de o discurso liberal, enquanto discurso político, não corporizado num projecto e em pessoas que o representem, se transformar numa amálgama de ideias feitas, de clichés mal percebidos e inconscientemente reproduzidos por quem pensa o contrário daquilo que tal discurso pressupôe e exige. O perigo de corrupção não é despiciendo se entendermos que a blogosfera contribuiu para fazer do liberalismo o discurso da moda em certos meios e que, como tal, nem todos os que se deixam encantar pelas ideias liberais dominam o seu significado e implicações. Por outro lado, dada a infiltração recente do discurso liberal na sociedade civil, é certo que haverá sempre a tentação política de manipuladores experimentados nos partidos de poder assumirem o discurso com reserva mental, procurando ganhar os dividendos da sua popularidade sem terem o ónus de defender ou aplicar as medidas desagradáveis que ele exigirá.Assim sendo, resta aos liberais portugueses abandonarem as ideias que impedem a existência neste momento de um partido liberal em Portugal, a saber:1) a ideia de que um partido liberal é uma contradição nos termos, pelo facto de o liberalismo ser supostamente incompatível com o exercício do poder;2) a ideia de que algum dos partidos do regime - PP ou PSD - poderá corporizar um projecto liberal, quando neles faltam pessoas com qualidades pessoais e políticas para o fazerem e e quando existe o real perigo de corrupção das ideias liberais por quem, nesses partidos, assuma com reserva mental tal discurso.(...)"
José Barros

"Existem boas razões para a criação de um partido liberal em Portugal- Possibilita mais coerência de discurso, de motivações e de paradigma. Possibilita ser mais ousado, reformar os discursos de forma descomplexada, criar uma estrutura partidária mais orientada para o futuro. Permite aparecer de "cara lavada", sem passados políticos, sem compromissos e sem favores. Pode buscar apoios nas "famílias" liberais europeias que não têm correspondente em Portugal. Por outro lado, exige muito mais disponibilidade, e obriga a uma travessia do deserto que pode ser desmotivante - risco de desistência dos membros é considerável e só funciona no longo prazo. Nesse sentido é mais lógico seguir o trilho da JP usando os intelectuais infiltrados nas estruturas partidárias que forcem soluções de compromisso de pendor liberal. No entanto, será necessário ter este tipo de intelectuais no PSD e no PS ou seja, nos partidos de governação. Seja como for, acho que existe muito boa massa cinzenta em Portugal a este nível e tem a vantagem de ser toda ela bastante jovem. Não tenho dúvidas que esta geração "blogoesférica" se estiver organizada pode deixar a sua marca no país. Há muito tempo que se discute mais e melhor nestes blogs do que na AR."
Francisco Miguel Pires

"(...)Sobre o tempo...às vezes é necessário as coisas ficarem mesmo muito más para começarem a melhorar. "
Ricardo

Algum dos meus colegas quer comentar esta última?

3 comentários:

JLP disse...

Uma vez que é só pedido comentário à última (o resto segue na proveniência!)... ;)

Como sabes, também sou partidário dessa tese. Essencialmente por duas razões:

1)

O actual espectro partidário tem que bater no fundo. Até as pessoas começarem a refletir nas urnas (quer pelo voto, quer pela abstenção) que deixaram de acreditar de vez na comandita que os governa há décadas, e até verem que a eterna troca de poder entre o PS e o PSD só conduz a uma espiral de destruição da sua liberdade e propriedade é que a "coisa" chega lá. O melhor motor para esse despertar é a previsível falência generalizada do estado. E não é a integração europeia que nos salva. No dia em que formos expulsos do Euro, pode ser que seja o primeiro passo.

Nessa altura, ou os liberais avançam, ou avançam os totalitários.

2)

A perspectiva de avanço em direcção a um modelo liberal tem que passar, quanto a mim, por uma nova Constituição. Com o nosso presente Tribunal Constitucional de tendência claramente de esquerda, com os pareceres e pontos de vista dos constitucionalistas da actual CRP, e com o próprio texto da CRP que se imiscuie em todo e qualquer ponto da acção governativa, qualquer governo liberal ou de participação liberal que quisesse fazer reformas perderia mais tempo em questões administrativas de luta contra a CRP do que contra os cidadãos. Como tal, sem se atingir uma deterioração "suficiente" do estado e dos partidos que force um novo processo constituinte, uma agenda liberal teria grande dificuldade em prosseguir.

Vítor Jesus disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Vítor Jesus disse...

excelente post.

Eu acrescentaria um 3º cenário aos do JLP (falencia generalizada / totalitarismos): a progressiva liberalização do sistema, metade forçada (e.g. CPE, Seg Social) metade entendida como correcto. Pela degradação não será, já que é a própria degradação que aliemnta o status, bastando para isso uns qtos oportunistas e uma qtas palavras de ordem normalmente envolvendo as palavras "interesses económicos".

O segundo grande problema é como se conta o liberalismo. E aí os blogosféricos fazem um excelente trabalho de repulsa, mantendo-se na sua quintinha sem se chatearem muito com a adequação do discurso a quem não se quer chatear (com muita legitimidade) com teorias sociológicas elaboradas.