2006/05/14

O suporífero do povo



Desde pequeno que me habituei a conviver com a relutância do meu pai em pagar despesas, por mais pequenas que fossem, em dinheiro. A opção pelo pagamento em cheque, viria a saber, era a maneira de minorar o sofrimento de ver partir as notas arduamente ganhas. Era uma espécie de colírio e de analgésico da dor de ver partir o dinheirinho. A assinatura e o preencher dos zeros num cheque era a maneira suave de distanciar o pagamento da perda de capital.

O nosso estado, à sua maneira, faz-nos a todos uma coisa sem dúvida semelhante. Ao estabelecer a retenção na fonte como mecanismo de acção da máquina tributária, em impostos e segurança social, foi a maneira inteligente e subtil de o estado sedar os contribuintes, e transformá-los em cordeirinhos ao serviço da máquina fiscal. Os portugueses foram convenientemente amestrados a receberem o fruto do seu trabalho já descontado das suas obrigações sociais, de maneira indolor e sem a possibilidade sequer de porem as mãos na plenitude dos rendimentos que tinham direito e de terem ideia de quanto lhes sai do bolso para alimentar o Estado Social.

Foram também habituados a ver as devoluções dos excessos tributários do estado quase com uma humildade subserviente de quem recebe uma prenda que o estado se lhes digna "oferecer", num momento de solidariedade e simpatia semelhante aos bodos dados aos pobres pelos antigos monarcas absolutos. Não em vê-lo como dinheiro que lhes foi sonegado e que o estado a muito custo se vê obrigado a lhe devolver, com a compensação que o "criminoso" acha apropriada.

Será de questionar que, se o dinheiro tivesse que sair do bolso em pagamentos singulares, se manteria a passividade e a bonomia de quem paga a factura dos desvarios do estado. Se as notas saíssem do bolso, se se manteria por muito tempo a actual extorsão institucionalizada.

Também será de perguntar que efeito teria na economia permitir que esse capital que é abusivamente retido, frequentemente em excesso, circulasse livremente até ao momento do pagamento do imposto, bem como o benefício que os contribuintes poderiam obter se pudessem gerir esse excesso em Liberdade e em aplicações financeiras à sua escolha, não sujeitos à esmola do estado.

1 comentário:

AA disse...

Plenamente de acordo...